os cigarros e o fumo

vinícius vidal
Tremoçø Fiend Club
7 min readJun 29, 2016
coffee and cigarretes” do Jim Jarmusch, na cena Tom Waits e Iggy Pop discursam sobre o ato (obviamente com café). delícia usar referências pretensiosas.

comecei a fumar com 16 anos. 1999.

por rebeldia juvenil, curiosidade, auto-afirmação e romantização do ato.

iniciei com o Hollywood Mentolado.
custava R$ 1,80. caro.
na época era novidade, mas descobri que ainda é fabricado esse negócio e faz até que relativo sucesso.

pirava no sabor safado que dava no final de cada tragada, hoje não rola mais, ele e qualquer outro de sabor (menta, cereja, chocolate, cravo, tuti fruti ou algo do tipo) dá enjoo e dá ânsia de vômito em roles de alto consumo alcoólico.
se você passou dos 25, já é crescido o suficiente para saber disso.

depois namorei por um tempo com o L&M.
era mais barato. R$ 1,20.
gostava do logo do L&M.
a tipografia e as cores.
mas nunca soube o significado do L nem do M e pouco importa.

essa foi a melhor foto que achei, tenho a menor idéia do que está escrito embaixo

parei de fumar durante uma parte do ensino médio. 3 anos.

aos 20 comecei a trabalhar em uma fábrica, turno da madrugada. ficava isolado durante 8 horas com um garrafa de café de frente, jantava uma marmita com salitro e tinha duas telas de um sistema entendiante que controlava tubulações onde transitavam GASES.
uma coisa levou a outra. o saco de ter de passar 8 horas por dia naquele lugar fedendo a fumaça e fluor me deu a bela idéia que talvez fosse hora de voltar a fumar enquanto lia alguma coisa.

o L&M retornou.
tratava aqueles maços com certo carinho.
e ele durava bastante, uma semana.
fumava bem pouco.

depois por algum motivo comecei a fumar o Hollywood vermelho. famoso estoura peito. o melhor custo benefício na época. Custava já R$ 2,50 e como era forte dava pra fumar menos e durava o investimento.

nessa época o Hollywood faziam os melhores comercias de TV depois do Marlboro. não que quisesse virar um atleta que subia uma montanha gelada e acendia o cigarro no topo com puta trilha no fundo. mas eu achava demais aquilo.

achei no Youtube a coletânea de comerciais dos anos 80, não são da minha época, as imagens são uma porcaria, mas deviam ser incríveis naqueles anos. tosco, emocionante além das belas trilhas bregas AOR com Whitesnake, Asia, Journey e Kansas.

quando mudei pra cidade grande (a.k.a. São Paulo) o Hollywood continuou presente até saber que o Shelton era um cigarro com gosto parecido (ruim) e mais barato.
80 centavos mais em conta. dava pra comprar 5 maços com 10 reais.

fumante que é fumante tem que pensar na economia para o cigarro durar o máximo de tempo e não ter que se deslocar até a próxima padaria ou banca de jornal em momentos inusitados.

o Shelton talvez tenha sido o cigarro mais “sem glamour” que já fumei até os dias atuais. não tinha comercial na TV nem nas revistas e ninguém se importava.
não que eu lembre. foi parceiro por um bom tempo. até chegar no Marlboro.

influenciado pela “modernidade da sociedade paulistana” iniciei o flerte com o Marlboro. tava na real querendo ostentar. fui uma vez no Pão de Açucar e pedi um pacotão de Marlboro Light Box com 10 unidades.
típica coisa de playboy, de gente aposentada, com a vida ganha, ou de pobre que quer tirar onda.

gastei na época R$ 40,00. R$ 4,00 cada 1.
2004 acho.
caríssimo.
me senti O CARA.

mas a investida no Marlboro durou pouco. como um bom quebrado não dava pra continuar imitando a vida de gente estruturada. alternei entre o Shelton, Hollywood e L&M. teve vez que por precariedades abracei o grande e clássico Derby e até o Charme.

aí veio a época de um ex roomate mala e uma ex namorada que odiavam cigarro. imagina morar e namorar um fumante inveterado e não suportar aquele fedor e fumaça?
cheiro na barba, mãos, cara, olhos, orelha, lençóis, cobertas, cortina, camiseta.
deve ser uma merda mesmo.

eu não ligava, mas para não alimentar uma guerra diminui o consumo e comecei a fumar o Free Light escorado na janela e com ventilador ligado na fuça.

quem não fuma talvez não saiba, mas o Free Light é tipo pedir pra você tomar cerveja sem álcool ou comer soja imaginando que é um belo bife.
quase isso. uma bosta. eu sugava aquela merda e nada acontecia. frustante.

