Abismo tecnológico separa portais de transparência do Metrô e da CPTM
Soluções arcaicas e mal configuradas deixam CPTM comendo poeira quando o assunto envolve abertura de dados
Enquanto a Companhia do Metropolitano de São Paulo (METRÔ, comumente grafado Metrô) ostenta um portal de transparência baseada numa plataforma dedicada e especialmente desenhada para abertura de dados (DKAN), a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) continua improvisando soluções dentro do Microsoft SharePoint.
A primeira má impressão com relação ao portal da CPTM começa com os ícones: além da ausência de um ícone para a seção “Prestação de Contas / Contratos de Publicidade”, o alinhamento é, no mínimo… curioso.
Mas os problemas continuam: as informações cedidas pela CPTM nem sempre prezam pela padronização e disponibilização em formatos abertos, além disso, nem sempre estão à altura do estado de São Paulo, transparecendo amadorismo e precariedade, dois sinais preocupantes, pois podem alertar para o possível sucateamento da parcela da máquina pública estadual voltada ao transporte metropolitano.
A consulta da apresentação de slides e da planilha voltada ao acompanhamento das obras das estações entre os anos de 2013 e 2019, por exemplo, conforme já pincelamos em artigo anterior, resulta na necessidade de abrir dois arquivos compactados em formato ZIP, que, nos dois casos, apresentam nomes com problema na codificação de caracteres (uma constante em arquivos compactados a partir do Windows Explorer) e arquivos em formato OpenXML da Microsoft, que não é exatamente aberto (vide discussões aqui, aqui e aqui). A qualidade dos dois documentos está longe de ser adequada, com títulos tortos, ausência de fotografias e colunas escondidas.
Já as apresentações sobre os serviços de atendimento com base na Lei de Acesso à Informação 12.527/2011 são brutalmente distintas: o portal do Metrô indica, na lista de resultados, o formato e, no caso de documentos em formato PDF, permite a visualização embarcada, enquanto a CPTM segue com a predileção por arquivos do Microsoft Office, ficando a critério do interessado se virar com os dados do último relatório (2019). Se os dados não abrirem devido ao formato inadequado escolhido pela estatal ou devido à ausência de histórico dos anos anteriores, o interessado precisa se tornar um número e pedir os dados manualmente com base na mesma lei, o que pode levar um mês.
Para piorar, em alguns casos, devido à configuração inadequada do site da CPTM, é possível enxergar arquivos e pastas no Sharepoint de forma totalmente descaracterizada.
Outro problema de configuração diz respeito à busca. A localização de informações não só é mais fácil no portal de transparência do Metrô, que conta com uma busca dedicada, mas também exibe apenas itens relevantes, enquanto a busca da CPTM exibe até mesmo páginas internas de mensagens. Utilizando o termo “transparência”, foi possível localizar e abrir com sucesso uma mensagem do sistema Fale Conosco, exibida quando a manifestação é registrada sem falhas.
Considerando que o estado de São Paulo possui sua própria empresa de processamento de dados, a fragmentação de soluções não pode ser tolerada. E, de antemão, adiantamos que, se a Prodesp é incapaz de atender à demanda e/ou não consegue fornecer soluções tecnologicamente adequadas por falta de inovação, voltamos mais uma vez aos sinais de alerta em torno de posturas sucateadoras por parte do Executivo paulista, liderado hoje por João Doria (PSDB). É dever do estado promover a capacitação e reciclagem de toda a burocracia e, com burocracia, queremos dizer pessoas, processos e tecnologias.
É lamentável observar a adoção de soluções redundantes e com graus tão diferentes de qualidade e polimento. Perde o passageiro que, sem qualquer justificativa plausível, precisa encarar sistemas de segunda classe ao precisar de informações sobre a única rede de trilhos que avança para além dos limites da capital paulista. E, antes que alguém diga que o estado é incapaz de fornecer bons sistemas de consulta e extração de dados, vale a pena visitar as páginas do Sidra (federal), IMP (estadual) e ObservaSampa (municipal).
Finalmente, desconfiamos que existem sérias dificuldades de realizar atualizações adequadas no site da CPTM, mesmo com a migração para o SharePoint, basta ver a forma porca como as tabelas de horários dos múltiplos serviços da Linha 13-Jade (Eng. Goulart-Aeroporto·Guarulhos) são fornecidas:
Não teria sido melhor diagramar um folheto e disponibilizá-lo em formato PDF?
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por Caio César