2 anos de globo.com

Arthur Rodrigues
Training Center
Published in
11 min readJan 16, 2018
Como me senti ao entrar na globo: um stormtrooper no meio da Liga da Justiça.

Quando entrei na empresa eu cursava engenharia elétrica com ênfase em telecomunicações no CEFET-RJ e sempre tive contato por interesse próprio com desenvolvimento de software, seja desenvolvendo scripts para bots de jogos (tibia – no meu caso), pequenos hacks em casa ou na minha iniciação científica sobre IA. Apesar desse meu interesse constante, nunca em nenhum sonho meu mais doido eu sonharia em um dia pisar nessa empresa, quanto mais fazer parte dela.

Quando vi o processo seletivo para estágio praticamente descartei qualquer possibilidade, afinal eu era de elétrica. A grande culpada desses 2 anos terem acontecido foi a minha noiva – mãe você também ajudou mas quem realmente me convenceu foi a Raquel – que na época insistiu para que pelo menos tentasse, assim não sairia sem pelo menos ter batalhado.

Posso dizer com certeza que a primeira coisa que me chamou atenção na empresa foi o ambiente amigável e descontraído entre todos, além da fome insaciável de todos por estar constantemente evoluindo e aprendendo. Isso foi um imã que me fascinou desde os primeiros dias, mesmo com as constantes pressões de resultados.

Processo seletivo para o estágio

(Obs1: hoje o processo é bem diferente; Obs2: minha memória é bem bosta então provavelmente nem tudo que vou falar aconteceu 100%, interprete como contexto e não como situações específicas)

O processo seletivo foi a experiência mais louca que tive na época, foram diversas etapas intermináveis e bem longo (~2 meses). Numa fase zero me cadastrei em algum site de vagas (realmente não lembro qual) e passei na triagem curricular, depois fui chamado para uma dinâmica de grupo:

Email pós triagem

Na dinâmica pelo que lembro fiz algumas provas bem padrão de processos seletivos (lógica e inglês), seguidos no mesmo dia de uma apresentação (tema abaixo no mesmo e-mail).

Continuação do e-mail pós triagem

Foi nesse dia que aprendi a mágica do refresh, pensei comigo mesmo: vou pegar a home da globo.com, editar o html para colocar fotos minhas e notícias minhas junto à de outras pessoas e imprimo! No final das contas foi isso que aconteceu mas só depois de alguns bons minutos aprendendo a lidar com refreshes constantes automáticos da home.

Para dar um toque um pouco mais pessoal eu levei uma Raspberry Pi que usei no meu projeto de iniciação científica do ano anterior na faculdade para explicar como curti a experiência e as portas que ela me abriu (bem nerdzão mesmo).

Email sobre o painel com os gestores

Alguém acreditou que esse nerd valia mais uma chance e me convidaram para a próxima etapa, um painel com MUITOS gestores. Foi uma doideira total, pelo menos uns 10 gestores, todos de áreas super interessantes e eu sinceramente não via onde me encaixaria.

Passei todo o tempo daquele painel pensando em quanto peixe fora d’água eu estava ali, todos falando de projetos iradíssimos que tinham feito na faculdade e como eles tinham aprendido coisas técnicas super legais em outros estágios.

Olhei para meu umbigo e pensei: “ok eu fiz um estágio basicamente em uma área de negócio zero técnica (pro que eles querem), programei uns bots pra me divertir, fiz uns hacks pela internet/em casa para poder jogar mais e participei de 2 projetos na faculdade, um basicamente como RH/gestor, outro desenvolvendo circuitos eletrônicos e acabei de voltar de um intercâmbio em Portugal. Eu fui proativo nesse tempo MAS bem longe do que eles provavelmente estão querendo”.

Na minha vez de falar contei toda essa maluquice minha acima (provavelmente muito mais monossilábico), três gestores me fizeram algumas perguntas e pronto, fiquei super aliviado e ao mesmo tempo angustiado. Ninguém tinha recebido mais de uma pergunta dos gestores, quanto mais de 3!!! Seria isso um bom ou mau sinal!??

Eram tantos candidatos incríveis que eu realmente não via cenário onde um estudante de eng. elétrica seria selecionado. Lembro que nessa dinâmica conheci pessoas fantásticas que passaram comigo no processo seletivo, me rendendo naquele dia conversas interessantíssimas sobre inteligência artificial, professores, faculdade e um ótimo almoço.

Dias depois recebi um email me convidando para a última etapa: uma entrevista individual:

Entrevista individual com gestores

Eu simplesmente não acreditava o quão longe tinha chegado, fiquei tão atordoado que no dia da entrevista que depois da primeira entrevista quase fui embora! Como assim ? (você deve estar pensando) na globo.com geralmente nessa fase o candidato é colocado como opção em 2 ou mais áreas onde seu perfil possa encaixar e o e-mail que recebi da Debora me levou a crer que era uma só!

