Como é trabalhar como Front-End Developer, por Andréa Zambrana

William Oliveira
Training Center
Published in
8 min readMar 14, 2018

Esse post é parte de uma série de entrevistas para o Training Center sobre o que um profissional pode dizer sobre sua área de atuação visando mostrar para outras pessoas como é trabalhar no que fazem, esclarecendo para algumas pessoas se elas se dariam bem trabalhando na área ou mesmo só para mostrar para outras pessoas como é trabalhar com isso.

A pessoa entrevistada desta vez é uma amiga de longa data, muitas vezes minha mentora e consultora de tretas pessoais, Andréa Zambrana. ❤

Foto de Andréa Zambrana

Introdução

Meu nome é Andréa Zambrana, tenho 38 anos e trabalho como desenvolvedora front-end desde 2007. Ah! Sim e sempre tenho uma história pra contar, deve ser a idade =P

Como você conheceu a área de desenvolvimento front-end?

Bom, eu sou uma tiazinha né? Quase nos seus 40 e a verdade é que eu já trabalhei com muitas coisas antes de ser frontender.

Já fui demonstradora de mercadorias no supermercado na Bolívia, onde me criei. Depois vim para o Brasil e fui atendente em uma barraca de pastel em uma feira em São Bernardo, daí me tornei balconista em um quiosque de sorvete em um shopping que nem existe mais. Depois fui balconista e projetista de lojas, trabalhei como estoquista em uma loja roupa.

Nesses tempos voltei para a Bolívia e lá trabalhei de vendedora, depois de auxiliar administrativo e alguns anos me tornei secretária.

Depois disso fui designer gráfico e arte finalista em uma gráfica. Tudo isso na Bolívia mesmo.

Quando voltei ao Brasil não arrumava trabalho como designer ou arte finalista então voltei a ser secretária + designer gráfico + auxiliar comercial/contábil + vendedora… e foi nesse trabalho que eu conheci o que era Web e li o site do Maujor inteirinho em uma semana. Me redescobri ao misturar código (mesmo que fosse apenas HTML e CSS) com design.

Por que você escolheu ser desenvolvedora front-end?

Modo historinha ativado…

Quando eu estava na quinta serie, há long long time ago, a minha escola decidiu dar aulas de informática pra gente. Era uma matéria opcional e a gente aprendia a desenhar no PC e a digitar. Sim, na época se fazia aulas de “datilografia”, inclusive eu chegue a fazer uns anos depois. — heheh

No ano seguinte, decidiram ensinar a gente a programar em GW Basic, ainda era matéria opcional e eu fiz porque adorava esse negocio de informática.

No terceiro ano de aulas de informática opcionais, a escola decidiu tornar essas aulas obrigatórias e já valiam nota. Todas as alunas (era uma escola católica, só para mulheres) de todas as séries começaram a aprender a programar e eu acabei me apaixonando pelo computador, tanto é que quando cheguei aos 15 anos, meu pai me deu duas opções:

  • um computador usado ou
  • uma festa de debutante…

Quem adivinha o que eu escolhi? =P

Enfim, a vida me trouxe pro Brasil e me tirou de perto de um PC, anos se passaram e eu so voltei a usar PC quando me tornei secretária, entrei na empresa falando que manjava tudo de Excel… E realmente, pra quem usava MS DOS, o Windows 95 era muito fácil de usar, você nem precisava conhecer os comandos pra fazer as coisas.

A verdade é que quando comecei a trabalhar de 8 a 12 horas por dia na frente do computador eu percebi que eu adorava aquilo, mas não tinha nada a ver com programação, era só uma secretária e depois era só uma designer, trabalhava com o computador, mas não programava nele.

Quando descobri a web em 2007, lembrei de como aquele monte de letrinhas, aka código, era divertida e de como eu gostava. É um fato de que uma luz no meu interior ligou novamente, me dizendo exatamente para onde eu queria ir e como queria fazer daquele “monte de letrinhas” uma forma de vida.

Como foi o seu primeiro trampo?

Depois de um curso de 3 vídeo aulas que mostrava como tirar um layout do PSD e fazer um site, então, na mais pura doidera, eu decidi que era isso que queria fazer na minha vida.

Para variar decidi procurar um trabalho na área, mesmo com meu marido me dizendo que não ia dar certo porque eu nunca tinha trabalhado disso e acabei arrumando um trabalho como web designer trainee na mais pura conversa. A verdade é que so tinha feito um sitezinho em tabela, mas na entrevista vendi meu peixe como se eu manjasse todos os paranaues da “web 2.0”. Nessa época já tinha 27 anos nas costas e tava bem velhinha pra começar tudo de novo.

Nesse trabalho como webdesigner, como eu tinha falado que manjava todos os paranaues, tive que dar um jeito de aprender rápido para que ninguém percebesse que eu não tinha a menor ideia de como fazer “fisicamente” um site. Aos 2 meses já estava no nível dos outros webdesigners que odiavam fazer HTML e CSS e com 3 meses eu passava mais tempo codando do que fazendo layouts. Nesse tempo não existia frontender, apenas web designers e web masters.

Quando comecei a trabalhar efetivamente codando e fazendo sites, percebi que aquilo não era programação efetivamente, mas chegava bem perto e fiquei muito feliz com isso pois misturava duas paixões, código e design.

