ensaios: O espaço das mulheres no mundo corporativo

Ainda existe machismo nas empresas? Sim ou com certeza?

Gabi Botura
Tree Hub
4 min readMar 12, 2020

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Fonte: Marina Bianco e Luis Cabral
Fonte: Marina Bianco e Luis Cabral

Quando abordamos esse tema o que muitas vezes vem à cabeça é:

“Será mesmo que o machismo ainda está presente nas empresas?”

“Será que mesmo diante de tanta transformação, do avanço tecnológico, da quebra de tantos paradigmas, da valorização da diversidade, ele ainda assim tem espaço no mundo corporativo?”

E a resposta é simples e objetiva. Sim! Infelizmente o machismo ainda se faz presente em muitos (para não falar todos) contextos.

Me marcou muito uma situação que vivi numa grande empresa quando ministrava um treinamento para os líderes. Estávamos falando sobre competências comportamentais, soft skills, reforçando o quanto só as competências técnicas, as hard skills, não são suficientes. Propus então que sugerissem uma função qualquer para falarmos sobre quais as possíveis competências comportamentais seriam coerentes para aquela posição naquela empresa. A sugestão foi “secretária”. Nem preciso mencionar que o fato de este cargo sempre aparecer no feminino é no mínimo curioso e já pode nos gerar uma baita reflexão.

Mas passaremos para a próxima parte, onde o machismo aconteceu da maneira mais descarada possível. Um dos líderes, já podem imaginar que em sua maioria eram homens, fez o seguinte comentário: “Precisa ser bonita, cheirosa” e logo em seguida soltou uma risada debochada. Obviamente ele não foi o único a rir, outros homens e inclusive mulheres também riram. Pois é, muitas mulheres não se dão conta que estão assumindo uma posição machista quando riem desse tipo de coisa. E muitas também assumem que de fato são (mas creio que hoje em dia sejam a minoria).

Diante de tal comentário, que me deixou pasma, mas não sem palavras, devolvi: “Você está falando sério? Isso é puro machismo”. Ele riu novamente, como se realmente não tivesse falado nada demais. Em seguida falei “Com certeza o que ela precisará ter é muito posicionamento para lidar no dia a dia com pessoas como você”. Foi um pouco ousado da minha parte, uma vez que eu estava ali como prestadora de serviço, mas eu como mulher, não poderia deixar aquilo passar em branco. O assunto se encerrou ali e o treinamento seguiu, assim como minha angústia diante do ocorrido.

Refleti sobre quanto o machismo ainda está presente nas organizações, ora escancarado, ora velado.

Infelizmente ainda temos um índice muito menor de mulheres em posição de liderança. As mulheres que estão em cargos de gestão, na sua maioria ganham menos que os homens que estão na mesma posição e área de atuação. Os comentários machistas e desrespeitosos para com as mulheres ainda estão presentes nos corredores das empresas, e não pensem que isso só acontece em empresas ditas como “tradicionais”, estamos falando de todo tipo de empresa, desde as mais conservadoras até as mais modernas e tecnológicas.

Não podemos deixar de reconhecer que houve sim uma melhora, uma maior abertura para as mulheres no mercado de trabalho, mas ela está longe de ser suficiente. A sensação de muitas profissionais mulheres ainda é de que precisam fazer um esforço extra para provarem que são capazes, que sabem do que estão falando.

Sim, em meio a era do conhecimento, da informação, da tecnologia, ainda temos que lidar com algo tão arcaico como o machismo.

Por isso, quando as empresas mais conscientes resolvem encarar esse tema como uma questão social séria e se propõem a fazer algo, poxa, como isso é significativo! Como isso faz diferença!

Empresas responsáveis e humanizadas não fazem distinção de gênero em hipótese alguma. Pelo contrário, fazem questão de trazer cada vez mais mulheres (e também pessoas de outros gêneros) para fazer parte do seu quadro de colaboradores.

Esse movimento, na minha humilde opinião, pode gerar impactos muito positivos a médio/longo prazo em nossa sociedade.

Pesquisas mostraram recentemente que empresas que investem em políticas de igualdade de gênero e diversidade apresentam melhores resultados, inclusive na sua rentabilidade.

Essa é a conclusão do relatório Women in Business and Management: The Business Case for Change, divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão pertencente à ONU.

Outra conclusão muitíssimo interessante é que empresas que apostam na igualdade de gênero e têm mulheres em cargos de liderança atraem e retêm talentos com mais facilidade. Em relação à rentabilidade, a maioria das empresas que adotam a diversidade relatou crescimento de 10% a 15% em sua receita.

Esse debate deve sempre que possível ser trazido à tona, até mesmo como forma de avaliarmos o quanto já evoluímos e o quanto ainda falta evoluir, como seres humanos e como sociedade.

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Gabi Botura
Tree Hub

Psicóloga apaixonada por pessoas e organizações dispostas a se reinventarem. Acredita que a empatia faz diferença em qualquer contexto.