Plataformas da Linha 7-Rubi (Luz-Francisco Morato-Jundiaí) na Estação Palmeiras·Barra Funda

Planos para modernização da estação da Barra Funda impressionam

Possibilidade de cobertura fotovoltaica, hotel e uma completa reorganização dos fluxos, dentro e fora da estação. Conheça o grandioso projeto para um dos principais complexos intermodais do continente

COMMU
Trens Metropolitanos
8 min readOct 14, 2019

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Série especial

Entre os dias 03/09/2019 e 06/09/2019 a AEAMESP (Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô) realizou sua vigésima quinta edição da Semana de Tecnologia Metroferroviária. O COMMU esteve presente a convite e compartilha impressões do evento por meio de uma série especial. Clique aqui para conferir todos os artigos da série já publicados até o momento.

Documentos estão disponíveis desde o final de agosto

Apesar do pouco alarde na mídia (incluindo a mídia especializada, que em algumas situações parece oscilar entre se portar como mera assessoria de comunicação e disseminar sensacionalismos e reducionismos dispensáveis), a concessão da Estação Palmeiras·Barra Funda está em sua fase de consulta pública, sustentada por cinco documentos disponíveis no site da Companhia do Metropolitano de São Paulo desde 21/08/2019. Reproduzimos abaixo o anúncio oficial, incluindo as hiperligações:

A Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô, por meio de sua Gerência de Negócios Patrimoniais e Mídias Digitais, e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos — CPTM, por meio de sua Gerência de Novos Negócios, TORNAM PÚBLICO, a quem possa interessar, a presente Consulta Pública, nos termos previstos nos artigos 80 a 82 do Regulamento de Licitações, Contratos e Demais Ajustes da Companhia do Metropolitano de São Paulo — METRÔ, bem como nos artigos 26 a 28 do Regulamento de Licitações e Contratos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos — CPTM, visando obter contribuições e manifestações quanto à viabilidade da proposta de Concessão de Uso para Construção, Reforma e Exploração Comercial do Polo Intermodal da Estação Palmeiras-Barra Funda e de seu Entorno, inclusive, mas não se limitando à análise vocacional da área, considerando, como retorno de seu investimento, as receitas que serão obtidas através da exploração comercial dos empreendimentos associados e espaços comerciais a serem construídos. As Companhias avaliarão sugestões, contribuições e propostas a fim de estruturar, a partir delas, os subsídios que nortearão o correspondente edital.

As sugestão, contribuições e propostas apresentadas não criam obrigações às Companhias, bem como não geram qualquer direito indenizatório e/ou expectativa de direitos aos participantes.

As propostas e contribuições deverão ser entregues no Protocolo Central do Metrô (Rua Boa Vista, 175 — Térreo), em até 60 (sessenta) dias a partir da publicação, endereçadas à Gerência de Negócios Patrimoniais e Mídias Digitais, em envelope lacrado, identificado pelo seguinte assunto: Concessão de Uso da Exploração Comercial da Estação Palmeiras-Barra Funda e de seu Entorno.

Mais informações:

Consulta Pública

Anexo IA — Situação Patrimonial — Barra Funda

Anexo IB — Situação Patrimonial — CPTM

Anexo II — Diagnóstico de Estudo Conceitual

Anexo III — Estudo de Volumetria Preliminar

Para solicitar esclarecimentos de dúvidas, entrar em contato através do e-mail: novosnegocios@metrosp.com.br.

Nós do Coletivo já sabíamos desde o início de setembro, graças à semana de debates e seminários promovida pela AEAMESP, que a estação seria concedida, praticamente inaugurando uma nova fase de exploração comercial e de receitas não tarifárias, no entanto, nenhuma autoridade presente durante a 25ª edição do evento havia fornecido detalhes, de forma que a concessão permanecia um mistério… até agora.

Uma visão geral do que deve vir por aí

O primeiro documento que merece ser folheado é o estudo de volumetria preliminar, feito pelo próprio METRÔ, uma vez que ele deixa claras as intenções mapeadas preliminarmente pela estatal, sendo possível identificar grandes oportunidades de exploração de receita não tarifária, por meio de empreendimentos associados, bem como modificações no mezanino e cobertura da estação, não só melhorando o conforto e o deslocamento dos passageiros, mas também aumentando o potencial de ganhos com aluguéis de espaços comerciais.

Extraído da página 20 do Anexo III

A verdadeira cereja do bolo está no Anexo II, elaborado por Egis e AREP a pedido da Agência Francesa de Desenvolvimento, CODATU e Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Governo do Estado de São Paulo. Trata-se de um projeto competentemente elaborado, que surpreendeu diferentes membros do Coletivo, estando centrado num diagnóstico que abrangeu três escalas (página 7 do Anexo II):

• na escala da estação, o objetivo é a reorganização dos fluxos para melhoria da acessibilidade e maior eficiência da integração modal;

• na escala do Polo Multimodal, propõe-se estreitar os laços entre a estação e seu entorno: utilizar a estação como uma ponte conectando o norte e o sul;

• na escala metropolitana, o objetivo é criar uma centralidade na Barra Funda, com uma identidade forte.

