Nada de Novo no Front (2022)| Crítica

Guerra é ruim

Gabriel
Tralhas do J’onn J’onzz
3 min readMar 18, 2023

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Existe um longo e extenso debate no meio do cinema sobre como filmar a guerra. Há quem advogue pelo gênero enquanto meio puro de entretenimento, já outros entendem que essa abordagem seria antiética e que produções sobre esses conflitos devem ser feitos com a intenção de passar uma grande mensagem sobre esse assunto. A segunda visão é o que Nada de Novo no Front opta apresentar. Embora concorde com a escolha moral tomada pelo longa, arte não se basta apenas de intenções, todo discurso é submetido a uma forma e é nesse ponto que a obra do diretor Edward Berger, ao meu ver, falha miseravelmente.

O diretor opta pela decisão de hiper dramatizar a ação, com intuito de gerar choque no espectador, porém o que acontece na realidade é o exato oposto do pretendido. Ao tentar fazer com que tudo seja um grande momento que irá te fazer chorar (e que rendeu o Oscar de melhor fotografia, filme internacional e trilha sonora para o longa) tudo se torna extremamente artificial e vazio. Ao meu ver, o filme chega ao ponto de ter uma estrutura semelhante a de uma série de tv mal feita que, após 50 minutos de um episódio desinteressante, coloca algum acontecimento chocante para te fazer ver o próximo capítulo. Assim é Nada de Novo no Front, sempre buscando pelo próximo cliffhanger para manter o espectador preso, o problema é que nenhum desses ganchos é minimamente interessante.

Além disso, ao decidir por essa encenação, o diretor esbarra em outro problema, essa lógica de choque imediato a cada grande cena poderia até funcionar se não estivéssemos tratando de um evento real, no qual pessoas reais morreram e sofreram. Em certos momentos parecia que Berger estava se divertindo em fazer aqueles corpos vazios de personalidade morrerem em tela, sempre buscando por expor ao máximo esse sofrimento, com sua câmera se aproximando desses corpos estripados. É uma abordagem exploratória, que ao tentar criticar guerra, apenas recai em sensacionalismo barato, com direito ao que eu chamo de a cena mais nojenta do cinema em 2022, envolvendo o suicídio de um soldado.

Ainda por cima, nem os momentos pequenos do longa, de interação entre os soldados de fato funcionam, já que ele não dedica nenhum segundo para desenvolver minimamente a personalidade dessas pessoas, além de caricaturas — talvez — porque assim, fosse mais fácil de se explorar do sofrimento deles sem peso na consciência. Para não dizer que tudo é um total desastre, há bons momentos nas cenas em que Felix Kramerer e Albrecht Schuch contracenam, pois o talento dos intérpretes consegue gerar um pouco de ternura. Em meio a uma história tão impessoal e exploratória, é uma das poucas fagulhas de humanidade entre esses “npc’s” vazios que estão em tela.

Nada de Novo no Front é definitivamente um filme que não traz nada de novo, tendo uma abordagem batida a qual não diz nada além do senso comum de sempre (guerra é ruim) e tenta transmitir essa mensagem de maneira digna de um programa apresentado pelo Datena, que diz se sensibilizar pela situação, mas no fim, só a explora. Foi um filme que extraiu de mim o pior sentimento que eu posso ter por uma obra artística: a total apatia e, nos únicos momentos que me retirou dela, foi para sentir desgosto. Não é um desastre total apenas pelo seu elenco e pelo bom trabalho de design de produção na reconstrução da guerra, mas é um claro caso de como no cinema, a forma pode estragar o texto.

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