GMUD como parâmetro de agilidade
A capacidade de colocar software em produção é fundamental na transformação
Algumas pessoas dizem que a transformação digital é muito mais sobre pessoas do que sobre tecnologia em si. Eu discordo categoricamente!
Ainda que eu reconheça as dimensões que vão além da tecnologia, no final do dia é a capacidade de colocar as soluções certas, no momento certo, que determina o sucesso de uma organização no contexto digital.
Tenho lido bastante sobre este tema, com destaque para o livro The Technology Fallacy, que apresenta os resultados de uma pesquisa conduzida pela Deloitte em parceria com o MIT Sloan Management Review com mais de 16.000 gestores em grandes empresas, como Walmart, Google e Salesforce.
No livro os pesquisadores enfatizam que o maior desafio está em preparar os líderes para o contexto competitivo mais dinâmico e incerto trazido pelas ondas de aceleração digital, resumido com sair do "doing digital" para o "being digital".
De acordo com a pesquisa, não há questionamentos sobre os impactos da disrupção digital, mas sim um gap entre reconhecer e agir (knowing-doing gap) efetivamente.
A velocidade da tecnologia é superior ao ritmo de adoção pelas pessoas (adoption-gap), pelas empresas (adaptation-gap) e pela regulação (assimilation-gap), conforme descrito no gráfico abaixo, presente no livro.
Poxa Bruno, mas como você se atreve a contrapor uma pesquisa dessa magnitude? Com quais dados? Apresente-os ou pare agora!
E mais…o que isso tem relação a ver com GMUD (gestão de mudança)?
Meus caros, não se trata de um contraponto à pesquisa, mas sim um olhar mais prático para o tema, de como isso pode se traduzir no dia a dia, afinal o trabalho em squads e a agilidade organizacional — símbolos da mudança cultural — de nada valem se não se traduzirem em entregáveis relevantes para o cliente.
E sobre a conexão com o tema de Gmud, tenho o seguinte argumento: a GMUD (gestão de mudança) é um termômetro do tamanho do gap entre tecnologias disponíveis e melhores práticas disponíveis e a capacidade das organizações colocarem em prática (adaptation-gap).
Se por um lado temos a adaptabilidade das empresas às mudanças construída a partir das pessoas — conforme descrito no livro — temos, por outro lado, o papel crucial da tecnologia (arquitetura de soluções) para viabilizar as mudanças.
Sem uma arquitetura de soluções moderna, um processo de desenvolvimento ágil e uma infraestrutura escalável, o aspecto cultural não encontrará terreno fértil para entregar valor aos clientes.
Estes temas são correlatos, não podem ser tratados de forma apartada ou desequilibrada e ter o processo de gestão de mudanças como parâmetro de agilidade ajuda a orientar os esforços para os times e a direção da companhia.
Quer um dado sobre isto? Basta acessar o site de relacionamento com investidores dos bancos ou varejistas de capital aberto e verá informações sobre a incorporação de práticas de DevOps, Continuous Integration e Continuous Delivery, conforme exemplos abaixo, do Itaú, Inter e Magalu.
Apenas para explorar o exemplo do MagaLu, que na oportunidade da publicação deste material (2019) já era capaz de fazer 30 deploys por dia. Essa é ou não uma vantagem competitiva real da empresa? Isto reduz ou não o knowing-doing gap tratado na pesquisa do MIT/Deloitte? A cultura ágil se materializa ou não neste ritmo de colocar entregas na mão do cliente?
Este é o ponto meus caros: a mudança cultural é meio, um imperativo para as empresas. Elas devem fazer ou estão fadadas ao fracasso. Porém, sem uma arquitetura de soluções, práticas de desenvolvimento, gestão de infraestrutura e processos a mudança cultural não se traduz em resultados!
O sucesso em uma transformação não está no número de squads ou na disciplina de execução dos ritos ágeis, mas sim em melhorar a experiência do cliente, assegurar ganhos contínuos de eficiência operacional e principalmente pela geração de novas receitas viabilizadas pela tecnologia.
Portanto, caro leitor, dedique-se a entender e melhorar as capacidades digitais relacionadas a colocar a solução certa no tempo certo na mão do cliente, de preferência em ciclos cada vez mais curtos e de modo cada vez mais invisível.
Boa jornada de transformação!