MISCI: Sustentabilidade, inclusão e diversidade!
Segundo o Dicionário Aurélio (p.498, 2001), miscigenação é “Cruzamento de etnias; caldeamento; mestiçagem; mestiçamento; mistura.” Já Géssica Borges, mestre em estudos africanos, define miscigenação como “processo gerado a partir da mistura entre diferentes etnias. Os seres humanos miscigenados apresentam características físicas típicas de várias “raças”.” Misci deriva da abreviação desta palavra, escolhida por Airon Martin para nomear sua marca, devido a suas raízes indígenas, sulistas e nordestinas e o fato de a maior parte do povo brasileiro também ter essa diversidade nas suas origens.
Airon Martin, nasceu e cresceu no interior do Mato Grosso do Sul, criado pela mãe e avó, veio de família tradicional e conservadora. Logo, vestuário e desenho de móveis não foram sua primeira escolha de profissão. Na verdade, Airon cursou direito, por pressão familiar, não finalizando o curso. Depois, decidiu tentar medicina, indo até Buenos Aires para tal mas também não concluiu a graduação. Porém, durante sua experiência na capital argentina teve seu primeiro contato com o design, apaixonando-se instantaneamente.
Voltou para o Brasil, estudou no Istituto Europeo di Design, então trabalhou no Estúdio Paulo Alves e Marcenaria Trancoso. Logo após, resolveu abrir seu próprio escritório de design, onde trabalhava com clientes específicos, fazendo branding e projetando interiores. Segundo Martin, a Misci surgiu a partir deste escritório, de forma rápida e súbita.
A marca foi fortemente influenciada pelas fortes mulheres presentes na vida de Airon, principalmente sua avó materna, Dona Lucia, que o criou. Esta era uma empreendedora, apesar de seu baixo grau de escolaridade, pois abriu um prostíbulo para sustentar suas quatro filhas. Além disso, a Misci também prega valores de pluralidade, respeito, inclusão e diversidade em seus produtos.
A primeira coleção da marca transmitiu excepcionalmente o conceito de igualdade da marca. Com o nome de “Human Race”, contemplou o fato de que as diferenças de cada pessoa se completam na formação da sociedade. No final, somos todos parte de uma mesma raça humana. Lançada em agosto de 2018, contou com peças amplas, tecidos naturais e brasileiros, uma estética leve e moderna, trouxe uma brasilidade sem obviedade. Inspirada fortemente no modernismo brasileiro.
As peças eram genderless, trazendo a ideia de igualdade. Mas apesar de serem vendidas comercialmente como sem gênero, Airon afirmou colocar mais referências femininas, devido a já mencionada influência de mulheres em sua vida. A modelagem era oversized, abrangendo a maior parte dos corpos, e reforçando a ideia de que a raça humana é uma só.
Houve também a união do vestuário com o mobiliário. A cadeira UNI, nomeada em homenagens a uma amiga trans do designer, é uma cadeira onde todos se sentem confortáveis. Caracterizada pelo minimalismo, a cadeira pode virar uma namoradeira para duas pessoas, ou deixar o público plus size mais confortável.
Martin afirma que a vontade de ter uma marca que unisse as diferenças e o fato de que apesar dessas diferenças somos todos iguais sempre o acompanhou, queria criar mais do que produtos, mas um ideal de vida e sociedade. Pode-se afirmar que Airon teve sucesso, a Misci não vende apenas itens de vestuário e móveis, ela reproduz a história do designer, a identidade do povo brasileiro e passa uma lição de igualdade. Segundo seu próprio criador, ela representa o alívio no meio do caos urbano.
Referências:
5 MARCAS BRASILEIRAS GENDERLESS. Whatelse. Disponível em: < https://www.whatelsemag.com/5-marcas-brasileiras-genderless/>. Acesso em: 14 outubro 2019.
CONHEÇA A MISCI. Globo. Disponível em: < https://gq.globo.com/Estilo/Moda-masculina/noticia/2018/12/conheca-misci-marca-que-faz-moda-masculina-inspirada-nas-mulheres.html>. Acesso em: 14 outubro 2019.
LANÇAMENTO MISCI. Cartel 011. Disponível em: < https://www.cartel011.com.br/news/20/8/2018/lanamento-misci-human-race>. Acesso em: 14 outubro 2019.
MODA COM RESPEITO. Globo. Disponível em: < https://gq.globo.com/Estilo/Moda-masculina/noticia/2018/08/moda-com-respeito-primeira-colecao-da-misci-quer-abracar-diferencas.htmll>. Acesso em: 14 outubro 2019.
“TRABALHO COM COSTURA VERMELHA PARA REMETER AO SANGUE, ELE TEM A MESMA COR NA RAÇA HUMANA” DIZ AIRON MARTIN DA MISCI. Heloisa Tolipan. Disponível em: < https://heloisatolipan.com.br/moda/trabalho-com-costura-vermelha-para-remeter-ao-sangue-ele-tem-mesma-cor-na-raca-humana-diz-airon-martin-da-misci/>. Acesso em: 14 outubro 2019.