Depois de um tempo acabei conhecendo o JavaScript e me senti muito burra. Pra quem vinha de uma programação estruturada, aprendida 15 anos atrás, aquele negocio de script não entrava na cabeça e eu não conseguia entender tudo. Me senti completamente frustrada porque tinha perdido muito tempo fazendo mil coisas, tinha perdido muito tempo trabalhando e tinha ficado muito pra traz em questões de lógica e programação.

Em 2007/2008 não tinha tantos blogs, videos, palestras, etc. e caçar a informação era bem trabalhoso, se não fosse por pessoas como o grande Maujor e Diego Eis que decidiram destrinchar aquela loucura que eram os webstandars, a luta cross-browser, etc talvez eu teria voltado a ser uma secretária + designer.

Inclusive foi o Diego, que decidiu abrir “seu blog” para outras pessoas escreverem, que acabou incluindo na minha vida os artigos da maravilhosa Talita Pagani.

A todas as pessoas que escrevem artigos, seja pelo motivo que for, o meu mais grande agradecimento, pois é graças a pessoas assim que eu encontrei o meu rumo profissional.

Quais são as skills de quem trabalha nesta área?

Nos últimos 10 anos, o mercado frontender tem mudado muito, muito mesmo. E acompanhar todas essas mudanças é estressante, cansativo e muito desestimulante, especialmente pras tias como eu, mas se você gosta do que esta fazendo acaba investindo um tempo nos estudos mesmo.

Eu, como boa frontender que veio do design, tenho um crush enorme por CSS, é minha paixão pública e não nego. Como sou uma pessoa muito preguiçosa desde meu inicio de carreira tenho focado em “reutilização” do código, pois não curto fazer varias vezes a mesma coisa, isso aliado ao CSS me deu um interesse bem grande sobre como criar CSS escalável, performático e de fácil manutenção.

Mas… como a vida não é so fazer/estudar aquilo que gostamos, hoje foco muito meus estudos em JavaScript puro mesmo, pois como disse antes, é meu talão de Aquiles.

Tirando JavaScript, que fico estudando constantemente, também estudo o framework com que esteja trabalhando no momento, atualmente é Angular, arquitetura voltada para o front-end, devops, performance JavaScript, CSS e de aplicação, além de outro monte de coisas que hoje em dia uma frontender precisa saber para se manter no mercado.

O pair programming e o code review ajudam muito tanto quem faz como quem recebe eles, atualmente passo mais tempo fazendo pair do que programando sozinha e obviamente aprendo muito com todas as pessoas com que convivo.

Quais são os principais desafios da área?

Definitivamente se manter atualizada em todos os tópicos de conhecimentos que o front-end hoje demanda. Ainda bem que não precisamos mais “garimpar” a informação como antigamente, mas, por outro lado, é muito conhecimento que precisa ser estudado e praticado.

Se a gente não ficar nessa loucura de estudar todos os dias, pesquisar melhores formas de fazer as coisas e otimizar a maior parte dos processos, a gente acaba ficando para trás e com o tempo perde o espaço no mercado. Logicamente não quer dizer que precisa investir 10 horas por dia em estudos e estar 100% a par de todas as novidades do nosso mercado, isso so vai deixar você infeliz, cansada e sem vida.

Pra mim o maior desafio está em saber “o que” estudar primeiro e, como é muita coisa, sempre foco na tríade básica que é HTML, CSS e JavaScript.

Quais são as principais recompensas da área?

Pensando apenas em questões frias e planas, primeiramente estaria a grana né? O front-end é um mercado que paga bem e onde se pode ter uma qualidade de vida bem melhor que a maioria da população brasileira.

Mas se pensarmos em termos mais humanos e menos consumistas a maior recompensa são as pessoas que conhecemos, as historias tão diversas, as vidas, as felicidades e tristezas são a verdadeira recompensa, pois nos tornam melhores pessoas e isso é inestimável.

Você pensa em mudar de área?

Honestamente sou uma das poucas frontenders que quer continuar sendo frontender.

Geralmente a galera cai no front-end a caminho do back-end e utiliza ele como uma ponte para aprender as coisas que precisam para ir para o lado do back-end, mas eu honestamente so sairia do front-end para me aposentar mesmo, ser uma tia véia, cheia de tatuagens, loucona, cheiradora de gatinhos, com muita estrada para percorrer pelo mundo, seja de moto ou de carro.

Então não, não penso em mudar de área, quando muito penso em talvez me tornar uma líder técnica para poder ajudar a galera mais nova de mercado a ser feliz como eu no front.

Por que alguém deveria se tornar uma desenvolvedora front-end?

Eu honestamente acredito que as pessoas devem fazer aquilo que as faça felizes.

Eu sou feliz como frontender, meu pai é feliz como vendedor, meu marido é feliz modelando coisas incríveis no 3D. Ou seja: por mais clichê que possa parecer, o importante realmente é ser feliz! E se você, pessoa, se sente cheia de luz, energia e felicidade ao “mexer” com HTML, CSS e/ou JavaScript, então o frontend é para você.

E obviamente, idade não é um empecilho, se você quer mudar de área não tenha medo, eu sou a prova de que dá para mudar N vezes até você achar algo que te faz feliz.

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William Oliveira
Training Center

Engenheiro de software frontend, escritor do livro O Universo da Programação (http://bit.ly/universo-da-programacao), periférico e bissexual