A transformação digital é sobre pessoas?
O fator humano é determinante, porém a transformação requer tecnologia
Imagino que você já tenha ouvido a frase "a transformação digital é sobre pessoas" em algum evento, palestra ou mesmo no seu dia a dia, durante as famigeradas reuniões online.
É evidente que a transformação digital também é sobre pessoas, mas a expressão me incomoda por abrir espaço para limitar este fenômeno às questões de cultura organizacional, adoção de métodos ágeis e a formação de squads.
Estes fatores são fundamentais para mudar a relação das organizações tradicionais com a estrutura de tecnologia, quebrando definitivamente as barreiras e trazendo mais eficiência para o negócio.
Porém, ao creditar a "mágica" majoritariamente ao fator humano, a tecnologia fica em segundo plano, sendo que as transformações mais profundas, que têm capacidade de influenciar o modelo de negócios, requerem, muitas vezes, um avanço tecnológico robusto.
Sem uma tecnologia consistente a Magalu teria se tornado uma potência no digital? O Banco Intermédium (Inter), sem sua nova arquitetura, seria apenas um pequeno e quase extinto banco regional?
Para tratar essa questão, recentemente fiz um podcast com o Gibran Silva, arquiteto de soluções na Pottencial Seguradora e durante a conversa ficou evidente o quanto ter uma tecnologia de excelência está viabilizando a transformação do negócio, como fica evidente no portal de APIs publicado por eles.
A minha abordagem pode parecer um tanto quanto "protecionista", afinal sou um profissional com formação em tecnologia da informação e que exerce um papel denominado "Chief Technology Officer" em uma Health Tech (Funcional Health Tech).
Porém, a verdade é que eu nunca fui um excepcional profissional técnico, assim como não fui um aluno destacado em técnicas de programação, banco de dados ou grafos. Para que tenham uma ideia da minha dificuldade, cheguei a repetir algumas matérias que eu supostamente deveria dominar.
Minha carreira, portanto, foi muito mais pautada pela minha capacidade de liderar tecnologia, ser um bom negociador e, principalmente, construir as pontes entre tecnologia e negócios de modo que a tecnologia esteja presente no negócio de maneira indissociável.
Eu sempre encarei o meu trabalho como uma missão de colocar a tecnologia nos lugares que ela sempre deveria ter estado: no modelo de negócios, na experiência do cliente e na operação das empresas, preferencialmente nessa ordem de importância.
Por isso a frase "a transformação digital é sobre pessoas" me preocupa, pois ela pode representar um retrocesso neste reconhecimento da importância da tecnologia e dos profissionais de origem técnica para as empresas.
Essa frase é quase uma receita de bolo para: adote metodologias ágeis, monte os seus squads e seja feliz! Isso é de um simplismo absurdo! Quando a hora da verdade chegar — quando os clientes desejarem seus produtos e serviços e tecnologia não estiver preparada— a execução vai falhar, a experiência do cliente ficará comprometida e a demanda irá para a concorrência.
Por fim, acredito que estejamos em um momento em vários setores em que as próximas lideranças serão de tecnologia. Os próximos (as) CEOs serão de tecnologia, assim como já tivemos a fase dos CFOs, COOs e tantos outros C-levels. Quer um exemplo maior do que a XP Inc, ao promover o Maffra?
Pois bem, meus caros colegas! Espero ter explicado um pouco mais sobre este tema delicado, mas fundamental para que as empresas, de fato, tenham resultados consistentes decorrentes da transformação digital, combinando mudanças organizacionais e tecnológicas.
