Fastback, Pulse e derivado da Toro: qual o posicionamento dos SUVs Fiat?

Jacob Paes
Três e meio
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7 min readSep 21, 2022
Entenda de uma vez por todas por que Fastback e Pulse são SUVs compactos e qual a estratégia da Fiat. (Fiat/Divulgação)

Até pouco tempo atrás, a Fiat jurava de pés juntos que não entraria no mercado de SUVs. O objetivo? Não atrapalhar a irmã Jeep, que estava voltando ao Brasil e queria uma dose de protagonismo no segmento. Em 2018, no entanto, isso mudou — e, com a decisão de ter seus SUVs, muita confusão foi criada a partir de especulações erradas.

A chegada do Fastback talvez seja a oportunidade para entender, de uma vez por todas, qual é a estratégia da Fiat para seus SUVs no mercado brasileiro. A seguir, você vai conferir o que a sopa de letrinhas — A, B, C, D… — quer dizer e como ela se aplica aos Fiat Pulse, Fastback e Toro SUV, que ao que tudo indica é a próxima novidade a vir por aí.

Planos foram revelados em 2018 pela FCA e previam CUVs para a Fiat, ou seja, utilitários compactos, sem pretensão off-road. (Reprodução)

Os planos da Fiat

Como já havia antecipado no episódio 15, da primeira temporada, e neste post de 2020, a estratégia da marca foi apresentada ainda em 2018, quando a então Fiat Chrysler Automobiles (FCA) anunciou que a Fiat teria novidades tanto na América Latina (três SUVs) quanto na Europa (o Fiat 500 elétrico).

Nessa apresentação de 2018, Sergio Marchionne, até então presidente do grupo, prometeu para a Fiat três SUVs: um do segmento A, outro do segmento B e mais um do segmento D, com sete lugares. Mas, em algum momento no meio do caminho, essa informação se perdeu.

Até porque a Fiat passou a confirmar oficialmente a existência de apenas dois deles, e a imprensa logo assumiu que um seria compacto, e o outro, a versão de produção do conceito Fastback, apresentado também em 2018 no Salão do Automóvel. Como o conceito derivava da Toro, esse SUV seria, de acordo com esse palpite, um carro médio — o que, como sabemos hoje, não é verdade, afinal o Fastback que foi lançado é compacto, do segmento B.

Jeep Renegade tem porte, motor e preço de B-SUV, mas se diferencia do Fiat Fastback pelo visual — e desempenho — off-road. (Jeep/Divulgação)

Mas o que essas letras querem dizer?

Hoje, falando de SUVs, podemos considerar que o segmento B é o principal, especialmente no Brasil. Pois essa fatia é a que concentra todos os SUVs compactos, os mais vendidos do mercado em termos de volume — em 2021, eles representaram 65,38% dos SUVs vendidos, de acordo com dados da Fenabrave.

É nessa fatia que está, por exemplo, o Jeep Renegade, cujos rivais são derivados, em grande maioria, de hatches compactos do segmento B. São exemplos de B-SUVs o finado Ford EcoSport, derivado do Fiesta; o Volkswagen T-Cross, derivado do Polo; o Chevrolet Tracker, derivado do Onix; o Renault Duster, derivado do Sandero; e assim por diante… No caso do Nissan Kicks, a derivação é de um sedã do segmento B, o Versa.

Em outros países, existe ainda o que alguns chamam de SUVs B+, que seriam "SUVs compactos-médios". O Jeep Compass poderia ser classificado assim em um mercado como o norte-americano, por exemplo, que tem gosto por carros muito maiores do que os que são vendidos aqui — afinal, nos Estados Unidos, o Compass tem versões mais baratas do que o Renegade.

Jeep Compass é um SUV médio, portanto do segmento C, no Brasil. A Fiat não atua nessa fatia. (Jeep/Divulgação)

Em todo caso, aqui no Brasil a gente pode dizer que o Compass é do segmento C — ou seja, dos SUVs médios, geralmente derivados de sedãs médios (basta ver o caso do Toyota Corolla Cross, que usa a plataforma do irmão). Até 2020, o Jeep Compass reinava praticamente sozinho na categoria. Agora, embora ele continue superando modelos do segmento B nas vendas, passou a contar com rivais como o japonês e o Volkswagen Taos. Ainda assim, no ano passado, o Compass representou 10% do mercado de SUVs, enquanto o Corolla Cross ficou na casa dos 5%, de acordo com a Fenabrave.

Em seguida, temos o segmento D, com carros maiores, que podem ou não ser uma espécie de versão alongada dos C-SUVs, como ocorre na dupla da Jeep, Compass e Commander. São veículos mais caros e luxuosos, alguns com oferta de sete lugares, em virtude do comprimento maior, como o Caoa Chery Tiggo 8 e o Chevrolet Trailblazer — este, acossado pelo irmão menor Equinox, que custa mais caro que seus rivais por ser importado.

Em outros mercados, são comuns os SUVs do segmento E, ainda mais gigantescos — aqui, restritos a importados de luxo.

Jeep Commander chegou para levar o sucesso da Jeep ao segmento D, sendo mais luxuoso, caro e com sete lugares. (Jeep/Divulgação)

Onde estão os SUVs da Fiat?

