Design Thinking; e eu com isso?

Mateus José Milczewski
TOTVS Developers
Published in
7 min readOct 17, 2019

Mesmo que na prática, talvez, você não conheça, muito provavelmente já deve ter ouvido falar nesta abordagem. Mas afinal de contas, o que é Design Thinking? Onde vivem? O que comem? Será apenas mais uma buzzword? E na prática, funciona mesmo?

Bom, muito provávelmente este artigo não responda todas estas perguntas, mas buscarei simplificar ao máximo o assunto no decorrer da leitura.

Uma breve introdução

Acredito que as respostas para essas e muitas outras perguntas nas quais já ouvi sobre o termo são muito subjetivas e podem variar por “n” fatores, desde o mindset das pessoas envolvidas até sua forma de execução.

Antes de mais nada, é preciso ter engajamento e foco nos processos que serão realizados, entendendo que para criar valor na proposta que será gerada ao final é necessário que os valores estejam ligados ao cliente, negócio e mercado. Além disso, é um processo contínuo e seus resultados devem ser avaliados e medidos a cada ciclo. E, não, design thinking não é post-it.

Agora que já temos uma noção do que é design thinking, para entendermos melhor como isso ocorre, vou compartilhar um pouco de uma experiência que tive recentemente no decorrer de dois dias em um bootcamp com o time da UX Lab na matriz da TOTVS.

Design Thinking na prática!

Vamos lá! Ao começar a cerimônia, nos apresentamos de uma maneira bem descontraída e logo de início falamos além de nossos nomes, um hobby de final de semana e, inclusive, uma mímica a representava. Cada pessoa que se apresentava deveria repetir a mímica do colega anterior. Ou seja, já dá para imaginar os efeitos disso… rsrs. Com isso, já no embalo do momento de descontração, nos dividimos em times multidisciplinares de quatro integrantes cada.

Lixeira das certezas

Depois disso, fizemos outra dinâmica para que estimulássemos o questionamento às perguntas abertas que viriam a calhar no passo seguinte; a criação do roteiro de entrevistas. Após o aquecimento, montamos nossos roteiros com base nas incertezas geradas anteriormente.

É válido salientar que cada etapa é essencial e, por isso, devem ser levadas com seriedade para que não haja impacto no resultado futuro de maneira negativa.

Com isso, realizamos as entrevistas de modo que cada integrante dos próprios times participassem ativamente deste processo como usuários, sendo entrevistados, assim gerando os primeiros dados sobre o problema.

Após cada integrante ser entrevistado por um outro time, inserimos as informações coletadas nas entrevistas em post-it’s, para facilitar no passo a seguir, momento em que agruparíamos essas informações por afinidade.

Realizados os agrupamentos, intitulamos cada grupo e, então, geramos um insight, de acordo com as necessidades que identificamos, numa estrutura de: usuário, necessidade e problema.

Perceba que aqui ocorre a convergência do primeiro ciclo, onde inicia-se o refinamento das informações coletadas.

Terminada esta etapa, as informações que coletamos no decorrer de toda as abordagens começam a estabelecer mais fundamentos, possibilitando a elaboração de algumas storytellings, visando atender a cada dor de maneira individual numa forma similar à estrutura da etapa anterior, por exemplo:

“O usuário X tem a necessidade de realizar Y, mas atualmente ele tem o problema Z.”

Com estas informações, logo demos incio à uma nova etapa, aplicando o How Might We , ou melhor, “Como Nós Poderíamos” para que mais dúvidas fossem promovidas, nos fazendo refletir sobre as necessidades. Observe que aqui ainda não são geradas as ideias, apenas as dúvidas.

À partir disso, realizamos um agrupamento por afinidade das dúvidas geradas, onde o time deve elencar apenas uma que será levada adiante para ser explorada na etapa seguinte.

Neste momento, somos instigados a elaborar uma ideia desafiadora com base nas dúvidas levantadas até aqui, buscando sempre a desalienação dos padrões com ideias que, por ventura, possam superar as expectativas.

Para isso, é interessante enfatizar algumas soluções disruptivas da atualidade para ampliar o horizonte das pessoas envolvidas. Esta fase é trivial para que os envolvidos estejam abertos às soluções propostas e analisem sem bloqueios, com um olhar positivo a cada solução gerada.

Também são válidas dinâmicas que estimulem o funcionamento de múltiplas áreas do cérebro como forma de aquecimento, antes de dar inicio à etapa seguinte.

Aquecidos e, principalmente, tendo em vista a questão elencada na etapa anterior (das dúvidas), iniciamos as concepções das ideias, onde individualmente os integrantes dos time promovem o máximo possível de propostas em pequenos cards, descrevendo-as de maneira sucinta, juntamente à um desenho meramente ilustrativo que represente a solução.

