Pequena área coberta da plataforma sentido Brás da Estação Prefeito Saladino, no município de Santo André

Terminal da futura Linha 20 no ABC mal conta com acessibilidade e plataformas cobertas

A Estação Prefeito Saladino da CPTM não vive seus melhores dias. Na verdade, talvez não seria exagero dizer que, para o tipo de serviço que a CPTM presta, a estação jamais esteve adequada

COMMU
Trens Metropolitanos
6 min readDec 27, 2019

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Introdução

Aventada como possível terminal da Linha 20-Rosa (até então Lapa-Afonsina), a Estação Prefeito Saladino da Linha 10-Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) não vive seus melhores dias. Na verdade, talvez não seria exagero dizer que, para o tipo de serviço que a CPTM presta, a estação jamais esteve adequada.

Nos últimos meses, fotografamos e utilizamos a estação com um olhar crítico. Com a notícia de que a Linha 20 poderá terminar no município de Santo André, decidimos publicar algumas considerações sobre a estação, com o objetivo de reiterar a importância de modernizar as instalações da CPTM, uma vez que a estagnação do programa de modernização reforça assimetrias indesejáveis entre os dois sistemas que compõem a rede metroferroviária, reduz a qualidade de vida da população e marginaliza os territórios e pessoas atendidas pelas parcelas “esquecidas” da rede.

Localização e intermodalidade metropolitana

Um dos primeiros aspectos que merece atenção é a localização da estação. Prefeito Saladino está relativamente próxima de uma das saídas da Rodovia Anchieta (SP-150), o que significa que há boas oportunidades para intermodalidade com o transporte público coletivo e o transporte individual motorizado.

Para o transporte coletivo, a existência de uma terminal urbano subutilizado e cujas linhas da SATrans (Santo André Transportes) em regime de concessão à iniciativa privada, com tarifa regular de R$ 4,75, sem qualquer tipo de integração tarifária com a CPTM, é claramente um ponto de atenção. É preciso que, pelo menos, aquelas linhas possuam integração tarifária; há ainda a questão dos das linhas intermunicipais, uma vez que a estação está próxima de São Bernardo do Campo, a implantação de linhas em direção ao centro e bairros vizinhos deveria ser melhor avaliada.

O principal acesso da estação apresenta uma série problemas: conflitos entre diferentes modos de transporte, má iluminação, microdrenagem deficiente e ausência de infraestrutura para os ônibus; passageiros se abrigam da chuva utilizando a parte inferior da passarela da rodoviária, que não possui qualquer tipo de conexão com a estação da CPTM e sua outra passarela

Para o transporte individual motorizado, é preciso melhorar a infraestrutura para kiss and ride, hoje inexistente, provocando conflitos entre os ônibus municipais que terminam e/ou param no acesso fronteiriço ao Tersa (Terminal Rodoviário de Santo André); adicionalmente, a implantação de estacionamento para park and ride, integrando o moribundo sistema E-Fácil, deveria ser estudada com o objetivo de reduzir deslocamentos redundantes por meio da Rodovia Anchieta e do sistema viário de Santo André e outras cidades da Sub-região Sudeste (rotineiramente chamada de Grande ABC ou ABC), nomeadamente vias como a Avenida dos Estados e a Avenida Industrial.

Localização e intermodalidade regional

Como comentado anteriormente, a estação é vizinha de um terminal rodoviário, ou seja, existem dois terminais vizinhos à estação, sendo que nenhum deles possui integração física. Os projetos arquitetônicos não dialogam entre si e as soluções de mobilidade funcionam de maneira fragmentada.

Se a intenção do governo estadual é chegar com uma segunda linha de metrô, os equipamentos deveriam ser integrados, de preferência, com um projeto arquitetônico coeso. Não necessariamente é preciso demolir tudo, mas considerando que a estação da CPTM precisa ser reconstruída, existe a oportunidade de proporcionar uma experiência superior.