tudo pelo bem do relacionamento. que um dia acabou.

as discussões sobre o tema eram longas, enormes, repetitivas, em looping. eu já sabia de cor várias coisas/doenças que eu iria/vou ter. óbvio que o relacionamento não acabou por isto, mas que deu aquela forcinha extra deu.

o lance é, quem não fuma acha que o fumante é um idiota, estúpido, quase um ser não pensante, mas acredite, nós fumantes somos sim idiotas estúpidos mas gostamos tanto do ato que acredite ou não assumimos a responsa.

e não é cool não greta gerwing. a gente sabe disso. ninguém mais fuma porque é cool. ao menos não deveria.

saca, é tipo o gordo conformado que ama comer e manda se foder todos os padrões de beleza e estética, eles são poucos, mas tem total meu respeito e admiração.

foda mesmo são os traíras hipócritas e os ex-fumantes-salvadores-de-almas.
são um pé no saco. piores que todos os caga regras.

os traíra fumam e choram a ladainha quando alguém enche o saco:

- não consigo parar, é minha fraqueza!
- é mais forte que eu e todo mundo precisa de um vício não é?

já os ex-fumantes-salvadores-de-almas querem convencer a todos a fazerem o mesmo.

-meu paladar melhorou muito!
-comecei a correr!

um porre.
causam inveja aos testemunhas de jeová.

tem também os fumantes de ocasião, de balada e bunda moles que fumam escondido da mãe/pai, namorado/namorada. insuportáveis. não sabem fumar, queimam as pessoas, alopram com a fumaça pois eles não manjam as regras de onde pode fumar e onde não pode, não entendem das DIREÇÕES DO VENTO, não compram o próprio cigarro e filam o alheio. não façam isso.
é mais do que socialmente deselegante. é um saco mesmo.

depois de um longo período de Free, abracei o Marlboro Light de vez. as condições financeiras davam um certo suporte a postura radical. sou boy, se posso tomar banho de Dove, limpar a bunda com Neve, posso fumar Marlboro Light, certo?

a real é que o Marlboro é tipo a Apple do cigarro. nunca entendi porque todos fumam ele, mas é tipo 9 em 1 no rolê dos concorrentes. isso pelo menos quando estamos falando de classe média. para o pobre sem frescura que quer que se foda o status quo classe mediano é de Derby pra baixo. muitos só fumam o Eight (paraguaio), porque costuma custar R$ 2 ou R$ 4 no máximo e tem em vários botecos cujo qual não possuem lá muitos documentos para estarem funcionando.

tive minha fase do Camel assim que eles voltaram a distribuir prá cá, amarelo e azul. alternei entre os dois. sempre curti também a marca simpática e estética do Camel porém era e é difícil ainda de achar.

e se é complicado de achar você desencana e procura outro. pois se tem uma coisa que fumante manja além de economia e vento, é da logística do cigarro.

amigo, você não faz um role com pouco cigarro, não espera a padaria fechar pra agilizar a compra de um novo maço caso esteja acabando com o seu e sempre se orienta sobre a vizinhança de onde você está. já cheguei a ir pra balada ou eventos onde iria ficar por muito tempo com 2 maços no bolso.
é muito mais importante que sinal de 3G ou bateria de celular.

e sim, uma festa/evento/rolê pode acabar se não tiver mais cigarro.

durante uma viagem pra gringa uma das minhas maiores preocupações na preparação da viagem foi obviamente o cigarro mais até que a quantidade de cueca e meia que iria levar. foi a melhor decisão. cigarro na Europa é muito caro, quase 20 reais o maço. levei dois packs de Marlboro Light maço e durou durante 20 dias de rolê. várias vantagens. até vendi 1 cigarro por 1 euro para um irlandês que estava bêbado demais para enrolar aquele negócio de fumo solto que eles fumam por lá.

aí eu conheci o WINSTON.

é o meu cigarro atual. veja só. o velho e clássico Winston. já vi muito ele pra vender, mas sempre o ignorei. mas amigo, quando o cigarro chega ao patamar dos R$ 8,00 você tem que mexer sua bunda. lembra-se da economia?

o Winston custa atualmente R$ 5,00. se em 2003 isso era caríssimo, hoje em dia é um dos mais em conta.

2 carteiras por 10 mango. Isso é bonito.

e acredite, a relação com ele tem sido proveitosa e amistosa, até por que ele é bem fácil de se encontrar e o sabor é okey. recomendo caso te interesse.

e é isso.
durante a escrita desse texto fumei 2 cigarros e ouvi o primeiro álbum do Crystal Castles de 2008 que não tem menor relação com o tema.

flw. vlw.

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