Como PCDs devem ser tratados nas empresas
A história de Ivan Pinheiro Cabral, gestor executivo da Engenharia Protheus
Nascido com uma má formação congênita, Ivan Pinheiro teve de lidar com a realidade de não ter parte de um dos braços. Cresceu sendo encorajado pela mãe a se superar. Não foi tratado com vitimismo e nem com diferenças em relação à sua irmã.
Teve que aprender a lidar com as reações diferentes dos colegas de escola, que nunca tinham visto um amiguinho sem um braço. Mas essas reações o encorajaram a aprender tudo o que fosse possível.
Com 11 anos, despertou o interesse de jogar basquete, brincando no quintal de casa. Na sexta série mudou de colégio e teve que participar de um esporte coletivo.
“No futebol, eu era uma lástima, no vôlei não dava pra jogar por causa do braço deficiente. Escolhi, então, o basquete, que me ajudou nas questões de liderança, para me ajudar a me expor na sociedade”.
Ivan conta que jogava como armador e isso o ajudou a desenvolver confiança para usar na vida. Ele diz que estudava muito, queria ser programador, que foi um outro desafio, ao começar a codar com Cobol.
Antes da faculdade, ele fez colegial técnico: “Ganhei um 486, que me ajudou muito e depois fui pra faculdade. Eu sempre fui CDF”
E por ser tão aplicado e estudioso, um colega da faculdade insistiu para que ele entrasse na microsiga (hoje TOTVS) em dezembro de 1999, para trabalhar na “máquina quente’ (hoje conhecida como esteira de building), que ficava gerando os executáveis.
“Comecei ali, depois fui para o desenvolvimento, trabalhando no mercado internacional, que hoje é a área de framework, onde os responsáveis me chamaram pra trabalhar com eles. Em 2007 passei a liderar o time de framework. Em 2017 fui convidado para assumir a engenharia protheus, onde estou como gestor executivo.”
Ivan lembrou que todas as lideranças que ele teve na TOTVS, lhe deram oportunidades para assumir responsabilidades que o colocaram onde ele está hoje.
Superação a cada dia
Diante da história de superação e da representatividade, Ivan foi convidado para fazer parte de um grupo de afinidade para pessoas com deficiência.
“É um grupo pra gente compartilhar as vivências, as dores, em um ambiente para também criar. E esse grupo criou um guia anti capacitista. Isso é importante porque, às vezes, é comum fazer piadas do tipo “que mancada!”, “joão sem braço”, “braço curto”, “deixa de ser retardado”, que machucam e desrespeitam as pessoas com algum tipo de deficiência. Essas iniciativas para tentar evitar esse tipo de coisa.”
Na TOTVS há, também, outros grupos voltados para minorias, como o de diversidade, o de mulheres, e o LGBTQIA+.
E o impacto e o alcance dessas iniciativas têm sido bem avaliados, segundo Ivan.
“É fato que é desafiador para você conseguir dividir a atenção do dia a dia com esses temas, mas eu tenho percebido que as pessoas têm se engajado cada vez mais. Existe um trabalho do time de diversidade e inclusão para que a gente sempre fale daquilo, sempre engaje. Tem eventos que acontecem para provocar e incentivar esses temas, mais voltados à diversidade e inclusão. Isso é bem legal.”
Mercado de Trabalho
Ivan Pinheiro lembrou também da inclusão do público PCD no mercado de trabalho.
“Os números que a gente tem é que 25% da população brasileira têm algum tipo de deficiência. E quando a gente olha uma pesquisa da RAIS, que é a relação anual de informações sociais, aponta que apenas 1% desse público está empregado. Então, a gente precisa procurar meios para capacitar essas pessoas para compor a lei de cotas das empresas. Quando a gente pensa em acessibilidade, é preciso olhar para acessibilidade física e digital, inclusive em relação à acessibilidade do software.”
Ele acrescentou que é importante tornar os códigos acessíveis para as pessoas. Afinal, muitas estão se preocupando em incorporar isso no dia a dia. “Tem que pensar naquelas que têm baixa visão ou cegueira total e entender desde quando se olha para um site, tem muito ainda para evoluir.
Ivan diz que “as empresas que não se mexeram e se adaptarem, não serão os produtos que outras empresas vão escolher para comprar.”