Com uma rodoviária melhor conectada e confortável, não há dúvidas de que o acesso ao litoral seria facilitado e poderá contar com mais partidas, principalmente utilizando linhas diretas, em vez de linhas paradoras que cruzam três ou quatro municípios e levam uma eternidade — a presença da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) durante o processo pode ser oportuna para promover ajustes na operação dos permissionários, entre as empresas permissionárias, está a Viação Cometa, tradicional na operação de ônibus rodoviários entre a capital e o litoral paulista.

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Instalações da estação

A Estação Prefeito Saladino, assim como outras da Linha 10-Turquesa, foi erguida pela Estrada de Ferro Santos-Jundiaí na década de 1960, que lucrava com o transporte de cargas e adotou estações com acabamento um pouco melhor entre Mauá e Pirituba, se comparado ao que existia então na Estrada de Ferro Central do Brasil. De fato, a Estação Prefeito Saladino adota o pastilhamento que caracterizou as coloridas estações da Santos-Jundiaí naquele período, ainda que este tenha sido pintado por tons monótonos de cinza e bege, ainda que piso só tenha sido instalado no hall de entrada, junto à bilheteria.

Para os padrões atuais, o acabamento da estação não só está incompleto, como agrava a ausência de itens básicos de conforto e proteção contra intempéries. A cobertura da plataforma se limita a uma pequena faixa junto ao hall de entrada, de forma que as duas plataformas praticamente estão descobertas, deixando os passageiros desabrigados e expostos as chuvas. O número de assentos para aguardar os trens também é insatisfatório e acompanha a ausência de cobertura.

A cobertura do Tersa acompanha os usuários, mas não satisfatoriamente: parte dos torniquetes e o hall de entrada, que possui a principal bilheteria da estação, não são cobertos; o embarque nos trens é difícil em dias quentes ou chuvosos, já que boa parte das plataformas é coberta (na foto, a plataforma sentido Brás)

Não há escadas rolantes ou rampas e o projeto arquitetônico adotou uma passarela fisicamente desconectada da área paga, o que significa que não é possível realizar a transferência entre os sentidos sem pagar nova tarifa. Com a construção do Tersa, uma segunda passarela passou a cruzar sobre a área da estação, totalmente desconectada das instalações da CPTM, mas servindo, ainda que insatisfatoriamente, como uma cobertura para o principal acesso da estação para a rua e para o terminal rodoviário.

Detalhe da rampa para cadeirantes na plataforma sentido Brás

No geral, a estação exibe sinais de que não foi concebida para o regime atual de operação. Prefeito Saladino não está preparada para incluir pessoas com necessidades especiais ou portadoras de alguma deficiência ou limitação de mobilidade, muito menos está preparada para conseguir suportar um grande fluxo de passageiros, tanto que o principal acesso da estação, voltado à rodoviária e ao terminal urbano, conta com apenas dois bloqueios para entrada. O acabamento dos anos 1960, reformado minimamente pela CPTM, não é suficiente para esconder as limitações da estação, que não condiz com o padrão do Trem Metropolitano.

Devido ao Termo de Ajuste de Conduta firmado com o Ministério Público, a CPTM precisou promover melhorias na acessibilidade. Acima, podemos ver a rampa que foi construída pela companhia na plataforma sentido Brás: não só tem cara de equipamento provisório, como fica numa das extremidades que não possui cobertura, ou seja, o passageiro que precisa da rampa estará exposto ao tempo ou precisará se arriscar, já que ao solicitar e obter auxílio de estranhos para embarcar num carro sem visibilidade para o maquinista, mas próximo da área coberta, o passageiro poderá sofrer um acidente ao desembarcar, caso não consiga sair antes do sinal de fechamento das portas, uma vez que o maquinista não poderá intervir, pois não conseguirá enxergar o passageiro na extremidade oposta à cabine.

A saída para a Estação Prefeito Saladino é sua completa reconstrução. Não existe meio termo. A infraestrutura existente envelheceu mal e se tornou motivo de inconveniência para quem dela depende. Esperamos que a nova Linha 20-Rosa contribua para lembrar a sociedade de que a CPTM já opera em Santo André e que melhorias são desesperadamente necessárias.

por Caio César

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