Ora, os três objetivos em cada escala são extremamente acertados. O mezanino da estação tem problemas históricos de organização dos fluxos oriundos dos diferentes terminais e estações ali presentes, além de se mostrar um tanto quando acanhado para a demanda atual, principalmente em situações mais agressivas, como a saída de grandes quantidades de alunos da Uninove, passagem de torcedores em direção ao Pacaembu ou ainda eventos de grande porte no Memorial da América Latina.

O diagnóstico presente no Anexo II ilustra graficamente os conflitos e dificuldades de circulação (página 25)

Ainda sobre os fluxos, é importante salientar que o Anexo II também considerou os sistemas de transporte, sendo curioso observar que a modelagem para 2025 exibe fluxos do METRÔ e da CPTM com patamares muito similares de embarques e desembarques por hora, o que só reforça a ideia de que a CPTM não deve ser considerada como “outra coisa”, mas sim como um sistema de metrô.

Adaptado da página 30

O cenário considera a Linha 6-Laranja em operação (Brasilândia-São Joaquim) e mudanças nas linhas 7-Rubi (atualmente Luz-Francisco Morato-Jundiaí, provavelmente operando com 3 minutos de intervalo entre Luz e Francisco Morato, com todas as estações reconstruídas) e 11-Coral (atualmente Luz-Estudantes, provavelmente Palmeiras·Barra Funda-Suzano-Estudantes no cenário considerado, com 3 minutos de intervalo entre Palmeiras·Barra Funda e Suzano). Infelizmente a situação da Linha 6 é bastante incerta no momento, já que o consórcio basicamente desidratou e não consegue financiamentos, por outro lado, a concessão das linhas 7-Rubi e do par 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) e 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú, com o trecho Grajaú-Varginha em obras no momento) não garante: (i) a implantação das estações Lapa e Água Branca integrando as linhas 6, 7 e 8; e (ii) Bom Retiro integrando as linhas 8 e 11. Em fevereiro de 2019 o Executivo prometeu mais uma vez a expansão da Linha 11-Coral até a Estação Palmeiras·Barra Funda. Em abril de 2019 a presidência da CPTM disse estar comprometida com a melhoria das condições de acesso ao Centro de São Paulo.

Cenário do estudo prevê uma série de melhorias que estão travadas atualmente (página 60)

O levantamento realizado por Egis e AREP incluiu até mesmo a formação histórica dos núcleos urbanos que fazem parte das cercanias imediatas da estação, remontando ao século XIX (página 16), bem como a instalação de grandes empreendimentos públicos e privados em meio a diferentes graus de vulnerabilidade social (página 18).

O estudo da dupla Egis-Arep diverge da volumetria de referência, mas detalha melhor os usos (páginas 45–47; clique na imagem para ampliar)

Como é possível verificar acima, a página 45 exibe uma nova e ampla cobertura, que busca rearticular as ligações entre as duas faces da estação e reorganizar os fluxos e que poderá ser de um dos três tipos: fotovoltaica, vegetal ou transparente. Outro aspecto que pode ser identificado é a implantação de um amplo calçadão, estendendo a reorganização dos fluxos de pessoas e veículos para além do edifício atual do complexo intermodal. Trata-se de um aspecto melhor detalhado na página 66, reproduzida a seguir.

Uma série de medidas importantes para modos ativos e também para o transporte público são parte da proposta

A proposta final é completamente ilustrada por meio de perspectivas renderizadas, que são complementadas por informações para implantação ao longo do tempo, considerando múltiplas fases, com os custos expressos em reais e euros, totalizando R$ 417,98 milhões ou € 92,89 milhões (página 88). O estudo também já previu as receitas. Todas as fases possuem complexidade moderada de estruturação segundo o Anexo II.

Renders extraídos das paginas 70, 71 e 72 do Anexo II

Não fica claro como ficaria a concessão já em andamento do terminal rodoviário, que está sob responsabilidade da Socicam, mas de acordo com o material do Anexo II, basicamente todo o complexo será concedido no futuro, caso o projeto do atual governo avance.

Finalmente, o corredor com a cobertura nova ficou muito bom, porém não com a alternativa transparente, exceto se for totalmente aberto nas laterais pra ventilar, do contrário, vai virar uma estufa, por outro lado, mantendo as laterais totalmente abertas, vai chover dentro, de forma que a passagem precisaria ser tratada mais como marquise do que como cobertura, com os volumes abaixo cada um com a sua cobertura e estanque em si (como uma rua mesmo). Se nenhuma das alternativas agradar, ainda resta fechar de verdade, com o que tiver de mais isolante e opaco.

Observação: o letreiro gigante com o nome composto ficou péssimo, esperamos que fique de fora da modernização da estação. Preferimos que a estação adote totens novos, indicando acesso aos serviços do METRÔ e da CPTM no padrão adequado (hoje a estação só conta com um totem indicando a presença da Linha 3–Vermelha e ignorando a presença das linhas 7-Rubi e 8-Diamante).

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por Caio César | colaborou Eduardo Ganança

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