As duas entrevistas que fiz foram completamente diferentes e somente dirigida pelo gestor da área em que o estágio seria, a primeira super estruturada e mais formal enquanto que a segunda foi total papo de bar. Nas duas falei sobre muitas coisas que fiz e como aquilo tudo ali acima me influencia, do que gosto e do que queria fazer dali pra frente, além de poder ter espaço para conhecer um pouco o entrevistador e a área em questão.

Se minha experiência com a empresa tivesse parado naquele momento eu tenho certeza que valeria todas as horas que coloquei correndo atrás da vaga, só de ter conhecido projetos e principalmente pessoas fantásticas. Acabou que fui para outra equipe que um dos entrevistadores estava ajudando e uma das pessoas que conheci foi para Big Data.

Dias antes do início do estágio

O estágio

Depois de todo aquele processo burocrático de documentação e exame admissional, comecei meu primeiro dia, onde recebi meu MacBook, algumas orientações e fui apresentado às pessoas com quem trabalharia.

Eu falando sobre o Tsuru em um evento interno

O que mais me chocou logo de cara foi quão abertas as pessoas eram com relação a tudo. Nos primeiros dias eu e outro estagiário da minha área participamos de uma das reuniões mais importantes da área – o review – onde os times fazem um resumo do que planejaram fazer durante um período X de tempo e como isso tem andado até o momento. Obviamente não fomos as pessoas mais participativas, mas a apresentação, o carinho e acolhimento que tivemos daqueles mais de 50 desenvolvedores foi cativante.

Tecnicamente para mim não foi fácil, nem um pouco. Durante as férias da faculdade ou eu estava no estágio ou estudando para o estágio, desde o primeiro dia tudo que tinha que fazer me fascinava, mas chegar em casa e ter que estudar eletrônica (por mais que eu também gostasse bastante) me desmotivava bastante. Pensei milhões de vezes em desistir e que eu estava no lugar errado, por ter que aprender praticamente do zero coisas que outros 30+ estagiários já tiveram mais de 2 anos na faculdade aprendendo.

Meus primeiros dias na globo.com

Sempre fui uma pessoa muito mão na massa e por isso me atrapalhei bastante no início, mas muitas conversas, aconselhamentos e feedbacks me deram confiança que somada a algum tempo foram vitais para que eu pudesse dar alguns passos atrás nessa minha maluquice a fim de que eu pudesse formar uma boa base para me desenvolver. Não sei se em outro lugar eu teria pessoas tão determinadas em me ajudar assim, mas realmente foi essencial para mim.

Com o tempo consegui melhorar bastante e até conquistar alguns elogios inesperados de colegas que sempre me inspirei. Não sou modelo para ninguém e muito menos perfeito, mas todos os dias que entrava naquele lugar pensava em fazer o meu melhor, mesmo que geralmente não fosse a melhor solução. Minha ideia foi sempre aproveitar ao máximo cada momento independente do futuro e ver esses gestos de reconhecimento mesmo que aos poucos me motivam ainda mais a continuar.

Faculdade e minha visão

Antes de me meter onde nunca imaginava estar, sempre me imaginei no futuro como um criador, alguém que está constantemente criando meios novos de fazer as coisas e mudando o mundo ao meu modo. Essa minha visão ao estagiar em engenharia (telecom) ficou bem turva e me deixou bem decepcionado, mesmo eu tendo trabalhado em uma área ligada à inteligência de negócio, que me interessa bastante, mas eu não podia criar coisas novas e nem a empresa tinha interesse em ir por esse caminho.

Assim que eu comecei na globo.com, percebi que em desenvolvimento de software o seu limite é a imaginação e que aquela dependência de materiais não existe tanto. Meu eu criador ficou maluco, não existia parte de mim que não queria ficar ali, então foi nesse momento que decidi que queria largar da minha faculdade de engenharia elétrica.

Infelizmente eu não tive a coragem de tomar esse passo logo de cara por medo, mas depois de mais 6 meses já estava claro na minha mente que aquele não era mais o meu caminho e que deveria aproveitar ao máximo o que uma faculdade da área poderia me oferecer (mesmo que fosse reforçar o que já tinha aprendido no trabalho).

Quando parei para pensar nos pontos da minha vida até o momento pude perceber que tivera contato constante com a área, seja programando, querendo fazer vestibular para área, na IC e aulas da faculdade ou assistindo aulas como ouvinte durante meu intercâmbio. Esses pontos não me pareciam nada na época mas foram vitais para me ajudar a tomar essa decisão de mudar, pois na realidade eu já queria ter começado assim, só não tinha notado.

Treinamentos

Sim é uma ponte! (:

A meu ver o programa de estágio é formado por duas grandes áreas de desenvolvimento: técnico e pessoal. Enquanto que alocado nas áreas você aprende as práticas técnicas com excelentes profissionais de todos os lugares do Brasil, o RH te proporciona experiências únicas de descobertas pessoais e profissionais.

