(Prática) Meditação Gaia

TQR Brasil
Trabalho Que Reconecta (TQR Brasil)
4 min readJan 4, 2022

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Esta simples meditação guiada, composta por John Seed e Joanna Macy, nos conduz em direção a uma identificação precisa e íntima com os elementos e com as formas de vida que evoluíram na Terra. É uma meditação comumente praticada em pares, para que as pessoas se observem enquanto ouvem as palavras.

Prática

O que é você? O que sou eu? Ciclos interconectados de água, terra, ar e fogo — é isso o que eu sou, é isso o que você é.

Água — Sangue, linfa, muco, transpiração, oceanos interiores atraídos pela lua, marés dentro de nós e marés fora de nós. Rios que fluem e fazem nossas células flutuarem, lavando-as e alimentando-as em inúmeros riachos em nossos intestinos, veias e vasos capilares. A umidade copiosa que nos invade, a mim e a você, continuamente nos percorre e nos abandona, você e eu, escrevendo este imenso poema do ciclo das águas. É isso o que eu sou, é isso o que você é.

Terra — Matéria, feita de pedra e solo. Ela também é arrastada pela lua quando o magma circula pelo coração do planeta e quando suas moléculas são sugadas pelas raízes das plantas para sua biologia. A terra nos inunda, nos atravessa e, a cada sete anos, substitui cada célula de nosso corpo. Da cinza à cinza, do pó ao pó, nós ingerimos, incorporamos e evacuamos terra, somos feitos de terra. Você é isso. Eu sou isso.

Ar — O reino gasoso, a atmosfera, a membrana do planeta. O inspirar e o exalar. Expirar dióxido de carbono para as árvores e inalar o frescor oxigenado da sua transpiração. Oxigênio que com seu beijo desperta cada célula e metaboliza átomos na dança interpenetrante da vida. Essa dança do ciclo aéreo, que inala o universo e exala de novo, é o que você é, é o que eu sou.

Fogo — Fogo do nosso sol, que é combustível para toda a vida, fazendo subir as plantas, impulsionando as águas para o céu, para que elas caiam novamente e refresquem a terra. A fogueira interna do nosso metabolismo queima com o mesmo fogo original que impeliu a matéria-energia a girar em espiral através do espaço e do tempo. Este fogo é o mesmo fogo do relâmpago que foi descarregado na sopa primordial para catalisar o nascimento da primeira vida orgânica. Isso é o que eu sou, isso é o você é.

Você estava lá. Eu estava lá, porque cada célula do nosso corpo é diretamente descendente desse evento ao longo de uma corrente sem fim. Uma corrente sustentada pelo átomo desejando a molécula, pela molécula desejando a célula, pela célula desejando o organismo. Em meio a essa proliferação de formas, a morte nasceu. Nasceu simultaneamente com o sexo, antes que nos separássemos do reino das plantas. Por isso, em nossa sexualidade, nós podemos sentir uma conexão ancestral tanto com as plantas, quanto com a vida animal. Nós viemos deles, em uma cadeia contínua — somos os peixes que aprenderam a andar na terra, nossas escamas transformando-se em penas, em migrações através das eras do gelo.

Nós temos forma humana há muito pouco tempo. Se comprimirmos toda a história da Terra em 24 horas, a vida orgânica só começaria às cinco horas da tarde… os mamíferos apareceriam às onze e meia da noite… e entre eles, faltando apenas alguns segundos para a meia-noite, a nossa espécie.

Em nossa longa jornada planetária, assumimos formas muito mais antigas do que essas que agora temos. Recordamos de algumas delas no útero de nossas mães: assumindo os vestígios de caudas, brânquias, barbatanas que se tornaram mãos.

Inúmeras vezes nós morremos para as velhas formas, soltamos velhos hábitos para deixar novos emergirem. Mas nada nunca é perdido. Embora as formas passem, tudo retorna. Cada célula consumida é reciclada… através de musgos, sanguessugas e aves de rapina.

Pense na sua próxima morte. Ofereça sua carne e ossos ao ciclo novamente. Renda-se: Deixe-se ser amado pelas minhocas que você se tornará. Deixe seu cansaço ser limpo na fonte da vida.

Olhando para você, contemplo as diversas criaturas que compõem você — as mitocôndrias das células, as bactérias intestinais, a vida que povoa a superfície de sua pele. A grande simbiose que você é. A incrível coordenação e cooperação de inúmeros seres. Você é isso, assim como o seu corpo faz parte de uma simbiose de reciprocidades ainda mais amplas. Esteja consciente desse dar e receber quando você andar entre as árvores. Expire seu dióxido de carbono puro para uma folha e sinta-a devolver oxigênio fresco para você.

Lembre-se sempre dos antigos ciclos desse parentesco. Recorra a eles nestes tempos turbulentos. Faz parte de sua própria natureza e à viagem que você empreendeu um saber profundo sobre esse pertencimento. Recorra a este pertencimento nesses tempos de medo. Dentro de você está a sabedoria da terra, a interexistência com tudo o que existe. Receba a coragem e o poder desta sabedoria agora para todos nós despertarmos neste momento de perigo.

Essa é uma prática presente no capítulo 13 do livro “Nossa Vida Como Gaia” de Joanna Macy e Molly Young Brown. A tradução acima foi feita por Lia Beltrão.

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