O Futuro é Sob Medida

Gabriel Dilay
Trend-In
Published in
3 min readNov 11, 2019

Quando o consumidor necessita de uma nova peça de vestuário costuma ir à uma loja física tradicional ou, mais recentemente, também busca o produto em lojas on-line. Assim, o mesmo se vê obrigado a comprar algo com medidas, cores, estampas pré-definidos e, muitas vezes, produzidos em massa. Por este motivo, não é incomum que este consumidor encontre alguém trajando exatamente a mesma peça ou uma peça muito semelhante. Motivados por situações como essa, surge um movimento contrário a este tipo de produção, que visa satisfazer as necessidades e desejos de cada cliente individualmente.

Além de consumidores que buscam se diferenciar na multidão, há cada vez mais uma preocupação com a sustentabilidade. Uma soma de fatores na forma que a sociedade consome geram sérias mudanças nos processos produtivos e na dinâmica do mercado do vestuário.

Dados indicados em matéria da Folha de São Paulo (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/07/busca-por-roupas-sob-medida-traz-atelies-de-costura-de-volta-a-moda.shtml) mostram que a busca por roupas sob medida vem crescendo e, com isso, os ateliês de costura e alfaiataria voltam a ter seu lugar no mercado. Inclusive escolas de corte e costura registraram aumento de inscrições em porcentagens entre 25% e 50% de 2017 para 2018.

Outro tipo de consumidor, que também se encaixa nessa busca por exclusividade e sustentabilidade, é quem consome em brechó. Para estes, nada melhor que pagar barato em uma peça exclusiva e aumentar o ciclo de vida de uma peça que seria descartada. Se há poucos anos os brechós eram vistos como depósitos de roupas sem utilidade, hoje elas ocupam os mais diversos lugares, desde bairros nobres até o Instagram (https://epocanegocios.globo.com/Mercado/noticia/2019/02/epoca-negocios-roupa-vintage-de-segunda-mao-reaparece-como-alternativa-de-consumo.html). As peças de brechó também podem passar por um processo de ressignificação e customização. Novas marcas, que atendem os mais diversos públicos, já tem utilizado esse processo chamado upcycling. Um exemplo é a Insecta Shoes (https://www.insectashoes.com/p/sobre), marca de sapatos que utiliza peças de roupas usadas, além de tecidos de reuso e garrafas pet recicladas.

Esse movimento é um grande desafio para a indústria da moda em geral, já que os processos produtivos de grandes empresas sempre se viram obrigados a adaptar-se ao comportamento imediatista e em grande demanda dos consumidores. Não apenas porque a padronização facilita a produção, mas também reduz o valor e o tempo gasto no processo. Por outro lado, gera estoques de peças paradas e resíduos, pois a produção normalmente é muito maior do que as peças vendidas.

De olho nesse público, grandes marcas já têm começado a investir para atrair esses clientes. A gigante Adidas, por exemplo, possui a tecnologia de impressão 3D e em um processo criado em parceria com a empresa Carbon, criaram a tecnologia chamada de 4D. No momento, esta tecnologia é apenas usada na produção da entressola de tênis, que inclusive já podem ser encontrados à venda, até mesmo no Brasil, mas ainda são produtos caros, mesmo se comparados a outros de topo de linha da marca. O objetivo da Adidas, no futuro, é que com um scanner 3D, possam comercializar um tênis feito sob medida, gerando mais conforto. Este processo também não geraria resíduos materiais.

Para o futuro, não podemos esperar menos do que a utilização das impressoras 3D, revolucionando a forma de produzir e consumir o vestuário como conhecemos. A tendência é a popularização desta técnica e que uma variedade cada vez maior de materiais possa ser usada para fazer essas impressões. Isso permite mais autonomia ao consumidor ao fazer as suas escolhas. De tal forma, seria possível criar um produto exclusivo, sob medida e sem sair de casa, sem precisar aguardar a entrega e com a certeza de que vestiria de forma perfeita.

Com tantas opções, cada vez mais popularizadas e acessíveis ao consumidor, é de se esperar que nos próximos anos os grandes varejos da moda acabem sucumbindo. No Brasil, por exemplo, 85% dos brasileiros já dão prioridade para consumir de marcas que se preocupem com a sociedade e com o meio ambiente (https://economia.estadao.com.br/noticias/releases-ae,o-papel-do-consumidor-nos-avancos-da-moda-sustentavel,70001699370). A competitividade do mercado vai exigir que cada vez mais a prioridade seja o consumidor em si e não em atender as demandas de formas generalistas.

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