A história do Setor de Tecnologia da TOTVS

Ricardo Mansano Godoi
TOTVS Developers
Published in
6 min readJan 29, 2018

Em um churrasco recente entre amigos, fui questionado pelo filho de um deles, aluno do 2º ano de Análise:

“Você está me dizendo que é do setor de tecnologia da TOTVS, mas por que? Se tudo relativo à informática é de TI?”

Confesso que levei uns 5 segundos para recobrar a consciência, então respirei fundo e contei a história que segue, obviamente sem os detalhes ou teria estragado o churrasco de todos.

Senta que lá vem a história

E no início Deus fez o Clipper… Brincadeira.

Em 1995 ficou evidente que a Microsiga tinha uma missão nada simples, converter milhões de linhas de código do Clipper para alguma linguagem compatível com o modelo do então “mundo Windows”.

Neste meio tempo houve o lançamento do Top Connect, atual DBAccess, que permitia acessar dados de um banco relacional através de comandos ISAM, uma grande evolução para época, e que mudou a maneira como a Microsiga lidava com as informações.

Voltando ao código devemos lembrar que converter um aplicativo é apenas parte do processo, você tem que pensar em manter a usabilidade, ou terá que re-treinar seus usuários, e também tem que reprogramar toda sua camada de testes, dois passos muito caros e demorados, tanto para empresa quanto para os clientes.

Numa primeira iniciativa tentou-se usar o Visual Objects, da mesma fabricante do Clipper, mas a ferramenta era complicada e o resultado final duvidoso.

Migrou-se então o ERP para o FiveWin, que permitia executar rotinas com a interface Windows a partir do código fonte “praticamente” original, dando origem à versão 3.04. O processo foi relativamente rápido, mas gerando um executável 16bits, em um mundo que se tornava 32bits, havia muita instabilidade no produto.

Houve também uma tentativa de converter parte de um módulo para Delphi, com um bom resultado final, mas o processo seria demorado e por consequência inviável.

Foi aí que a empresa tomou a decisão que mudou sua história

“Porque converter nosso código? Será que não podemos criar uma plataforma que o suporte?”

Sim, era possível, foi então que Weber Canova, hoje nosso vice-presidente, entrou na história, e em 1997 deu origem ao Setor de Tecnologia.

Tendo como inspiração o modelo de trabalho das estações gráficas CAD/CAM, que trabalhavam em conjunto, focando esforços na GPU nas workstations e na CPU na camada servidora, aliado a técnicas avançadas de computação distribuída, ele concebeu um ambiente Client/Server que processava o código original Clipper/FiveWin sem a necessidade de qualquer ajuste.

Com o sucesso do Delphi na época, optou-se por esta linguagem como base para a primeira versão do SmartClient, nascia então o Advanced Protheus 5.07 e a linguagem AdvPL (Advanced Protheus Language).

Devemos lembrar que manter sua própria linguagem não é apenas prático, mas também seguro, pois como já aconteceu em algumas situações linguagens morreram ou foram “encostadas” depois de decisões mal tomadas de seus desenvolvedores.

Outra grande vantagem é a de poder melhorar o seu produto, com novos componentes ou funcionalidades, dependendo única e exclusivamente de seu próprio time.

Em 2003 novo desafio, com o Linux se tornando uma realidade nas empresas devido ao seu custo zero, foi necessário converter o SmartClient, tentou-se usar o Kylix, da mesma fabricante do Delphi, e mais uma vez o resultado foi decepcionante.

Utilizando a experiência em C++, decidiu-se adotar o Qt como motor para construir um SmartClient multiplataforma, mais uma boa decisão, agora do próprio setor de tecnologia, que abriu caminho para portar nosso Client para qualquer sistema operacional suportado por esta engine.

Neste momento era lançado o SmartClient Linux Beta na versão 7.10 e como padrão no Windows e Linux na versão 8.11.

Em 2005 nos tornamos a TOTVS, e com a aquisição da Logocenter houve a necessidade de incorporar a linguagem 4GL ao nosso servidor, sem problemas, nesse momento já éramos craques na interpretação de código.

Em 2007, colhendo os frutos pela escolha do Qt, introduzimos seu motor de renderização dinâmica, muito parecido com o CSS do HTML5, permitindo ajustar toda a guia de estilos do ERP de maneira rápida e eficiente, nascia a versão 10.

Em 2010 mais um fruto colhido, o rápido porte do SmartClient para o macOS.

No mesmo ano, o lançamento do SmartClient HTML, utilizando o Apache como motor, permitindo a execução do ERP através de um simples endereço URL, abrindo também caminho para execução nos dispositivos móveis, através de seus respectivos navegadores.

Em 2015 era a vez de turbinar nosso servidor de aplicação, aumentando a robustez de processamento do código AdvPL, com redução significativa no consumo de memória e a implementação de novas técnicas que melhoraram nosso poder de escalabilidade, foi lançado então a TotvsTecNG.

Visando facilitar a implantação, no mesmo ano liberamos o SmartClient HTML 2.0, baseado em tecnologia própria, permitindo a sua instalação em questão de minutos, literalmente.

Ainda em 2015 surgiu a necessidade de criar aplicativos nativos para os dispositivos móveis, sem problemas, também já éramos craques em desbravar novos sistemas operacionais, e assim foi lançada a primeira versão do TOTVS PDV para Android, processando código 100% AdvPL no servidor de aplicação embutido no dispositivo.

Chegando em 2017, embalados pelo crescimento dos WebApps, decidimos utilizar a plataforma Android para criar um hibrido que permitiria o desenvolvimento de aplicativos escritos em AdvPL e HTML5, utilizando o JavaScript como um poderoso aliado, e eis que surgiu o CloudBridge.

Aproveitando o sucesso da experiência portamos o projeto também para o iOS, cobrindo assim todos os sistemas operacionais de maior expressão no mercado.

Ufa! Voltando para onde tudo começou, me deparei com o garoto pálido, que me disse meio sem graça:

“Ah! Agora entendi porque do setor de tecnologia, senhor!”

Deixei o garoto tão tonto que acabei virando “senhor”, e completei dizendo:

“Se você e seus colegas da faculdade não conhecem a história da TOTVS, também não conhecem parte importante da história da informática no Brasil, não estamos presentes em 41 países e somos líderes e referência na América Latina por acaso…”

Me sentindo um pouco vingado perguntei se ele tinha mais alguma dúvida, e para minha surpresa a resposta foi não 😉.

Links sobre o post:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Protheus
https://www.totvs.com/sobre-a-totvs
https://en.wikipedia.org/wiki/Visual_Objects
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fivewin
http://www.cadazz.com/cad-software-history-1980-1985.htm
http://www.cadazz.com/cad-software-history-1986-1989.htm
https://pt.wikipedia.org/wiki/Kylix_(software) http://tdn.totvs.com/display/framework/Microsiga+Protheus
http://tdn.totvs.com/display/tec/SmartClient+HTML
http://tdn.totvs.com/display/tec/CloudBridge
https://pt.wikipedia.org/wiki/Totvs

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Ricardo Mansano Godoi
TOTVS Developers

Chief engineer of Front-end and Development Tools on TOTVS, developing software since 88, plugged to the brand new technologies and Nerd to the bone.