De acordo com os planos da FCA, a Fiat teria um SUV para competir no segmento B, o mais popular, mas também um SUV para competir na faixa abaixo. Aí reside a grande confusão.

Isso porque, no Brasil, até a chegada do Fiat Pulse não tínhamos um SUV propriamente dito do segmento A. O que mais se aproximava disso seria o Honda WR-V, mas que, de tão próximo do Fit, estava mais para hatch aventureiro. Embora a Fiat tenha usado uma receita similar, assim como a Volkswagen com o Nivus, o Fiat Pulse tem uma plataforma com nítidas evoluções em relação à usada no Fiat Argo, do qual deriva.

Por outro lado, diferentemente do VW, o porte do primeiro SUV nacional da Fiat (4,09 m de comprimento e pouco mais de 300 litros no porta-malas) é menor quando comparado ao dos B-SUVs e praticamente o mesmo do hatch (que tem 3,99 m e 300 litros, na mesma ordem), o que não acontece com o Nivus (4,26 m e 415 litros, respectivamente). É por isso que dizemos que o Pulse está abaixo dos B-SUVs, mas não deixa de ser um utilitário, inclusive com motor e tecnologia para roubar clientes dos B-SUVs.

Fiat Pulse é o SUV do segmento A prometido pela FCA em 2018, embora a Fiat não admita. (Fiat/Divulgação)

O lançamento do Fiat Fastback jogou luz sobre essa estratégia. Afinal, o Pulse tem preços que hoje vão dos R$ 97.000 aos R$ 130.000, enquanto o SUV cupê — esse, sim, cumprindo o papel de B-SUV da marca — tem preços de R$ 130.000 a R$ 150.000. Logo, temos aí os dois SUVs prometidos pela FCA em 2018, um do segmento A (Pulse) e outro do B (Fastback).

E o que teria acontecido com o SUV maior, de sete lugares, da Fiat? Por um tempo, achou-se que não existiria. Ou, talvez, que tivesse virado Jeep — daí nascendo o Commander. Ao mesmo tempo que o SUV da Toro nunca saiu do papel, apesar de muito especulado.

Mas, em 2020, o Autos Segredos noticiou que um SUV derivado da picape foi descongelado. E, nos últimos dias, a informação foi corroborada por Motor1 e Auto+, após conversas com executivos da Fiat no lançamento do Fastback.

Infográfico mostra como estão posicionados os SUVs da Fiat em relação à Jeep e a outras marcas. (Jacob Paes/Três e Meio Podcast)

Onde se encaixa o SUV da Toro?

Um SUV derivado da Toro poderia, enfim, fechar o ciclo anunciado em 2018, com um posicionamento tão estratégico quanto os outros SUVs da Fiat. Se o Pulse fica abaixo do Renegade e o Fastback está no mesmo patamar mas tem uma proposta radicalmente diferente, o derivado da Toro deve assumir um espaço entre Compass e Commander.

Não à toa, o lançamento do Jeep mais caro foi muito anunciado como luxuoso. Como o terceiro SUV prometido para a Fiat seria do segmento D-Low, ou seja, do segmento D mas com um caráter mais popular, criou-se espaço para que ele não brigue com os Jeeps, tendo importantes diferenciais e preços.

Tal como no caso do Pulse, é algo que não temos hoje no Brasil. Há SUVs de sete lugares, mas eles não custam menos de R$ 200.000, mesmo no caso do Caoa Chery Tiggo 8, um dos mais acessíveis do segmento. O Chevrolet Trailblazer, por exemplo, já está na casa dos R$ 300.000! Na verdade, o único carro com sete lugares por menos de R$ 200 mil é a Chevrolet Spin, com preços girando em torno de R$ 105.000 a R$ 125.000.

Isso reforça a existência de uma faixa disponível para um SUV maior da Fiat. Ele poderia custar um pouco mais do que um Compass, mas trazer sete lugares; ou ainda, ter uma versão mais em conta com cinco lugares e outra mais cara com sete.

Ao contrário das especulações, SUV da Toro dificilmente será cupê, e sim tradicional, com sete lugares, para fugir da briga com Compass, mas mais simples para não atingir o Commander. (Fiat/Divulgação)

Desse modo, quem precisa de um SUV maior poderá optar por um Compass mais equipado e refinado, mas com 5 lugares, ou um SUV da Fiat com posicionamento mais em conta e 7 lugares. Afinal, ela ainda não teria o suficiente para partir para o modelo mais caro da Jeep.

Há espaço e público para fazer isso sem incomodar tanto a Jeep, então há oportunidade. É evidente que será um competidor, e todo SUV irá competir com a Jeep, não tem o que fazer. Mas é uma lacuna que se mostra tão oportuna para a Fiat quanto as que ela passou a explorar com os seus recém-lançados SUVs.

Quer saber se o Fiat Fastback é para você? Então ouça o episódio 51, uma roda de conversa com João Brigato, do Auto+, e Gabriel, da página Fiat Spotting!

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Jacob Paes
Três e meio

Editor de livros, graduado em Produção Editorial e estudante de Letras/Italiano. No tempo livre, curte séries, filmes, carros e, claro, livros @tresemeiopodcast