Possível azul, performance de Ingrid Lemos
Esta performance vem do gesto de tecer o espaço com um fio azul e brincar com a virtuosidade simbólica da água. Giro meu corpo em 360 graus numa quinta-feira de verão carioca, lidando com a crise hídrica, com as tantas faltas de água, e com a geosmina do rio Guandu que para nas torneiras.
Proponho uma ativação do espaço entre um rio morto e um aqueduto desativado no bairro da Colônia em Jacarepaguá — esse curso de água que serviu como transporte no séc. XIX e como canal que abastecia o Engenho Nossa Senhora dos Remédios nessa mesma localidade. Realizo um resgate de memória do tempo em que os rios eram um recurso acolhido em consonância com a mobilidade do corpo.
Desenrolo um carretel de linha azul que se arremessa no espaço através do meu movimento de lançar. Ele gera registros no chão e reafirma híbridas espacialidades e territorialidades temporárias e aquosas no Sertão Carioca — assim denominado por Armando Magalhães Corrêa-, revelando o espaço geográfico de Jacarepaguá, que em tupi significa “lagoa de jacarés”. Não existem mais rios, no sentido ecológico, na baixada geográfica de Jacarepaguá. Mas corpo e linha, num emaranhamento cartográfico do meu sonho de hidrografia, tramam rios para o mundo.
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