“Viajando no Tempo” do livro Esperança Ativa

Em 1988, Joanna convidou uma dúzia de amigos para se juntarem a ela em um grupo de estudo-ação sobre rejeitos radioativos. Durante os anos anteriores, ela havia perguntado para cientistas, engenheiros e ativistas o que eles pensavam que podia ser feito com nossas instalações nucleares e com os materiais quando essas coisas não estivessem mais sendo usadas. Quando ela visitou o local de construção de um depósito geológico profundo no Novo México, o gestor orgulhosamente contou a ela sobre as barreiras e sinalização que poderiam deter intrusos por uma centena de anos. “E depois disso?”, Joanna perguntou. Ele pareceu perplexo. Períodos de tempo mais amplos estavam fora do planejamento dele, da mesma forma que também estavam fora do planejamento de outras pessoas com quem ela falou. Foi por isso que ela convidou uma dúzia de amigos. Ela queria criar um espaço para explorar as responsabilidades humanas que fosse baseado em uma visão mais ampla do tempo.

O grupo se revezava fazendo pesquisas e apresentando tópicos. Em um dia de novembro foi a vez de Joanna, e a informação que ela havia recolhido sobre as práticas de contenção de rejeitos nucleares nos Estados Unidos era tanto técnica quanto horrível. Para manter a atenção e a motivação, ela precisava de um pouco de ajuda. A ajuda veio de onde menos se esperava.

Na porta, Joanna afixou um cartaz onde se lia LABORATÓRIO DO TEMPO DE CHERNOBYL: 2088. Conforme as pessoas chegavam, uma gravação de música litúrgica russa dava o tom. Iniciando sua primeira experiência em grupo de viajar através do tempo, ela disse:

“Bem-vindos! Nosso trabalho aqui no laboratório do tempo deste posto de observação é baseado na importância de ser capaz de retroceder no tempo. Isto é assim porque as decisões feitas por pessoas no fim do século XX sobre como lidar com o fogo ‘venenoso’ (ou radioatividade, como eles o chamavam na época) têm tais efeitos a longo prazo. Nós devemos ajudar essas pessoas a tomarem as decisões certas. Então, vocês foram selecionados para voltarem no tempo, até um grupo em particular, em Berkeley, Califórnia, que chamou nossa atenção. Esse grupo está se encontrando exatamente no dia de hoje cem anos atrás para tentar entender, com a mentalidade limitada deles, a maneira como os “especialistas” daquele tempo estão contendo o fogo ‘venenoso’. É fácil que as pessoas desse grupo se sintam ignorantes e desencorajadas. Portanto, iremos voltar no tempo para entrar no corpo delas conforme estejam procedendo com o estudo que estão fazendo, para que não fiquem desanimadas.

Nossa pesquisa revela que, na viagem no tempo, um fator essencial é a intenção — a crença forte e inabalável nos propósitos que o coração escolheu. Se nossa intenção é clara, podemos viajar até um século atrás para entrar nos corações e mentes desse grupo. Isto vai levar cerca de trinta segundos.”

Joanna aumentou o volume da música por trinta segundos e, então, desligando-a, simplesmente seguiu em frente para apresentar o tópico do dia. Ao longo da sessão, ninguém comentou sobre o início estranho. Todas as pessoas estavam muito profundamente focadas no material em si. Mas havia uma sensação de cuidado intensificado naquela sala, como se todos tivessem uma presença interna adicional que era encorajadora e oferecia apoio. Ao abrir a imaginação do grupo para a possibilidade de seres do futuro poderem nos ajudar com a bagunça em que estamos, ela ajudou o grupo a descobrir uma fonte bem-vinda de inspiração adicional. O uso da viagem no tempo imaginária, muitas vezes aguçada ou acompanhada por música, se tornou desde então uma característica regular do Trabalho Que Reconecta. Ela oferece oportunidades ricas e recompensadoras para ampliar a visão do tempo em que habitamos e para nos inspirarmos com o apoio dos seres do passado e do futuro.

O texto acima faz parte do capítulo 8 do livro “Esperança Ativa — Como encarar o caos em que vivemos sem enlouquecer”, escrito por Joanna Macy e Chris Johnstone.

Veja uma prática de ‘viagem no tempo’ chamada “Carta da Sétima Geração” clicando aqui.

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