Eu particularmente antes do programa de estágio sempre fui extremamente cético com esses treinamentos, mas sinceramente acredito que os treinamentos me agregaram bastante durante esses 2 anos, muito mais do que esperava. Seguem os treinamentos que consegui achar no e-mail que participei:

  • “Da Criatividade para a Inovação através do Design Thinking” – Arnaldo Luiz Torres
  • “Vida em Rede – Atitude Colaborativa” – Rafael Comenale
  • “Autoconhecimento com o Lego Serious”
  • “Mundo.com”
  • “Escape 60”
  • “Improviso e criatividade” – Márcio Ballas
  • “Carreira na Mão” – Hélio Gianotti
  • “Aprendendo a aprender” – Guilherme Velho
  • “Atitude Intraempreendedora” – Guilherme Velho
  • “Técnicas de Apresentação” – Cláudia Mourão
  • “Técnicas de negociação” – Richard Vinic
  • “Efetividade Pessoal” – Andrea Lomando
  • “Autoconhecimento com Pontos Fortes” – Nivaldo Assis
  • Grand finale surpresa ;)
Último treinamento do programa de estágio

Não pára por aí! Qualquer pessoa que quiser e caso haja interesse por parte dos estagiários pode submeter um treinamento, dessa forma ensinei mais de 30 outros estagiários a usar e instalar o Tsuru PaaS e suas ferramentas, além de ter participado de outro treinamento focado na ferramenta git.

Talks

Uma cultura bem legal da Globo.com é o de compartilhamento, todos têm acesso a um portal interno onde podem cadastrar uma ou mais palestras sobre qualquer tema. Assim votamos nas que mais queremos e temos todas as semanas alguém falando sobre algo de interesse de todos, desde como construir uma casa, discussões sobre LGBT e temas mais técnicos como git, log, infraestrutura etc. Todas as palestras são gravadas para quem não tenha conseguido ir poder visualizar depois.

Feedback

A partir do momento que entrei fui continuamente estimulado a fornecer minhas opniões com as mais diversas situações em que estive inserido. Na maioria das pessoas com quem trabalhei isso era bem fundamentado e importante é instantâneo para elas, o que pode nos proporcionar um ambiente mais direto e descontraído.

Hackdays

Meu último hackday nos 2 anos de estágio

Todo trimestre temos um evento bem legal em que todos os desenvolvedores são encorajados a criarem ou participarem de um projeto cadastrado em um portal interno. São ‘maratonas’ de aproximadamente 36 horas e que pôde-se desenvolver qualquer coisa, eu já fiz desde dashboards, sites internos, criptomoedas a tirar o dia para estudar linguagens diferentes.

Mais um hackday!

Obviamente que a participação depende muito do desenvolvimento das tarefas do sprint do projeto em que a pessoa está alocada, mas foram poucas as vezes que vi pessoas não poderem participar por precisar fazer backlog.

Você que é gordo como eu também adoraria um evento desses (:

Antes e depois

Posso dizer com toda a certeza que antes do estágio eu tinha noções a nível de algoritmo de Java, C, Arduino, Jason Framework e FORTRAN (sim, isso mesmo obrigado CEFET). Obviamente não fazia ideia do que é POO, TDD, BDD, DDD e todas as sopas de letrinhas de software, agora imagina a minha cara de felicidade ao descobrir tudo isso, foi quase mágico.

Componente Preact renderizando em uma Home, com screenshots de antes | durante | depois da renderização

A maior parte do tempo no estágio trabalhei com Go (Golang), mas já fiz código principalmente em Python, JavaScript, Preact (foto acima) e React.

Projetos

Minhas contribuições no Github do último ano de estágio

529 foi meu número de contribuições no github em 2017 até o início de dezembro, algo inimaginável para mim 2 anos antes (nem sabia o que era open source). Criei um projeto bem legal que ajudou milhares de pessoas chamado XML-Comp e pude contribuir a muitos outros fantásticos.

Eu na Coders In Rio

Participar em tantos projetos me trouxe um ‘benefício’ que para mim às vezes chega até a ser um sacrifício (por ser introspectivo), o de palestrar. Queria melhorar esse meu lado enquanto tentava ensinar coisas novas a pessoas interessadas e por isso procurei por eventos de desenvolvimento que eu poderia participar, assim enviei 2 palestras sobre meu projeto (xml-comp).

Ambas as palestras tinham o mesmo tema, mas para dois grupos bem distintos, o TDC São Paulo e o Coders in Rio. O primeiro era mais direcionado à comunidade de Golang e o segundo mais genérico de desenvolvedores.

Eu na TDC São Paulo

Eu realmente não esperava que nenhuma delas fosse aceita (afinal eu era apenas um estagiário), tanto que nem contei para ninguém na época sobre essas aplicações. Nas duas apresentações pude dividir o palco e compartilhar o que aprendi com nomes renomados do Brasil, pessoas em que me espelho nessa minha curta carreira e isso foi simplesmente sensacional, estou doido para fazer isso muito mais nos próximos anos.

Futuro

time do globoID

Hoje posso dizer que estou bem feliz em participar desde o início de janeiro como desenvolvedor do time do GloboID, estou doido para continuar me desenvolvendo e aprendendo cada vez mais nesse time. Também pretendo continuar com as palestras, então espere por mais anúncios em breve!

Abraços! (:

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