H-AL: Arte têxtil e moda autoral curitibana
A evolução das máquinas e da tecnologia deu margem para que o mercado de moda se expandisse e começasse a produzir em escalas gigantescas; alinhando isto a uma economia capitalista e a uma cultura de padronização social a moda começou a ficar cada vez mais mecânica e sem identidade. É possível ir a um shopping, por exemplo, e encontrar peças quase idênticas em diferentes lojas, ou ir à um festival de música e encontrar inúmeras pessoas usando a mesma camisa; como aconteceu com o caso de uma camisa amarela listrada das lojas Renner no festival Rock in Rio 2019 que virou meme nas redes sociais porque várias pessoas a escolheram como parte do look para o festival.
Não somente essa expansão do mercado trouxe a falta de uma autenticidade às próprias marcas de roupa como também trouxe o consumo exagerado pelo o que é novo e trend, criando roupas efêmeras, visando o lucro sem pensar sobre os resíduos poluentes que são gerados durante seus processos de confecção. O Fast Fashion imergiu no mercado, mas está afundando, dando espaço para movimentos que trazem uma visão mais consciente e dinâmica de moda e design através do Slow, do Less e do Eco.
Baseada sob os parâmetros do Eco e Slow Design, a H-AL é uma marca curitibana que traz um novo pensar ético e estético sobre o usar e consumir moda. O ateliê situado na Mercês é dirigido pelo casal de estilistas e artistas Alexandre Linhares e Thifany F., a marca segue o conceito de criar “peças de arte vestíveis” ao misturar a matéria-prima — o tecido — a técnicas artesanais de forma experimental. A moda tradicional está longe do propósito da H-AL, que tem seu foco com a experimentação têxtil sem seguir tendências ou imposições do mercado, buscando traduzir um processo artístico que poderia ser feito em uma tela ou no teatro para a roupa.
Seguindo bases e valores sustentáveis como o upcycling, redesign, zero waste, localvore e a economia circular, as criações da H-AL são feitas a partir de retalhos e resíduos têxteis provenientes de ateliês e indústrias curitibanas. Doações de artistas e retalhos antigos também preenchem as construções da dupla; pedaços de tecido que foram guardados com carinho como retalhos de vestidos de noivas, toalhas de mesa, entre outros são usados na criação de algo novo. Em entrevista à revista Topview em outubro de 2018, Alexandre resume estes resíduos têxteis como “fragmentos de celebração”, afirmando que cada pedaço de tecido que chega ao ateliê possui uma história. A junção destes materiais somados as técnicas de patchwork, matelassê, bordado e pintura, resulta em uma peça de roupa singular que questiona como consumimos, nos expressamos e qual a nossa posição no mundo.
Aproximando cada vez mais a arte do fazer moda, as coleções tomam vida ao serem apresentadas através de performances, espetáculos autorais e desfiles independentes que acontecem em museus, calçadas e dentro do próprio ateliê. A H-AL também já foi convidada a produzir figurinos para teatros e para celebridades nacionais, o mais recente foi o figurino de Elza Soares no Rock in Rio 2019.
É impossível não ser capturado pela excentricidade da H-AL, as peças buscam representar uma visão de mundo e trazer questionamentos sobre o ato de se vestir e se expressar onde tudo o que consumimos reflete quem somos. O que faz a H-AL ser atemporal é o seu conceito autêntico e os seus valores inegociáveis de fazer moda consciente. Ser parte da exposição dessa arte é um convite intrínseco dos estilistas Alexandre Linhares e Thifany F. a olhar e sentir a moda com um frescor sustentável e contemporâneo aonde os questionamentos e respostas são infinitos.
Fontes: https://www.h-al.com/
http://bienaldecuritiba.com.br/2018/2018/10/25/alexandre-linhares-e-thifany-f/
