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A tão ambicionada conexão entre TI e negócio

Bruno Machado
Tríade Digital
5 min readNov 7, 2020

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Nunca estivemos tão perto de atingir este objetivo nas grandes empresas

Se um contador despertasse hoje — após 20 anos em coma profundo — certamente ele ainda estaria apto para a sua profissão. Os balancetes e as regras contábeis se mantiveram praticamente intactos, ainda que mudanças tributárias tenham ocorrido.

Uma atualização de legislação aqui e outra acolá, mas nada que algumas horas de “catch-up” não resolvam e o bravo contador já poderá retornar ao trabalho. Não se trata de menosprezar a profissão, mas apenas destacar que o ritmo de mudanças e transformações é baixo.

Entretanto, não podemos dizer o mesmo de um profissional de TI, independente de seu nicho de atuação. Mesmo que os fundamentos da matemática e os princípios da lógica sejam os mesmos, o ambiente de trabalho vem mudando em ciclos cada vez mais curtos, tornando obsoleto o conhecimento em ferramentas e equipamentos, antes relevantes (mainframes, linguagens cobol e delphi, arquitetura sparc, etc).

Essa obsolescência das tecnologias, linguagens de programação e infraestrutura de computação está cada vez mais rápida e leva consigo parte dos aprendizados dominados pelos profissionais da área. Mais do que nunca, ter um mindset “lifelong learning” é vital para seguir relevante e estar preparado para a “próxima onda” da tecnologia.

Diferentemente de algumas profissões, não é requerido qualquer certificado ou diploma para se ingressar na área, por outro lado, a seleção natural do mercado é implacável. A área é, ao mesmo tempo, receptiva para novos entrantes, mas duríssima para ascender às posições de maior destaque e remuneração — fácil para entrar, difícil para se manter relevante.

Dessa maneira os profissionais de TI precisam, mais do que nunca, se manter atualizados tecnicamente e ao mesmo tempo se tornar profissionais de negócio. Essa parece ser a nova fronteira de conhecimento para os profissionais de TI: para além das questões técnicas, dominar as habilidades de negócio — estratégia, marketing, vendas e finanças.

Essa conexão entre TI e negócio sempre foi conhecida e ambicionada, porém havia espaço no mercado para quem ainda resistisse a desenvolver soft-skills e ir além do “tecniquês”. Enquanto muitas empresas ainda estavam adormecidas para a transformação digital, profissionais estritamente de tecnologia reinavam solos no andar do departamento de TI, seu parquinho de diversões exclusivo.

Hoje em dia essa tolerância não existe mais. Mesmo os grandes profissionais engenheiros de computação e dados precisam ter habilidades interpessoais para exercer plenamente suas funções. Eu conheço exímios arquitetos de soluções que discutem o negócio da empresa com grande desenvoltura. Essa capacidade é justamente a força que os impulsiona e os torna assertivo na criação de soluções técnicas para acelerarem os negócios.

Se a Apple tivesse surgido nos tempos atuais, a famosa dupla de Steve’s seria mais homogênea, ambos com repertório mais similar, resguardadas as competências essenciais de cada um. As características marcantes de cada um sempre irá prevalecer, mas a mensagem aqui é no sentido de irmos além dessa zona de conforto e aprender algo novo.

Essa aparente homogeneização pode parecer algo negativo, que possa ser interpretado como uma pasteurização profissional, uma negação de talentos natos ou mesmo o fim da carreira técnica.

Todavia a mensagem é absolutamente oposta a essa. Nunca antes os profissionais técnicos foram tão valorizados, mas o fato novo é que mesmo estes talentos não poderão se furtar do desenvolvimento de habilidades interpessoais. Todo mundo quer sentar na mesa que quem decide, não é mesmo?

Ter técnicos experts em negócio faz-se necessário também pelos desafios que se colocam hoje, como por exemplo o fenômeno das fake news, o risco de manipulação do comportamento por algoritmos de recomendação e uma série de outros maus exemplos da aplicação da tecnologia. Profissionais com senso apurado de responsabilidade social podem evitar que a tecnologia nos leve para um futuro indesejado.

Este novo dilema social nos leva a uma série de perguntas, como por exemplo: quem pode assegurar um uso tecnológico que minimiza a replicação dos vieses cognitivos que todos carregamos? Como impedir a propagação de notícias falsas? Como impedir que comportamentos racistas sejam amplificados pelas redes?

Essa é a grande fronteira que o atual ciclo de mudança na tecnologia está trazendo – uma autorreflexão sobre o futuro que estamos construindo. O desafio não é mais apenas técnico, mas humano.

O World Economic Forum publicou um relatório chamado The Future of Jobs que apresenta dez competências essenciais para aumentar a empregabilidade no futuro. São elas: criatividade, inteligência emocional, pensamento crítico, mindset de crescimento e aprendizado ativo, processo de julgamento e tomada de decisão, comunicação, liderança, diversidade e inteligência cultural, conhecimentos em tecnologia e receptividade às mudanças.

Muito além de tecnologia, não é mesmo? Por isto precisamos desenvolver tais habilidades independentemente de nossa atuação.

A desconexão que sempre existiu entre a área de TI e as áreas de negócio ainda é uma realidade em muitas empresas, por mais esforços que venham sendo feitos por ambos os lados.

Isto ocorre por uma série de razões, boa parte delas associadas aos processos, às estruturas organizacionais que sempre mantiveram tecnologia ligada a área de finanças, como a missão de reduzir custos e gerar ganhos de produtividade. Quantos CIOs ainda não respondem para o CFO, não é mesmo?

Por outro lado, a Transformação Digital surgiu justamente para dar o protagonismo que tecnologia precisa ter. Por mais que o discurso comum seja de que “transformação digital não é sobre tecnologia, mas sobre pessoas” não reflete exatamente o que eu acredito sobre o tema. Afinal, a entrega é feita através de tecnologia, ainda que a grande mudança seja realmente no processo de gestão de tecnologia — em como torná-la uma competência da organização.

Transformação digital, no final do dia, é isso. Transformar tecnologia em uma competência da organização e neste sentido os princípios Lean, os métodos ágeis, as ferramentas de design thinking, as estruturas de trabalho mais colaborativas, a maior proficiência em dados, a jornada da nuvem e tantos outros elementos são passos nessa direção.

Sendo assim, a tão ambicionada conexão entre TI e negócio está mais perto do que nunca e tem nome: transformação digital.

E você, meu colega de TI, está preparado para essa onda que estamos vivendo?

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Bruno Machado
Tríade Digital

Empreendedor Digital | Mentor na QUINTESSA — Apaixonado por tecnologia, negócios e inovação.