Feito isso, apresentamos nossas propostas a cada membro do time, para então voltarmos a repetir a etapa, mas desta vez com o intuito de aprimorá-las. Então, observamos novamente as ideias já acrescidas de melhorias e realizamos um agrupamento, possibilitando visualizá-las com mais clareza, para unir as que forem semelhantes.

Com os agrupamentos realizados, damos “nome aos bois” para facilitar a identificação de cada grupo e dar um significado a eles. Posteriormente, inserimos estas informações em duas matrizes, de impacto e priorização respectivamente.

Com a Matriz de Impacto, avaliamos quanto valor cada insight promovia, de acordo com o negócio (eixo Y ) vs consumidor (eixo X), por exemplo:

Matriz de impacto com os insights posicionados.

Em seguida, avaliamos através da ótica da Matriz de Priorização, onde passamos a avaliar os níveis de risco (eixo Y) vs conhecimento (eixo X) que as ideias representam em nosso contexto, por exemplo:

Matriz de priorização com os insights posicionados.

Se pararmos para analisar e refletir um pouco, até agora já havíamos coletado diversas informações, que nos permitiram transformá-las em questionamentos, os quais converteram-se em ideações.

Porém, ainda não havia algo palpável, portanto, chega o momento de eleger um dos grupos de ideação que resumiríamos em um único insight, no qual levaríamos adiante até o momento do protótipo final.

Para isso, cada integrante do time contemplava 3 votos que deveriam ser distribuídos entre os insights avaliados anteriormente, ou até mesmo em apenas um único. Em resumo, segue para a próxima etapa o insight com mais votos! Aqui vai um bônus: guarde os resultados sobressalentes para que possam servir como base e material de consulta para ideias futuras.

Com a ideia elegida, chega o momento de criarmos nosso protótipo. Mas antes, somos contextualizados sobre este tipo de processo, bem como realizamos uma nova dinâmica para aquecimento da prototipagem com a seguinte missão: construir a torre mais alta utilizando nada mais e nada menos do que 10 folhas sulfites. E aqui vale tudo, dobrar, rasgar e até mesmo amassar, desde que após o tempo estimado as folhas se mantenham de pé, é claro.

Resultado final da dinâmica da torre de papel

Então, mãos à obra! Neste momento entendemos que o protótipo não será nosso produto final, tão pouco nosso MVP e somente servirá para vendermos nossa ideia, sendo necessário que esteja nítido todo o valor que desejamos alcançar com nossa proposta que foi elaborada no decorrer de toda a abordagem.

Enfim, chega o momento da apresentação, e após cada um dos times exporem seus protótipos e receberem o feedback, respectivamente (lembrando que feedback a gente não rebate), descartamo-os. Sim, tudo é jogado fora!

Então, com os pontos de melhorias vistos na perspectiva de pessoas fora do nosso contexto, os times voltam pra si novamente aplicando os aprendizados da validação anterior. E criam, assim, uma segunda versão ainda melhor e mais assertiva, contemplando as sugestões que foram coletadas anteriormente.

Ao final, encerramos o ciclo, realizando a última apresentação da nova versão do protótipo e nos despedimos.

Algumas das pessoas que participaram reunidas ao final do bootcamp de Design Thinking.

Tá, mas e a parte do “e eu com isso”?

Perceba que até o momento nosso principal recurso foram pessoas. O “eu com isso” está conectado em cada “eu” que participou das etapas desta abordagem. O design é realizado por pessoas para pessoas e, criar novas soluções sem esse mindset dificilmente lhe trará bons resultados.

Post-it’s representando cada membro de uma das equipes.

Não há misticismo algum. Todos os envolvidos precisam estar com clareza e foco direcionado ao propósito, com nossas certezas desinibidas e claro, a vontade de criar soluções que tornem o mundo um lugar melhor.

Certamente, nem todas as perguntas contidas no inicio deste artigo foram respondidas. Mas, brincadeiras à parte, espero que tenha sido claro e objetivo com minhas palavras.

E para finalizar, gostaria de salientar três considerações essenciais, na qual acredito que podemos levar como aprendizado na prática do Design Thinking, são elas:

  • Pessoas multidisciplinares se complementam e formam ideias incríveis;
  • Empatia pode ser alcançada por qualquer um que se dispõe a ouvir ativamente;
  • Toda experiência pode ser aprimorada quando questionada da maneira correta.

Agradeço por sua leitura até aqui e espero que este material possa contribuir e agregar um valor positivo na sua vida.

Até a próxima!

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