Por que eu generalizo?

Aline Bastos
Training Center
Published in
3 min readNov 19, 2017

Seguindo a linha de textos sobre diversidade, vamos falar sobre generalizações.

Por que eu generalizo?

Bom, vou dar um exemplo que eu vejo na maioria dos fóruns e redes sociais para descrever o porquê das generalizações com homens: Se uma mulher está na rua sozinha, e ela vê que tem um homem caminhando logo atrás dela, ela não sabe, ela não tem ideia se esse homem é um estuprador ou não. Então, pra ela, naquele momento, ele representa perigo! Naquele momento todos os homens são iguais pra ela!

Parece um exemplo muito “radical”? Pois não é!

Você sabia que uma mulher é estuprada a cada 11 minutos no Brasil?!?

Então, não tem como sabermos se um homem é machista ou não, se já prejudicou ou se vai prejudicar uma mulher somente por ela ser mulher. Inclusive por quê, mesmo ele se mostrando um homem com a mente aberta, que ajuda na diversidade da sua comunidade, que é ótimo pra conversar e entende tudo fácil, ele ainda pode agredir ou prejudicar uma mulher somente por ela ser mulher.

Não tem como saber. Não tem um sinalzinho na testa dele dizendo “neste você pode confiar”. Não existe isso. Até os homens mais legais que eu conheci já acabaram me prejudicando de alguma forma, somente por eu ser mulher.

Nós mulheres sofremos com agressões físicas, emocionais e psicológicas a vida inteira! Somente por sermos mulheres! Mas não podemos generalizar porque os homens acham errado? Pois eles vão ficar chateados, magoados?

Gente, não cai pedaço assumir a sua parte da culpa.

Até por quê, no minuto seguinte, ele já está de volta à vida normal dele. Não caiu pedaço, ele não está traumatizado, ele não vai perder emprego por causa disso, ele não vai ser rejeitado em vagas de emprego, nem ser visto diferente em um evento de TI por ser homem e por ter sido generalizado. A vida dele vai continuar normalmente.

“Ah, Aline, mas como é que tu sabe que ele não vai ficar mal com isso?”

Simples, passando pela mesma situação!

Pra aprender sobre feminismo, machismo, homofobia, transfobia, etc, eu participei só como ouvinte de muitos grupos no Facebook. Muitos! Eu lia tudo atentamente. E eu descobri, por exemplo, que eu tenho muitos privilégios se eu for comparada com uma mulher negra. Não importa se em algum momento da minha vida eu passei fome, ou se sou mãe solteira, ou se não consigo arrumar emprego por ser mulher! Eu sou, sim, privilegiada se for comparar com o que uma mulher negra passa. Ela passa por coisas muito piores que eu! E elas generalizam quando vão escrever algum texto, escrevem “as brancas isso, as brancas aquilo”. E qual a minha reação? Nenhuma! Eu ainda curto os posts delas! Elas sofrem mais do que eu, ponto. Inclusive muitas sofrem nas mãos das mulheres brancas. É cultural, é histórico. Pra que eu vou ficar respondendo “ah, mas nem toda branca”? Responder isso é desmerecer tudo o que elas passam, é silenciá-las! “Ah, mas vocês não deveriam generalizar!” é resposta de quem não quer aceitar os seus priviégios.

Agora me diz, se você sabe que você faz tudo pra melhorar os problemas de diversidade na sua comunidade ou na sua área de atuação, se você tem a mente aberta pra tentar entender os problemas do próximo, pra se colocar no lugar do próximo, qual o problema se você ler “ah, os homens não cansam de passar vergonha”, ou “as brancas não cansam de passar vergonha”? Você sabe que é um desabafo, porque essas pessoas já passaram por mais coisas que você pode imaginar!

E qual a melhor maneira de respeitar esse desabafo? Ver no que você pode ajudar, e não cobrar a generalização que a pessoa fez. Quando você cobra isso você está diminuindo o sofrimento que essa pessoa passa TODOS OS DIAS.

Se você acha que é melhor que isso, que você não se considera dentro da generalização, apóie! Compartilhe! Leia, estude, veja o que você pode fazer pra melhorar a vida dessas pessoas. Ou apenas fique quieto!

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