Leaf: design simbólico
Com o intuito de ter uma produção eficiente e de baixo impacto ambiental surgiu o estúdio Leaf Design, uma empresa brasileira que produz acessórios de madeira como óculos, headphones, mosquetões, entre outros.
A empresa que se recusa a ser empresa, como a Leaf se intitula, tem uma produção mais complexa a fim de não exceder limites exorbitantes de árvores utilizadas. Em seu site institucional, a marca diz que a fabricação dela não usufrui de mais de quatro árvores inteiras, com relação à quantidade de madeira.
Contudo, a preocupação da Leaf não está apenas em palavras, mas também em atitudes da empresa. O estúdio participa do programa Amigo da Floresta da Iniciativa Verde, o qual faz o plantio de áreas desmatadas na região da Mata Atlântica, mais especificamente no sistema da Cantareira.
Além da preocupação com a produção de baixo impacto, o estúdio tem a inquietação de como o produto dele é feito. A corroboração pura disso está na forma de produção. A fabricação dos acessórios da marca acontece de forma manual, pois acredita que não há máquina melhor que o ser humano:
Querer fazer a mão é difícil. Depende de gente. Depende se a pessoa acordou bem no dia, se está tudo bem na casa dela. Depende de alguém querer, de verdade, fazer bem feito, mas quando sai, ah meu amigo, aí não tem igual, porque a gente acredita que, lá no fundo, não tem máquina melhor que o ser humano (Leaf, 2017).
Distante de todo esse cuidado com os materiais e método de produção — que pode ampliar o valor de uma peça — está a identidade estética da marca, que para muitos é a valia mais atraente. A Leaf não se contenta com o mesmo do mesmo, portanto, busca trazer modelos com formatos bem diferenciados dos óculos convencionais, conciliando com o toque e aspecto rústicos da madeira, os quais dão singularidade a todos os produtos.
Isso é confirmado com a parceria mais recente que o estúdio fez com a cervejaria Colorado. Os óculos de edição limitada são produzidos misturando a madeira com o bagaço do malte do Urso, resultando em uma textura única.
Embora essa estética ímpar seja mais visível em edições limitadas, chamadas de Custom Series, não se pode concluir que não contemple os produtos de linha, pois os artigos que nunca saem de catálogo também trazem um apelo estético forte. Desde os óculos mais quadrados aos mais arredondados, o diferencial está na modelagem da peça. Por exemplo, os óculos denominados de Velma, que trazem referências das peças de lentes dos anos de 1970.
Por ora, foram apresentados alguns aspectos que mostram como a construção de valores simbólicos podem acontecer para criar a relação de indivíduo e objeto: do apelo estético ao pertencimento de um mundo possível; da singularidade de uma modelagem à identidade de estilo; de uma iniciativa em prol do meio ambiente à sensação de estar desempenhando uma boa ação.
Porém, um pouco além desses valores construídos a partir de métodos de fabricação, design e escolha de material, pode-se citar a construção de estima. Essa pode ser proposta com simples atos da empresa para o cliente.
E um dos atos do estúdio é criar uma relação extremamente forte com a música, pois, para a Leaf, é uma forma de conectar as pessoas. Isso está presente na embalagem dos produtos, podendo apresentar uma ligação entre o artigo e indivíduo.
Por conseguinte, pode-se dizer que um produto carrega valores muito além de seu corpo físico -material utilizado, estética, modo de fabricação- também carrega valores que podem ser subjetivos, mas, mesmo assim, criam uma relação de estima com o consumidor.
