Patinetes elétricos dominam as ruas do Rio

Rubens Achilles
Transportando Informação
5 min readApr 30, 2019

"Queridinhos" dos cariocas ajudam, mas têm causado acidentes

Uso dos novos "queridinhos" ainda não possui legislação específica — Foto: O Globo

O aluguel de patinetes elétricos por aplicativo tem revolucionado o deslocamento urbano no dia a dia do carioca. Após anos de funcionamento de sistema similar com bicicletas, o Rio de Janeiro ganhou alguns parceiros que disponibilizam patinetes por meio de aplicativos de celular: Grin, Yellow e Petrobras. Como “nem tudo são flores”, os problemas com desrespeito a regras têm intrigado as autoridades, que já trabalham para regularizar a situação.

A principal queixa dos usuários é o preço, que é calculado diretamente pelo tempo de uso, deixando o valor bem salgado em determinados casos. A estudante de cinema Hanna Velloso, de 21 anos, relatou suas experiências com os patinetes.

— É bem prático, fácil de usar. Usei minha primeira viagem grátis e acabei gostando. O problema é que é caro. São três reais para desbloquear e fica bem pesado no final. Mas o importante é que fico menos tempo na rua, que está bem perigosa ultimamente — disse Hanna, que costuma utilizar os patinetes como complemento a outros transportes como metrô e ônibus.

No Rio de Janeiro, no entanto, a falta de hábito nesse tipo de transporte e a ausência de ciclovias em boa parte da cidade dificultam o respeito total às regras, que são, por muitas vezes, desconhecidas pelos usuários. Embora não haja legislação específica para esse tipo de veículo, o Conselho Nacional de Trânsito possui normas para sua utilização.

De acordo com decreto experimental de 2018, nas calçadas, o limite de tráfego é de 6 km/h, para não assustar ou mesmo arriscar os pedestres. Em ciclovias, 20 km/h. Nas ruas, as regras são as mesmas que as das bicicletas, que também nem sempre são respeitadas. A utilização do medidor de velocidade e de luz noturna também é obrigatória. O capacete é apenas recomendado.

Embora as regras do Contran não prevejam a circulação dos patinetes em vias para carros, é importante que o usuário tenha o bom senso de respeitar a mão dos carros e os semáforos, ponto frequentemente violado por quem anda de bicicleta.

O não uso dos equipamentos de proteção e o desrespeito a regras já provocou acidentes. Em Copacabana, ao menos dois hospitais receberam pacientes que caíram das scooters. No Copa D’Or, foram 30 só no último mês. No São Lucas, 40. Cinco destes casos são considerados graves, incluindo traumatismos cranianos.

Em entrevista ao jornal O Globo, Daniel Ramallo, chefe da Ortopedia do Copa D’Or, disse que se trata de um fenômeno novo, mas que já se tornou frequente.

— Recebemos pacientes, jovens e de meia idade, praticamente todo dia. […] É fundamental usar equipamentos de segurança para evitar traumas de membro — ponderou Daniel.

Outro ponto que é uma ingógnita é o transporte de crianças. As empresas estabelecem que só maiores de 18 anos podem utilizar o serviço, mas pais têm levado filhos, submetendo-os aos riscos. No Centro, skatistas e usuários dos patinetes nem sempre se entendem e quase se atropelam.

As regras ainda estão em estudo, e espera-se que a Secretaria Municipal de Fazenda finalize um decreto definitivo que regulamente o serviço de aluguel. A partir de então, as empresas que desrespeitarem a lei poderão ser punidas. Por isso, algumas empresas cogitaram parcerias com a Guarda Municipal, de modo a reforçar o patrulhamento e obter uma contrapartida.

Segundo Fernando Pedrosa, especialista do Instituto de Tecnologia para o Trânsito Seguro, que também concedeu entrevista ao jornal O Globo, há um vácuo normativo no âmbito federal.

Possível parceria com a Guarda Municipal pode facilitar a normas mais leves para as empresas — Foto: O Globo

— Tratando-se de transporte e mobilidade, a regra deve ser padrão para todo o país, e as autoridades municipais devem fazer os ajustes de acordo com a topografia e o comportamento da população — disse Fernando.

Além dos riscos para a saúde do próprio usuário, os patinetes também têm sido usados para o mal. Só em 2019, ao menos 12 pessoas foram assaltadas por criminosos que utilizavam os veículos. Em Copacabana, um caso de quatro assaltantes sobre patinetes que cercaram uma ciclista impressionou a polícia.

Isso ocorre porque os aparelhos, que possuem trava quando não estão desbloqueados, se tornam utilizáveis quando acaba a bateria. Moradores de rua e outros usuários que descobriram o “macete” são frequentemente vistos com os veículos, mas o perigo é quando ladrões encontram o método para facilitar sua fuga.

Aliás, problemas com bateria baixa e patinetes quebrados ou danificados também têm incomodado os usuários. O editor de vídeos Marcelo Gomes, de 29 anos, contou sobre os problemas que teve com a Grin, a principal distribuidora do serviço na Zona Sul.

— Uma vez eu fiquei quase 50 minutos para encerrar uma viagem, porque o patinete estava sem bateria e não respondia. O chat não me respondia, então fiquei preso naquele lugar. Uma semana depois, demorei meia hora para conseguir encontrar um patinete bom na Praça Mauá. Todos que peguei estavam sem acelerador funcionando ou mesmo com o botão quebrado.

As empresas, como é comum a novidades do mercado, têm tido política de devolução em caso de problemas simples. Viagens muito curtas, por exemplo, não são cobradas, de maneira automática. O aplicativo pede feedback em casos assim.

Apesar dos inúmeros problemas, os patinetes parecem ser uma nova tendência, e têm tudo para contribuir para deslocamentos na cidade. O custo alto e a ausência de ciclovias podem ser contornados, respectivamente, por aumento na demanda e implementação de mais ciclovias na cidade, por parte do poder público. Aliás, o primeiro pode acabar como consequência do segundo.

No último fim de semana, no evento de criatividade Rio2C, na Barra da Tijuca, os patinetes da Petrobras foram muito utilizados para deslocamento interno, em parceria com o próprio evento. É uma marca com menor disponibilidade pela cidade, mas com preço que cabe um pouco mais no bolso.

Quanto à Yellow, está se expandindo, mas tem custo similar à Grin. A diferença é trabalhar com carteira virtual, em vez de pagamento por demanda. Aí vai da preferência de cada um. Se a tendência for um serviço de qualidade, com concorrência e sem monopólio, e que seja regulamentado e tenha suas regras respeitadas, o carioca pode abraçar o novo meio de transporte que já conquistou o mundo.

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