Spencer (2021) | Crítica
Às vezes, aonde você menos espera os grandes filmes aparecem
Kristen Stewart é uma atriz polêmica por causa de Crepúsculo. Infelizmente, graças a esse preconceito, muitas pessoas simplesmente não deram outra chance a atriz, o que fez muitos ficarem surpresos quando seu nome apareceu como cotado ao Oscar por Spencer. A pergunta é: será que merece? E outra: o filme é bom? Esses questionamentos serão respondidos ao longo do texto.
Spencer é um drama especulativo, o que significa que a obra, ao invés de focar em fatos, visa imaginar uma situação vivida por determinada pessoa (um exemplo é Dois Papas de 2019). O trunfo do diretor Pablo Larraín, junto ao roteirista Steven Knight é escolher uma abordagem intimista sobre a Diana, a fim de fazer um estudo de personagem (histórias que procuram entender a fundo a mente de seus protagonistas).
A partir dessa abordagem, Pablo desenvolve uma das narrativas mais fascinantes de 2021. Sua direção está o tempo todo focada em ostentar e potencializar o talento de Kristen, utilizando de muitos “close-ups” para aproximar o espectador da atriz e fazer com que seus sentimentos sejam sentidos de maneira mais intensa pelo espectador. Além disso, ele sabe comunicar muito bem o que quer com os silêncios. Muitas vezes simples olhares de uma personagem para outra dizem mais do que os diálogos (que são excelentes, por sinal).
A fotografia também merece destaque. Odiretor junto com a cinematógrafa Claire Mathon (que também trabalhou no excepcional Retrato de uma Jovem em Chamas) optaram por uma estética semelhante a um filme da época, então, parece que o longa foi gravado lá em 1991 e está sendo lançado agora - um detalhe muito interessante que o diferencia de obras semelhantes e traz um ar de documentário na parte visual - aumentando a verossimilhança de algumas cenas.
Entretanto, por ser uma história sem grandes acontecimentos, o filme pode acabar ficando maçante para alguns, isso não aconteceu comigo por dois motivos: o roteiro de Steven Knight e a atuação de Stewart.
O primeiro tem como grande trunfo o escalonamento das situações vividas por Diana. No início ela sofre violências pequenas, menos explícitas, como uma envolvendo um colar (que não darei mais detalhes por spoilers). Entretanto, conforme o filme avança, ela vai cada vez mais sendo submetida a situações mais humilhantes, chegando ao ápice quando seu marido sugere que ela estivesse o traindo com outra pessoa. Esses e outros acontecimentos servem para que o espectador entenda o que levou Diana a tomar certas decisões (como seu divórcio em 1996 e ações no próprio filme) e faz sua personagem extremamente complexa e fascinante.
Além disso, os diálogos são ótimos, isso fica mais evidente nas cenas em que a protagonista conversa com sua estilista (uma boa atuação de Sally Hawkins, por sinal), onde ela simplesmente desabafa sobre todos os seus problemas, tornando-a progressivamente mais simpatizável.
Já Kristen Stewart tem o difícil fardo de carregar inteiramente a história, já que os personagens secundários não passam de acessórios para sua construção, e ela manda muito bem. Como disse anteriormente, o diretor faz de tudo para ostentar o talento da atriz e ela utiliza disso em seu favor, em nenhum momento eu vi uma atriz fazendo Diana Spencer (com exceção da cena inicial, na qual, o sotaque britânico ficou muito carregado). Ela some no filme, quase como se virasse a princesa em pessoa, a expressividade dela é uma coisa surpreendente e me convenceu do início ao fim. Se o Oscar for para suas mãos não será injusto. É sem dúvidas uma grande atuação que não poderia ter sido esnobada no SAG (prêmio do sindicato dos atores).
Conclusão:
Todos esses elementos que eu falei (direção, roteiro, atuação, fotografia) servem para o bem maior de uma obra que visa investigar a psique de sua protagonista. Ao meu ver, eles executam isso com maestria, conseguindo me fazer conectar e emocionar com os dramas vividos pela personagem. Em um período em que as grandes produções do cinema vem cada vez mais se reduzindo a interconexões entre os longas (gosto dos filmes da Marvel, mas isso cansa), uma obra que lembra que o grande foco do cinema e, da arte no geral, é transmitir emoções e não puramente questões lógicas (como quantos furos de roteiro o filme tem), se torna especial.
Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐ blin blin!