O fator humano na transformação
Como gerir a mudança com as pessoas e não através delas
Transformação digital é uma expressão que cabe muita coisa e a depender do ângulo de atuação de quem a define, terá maior ou menor protagonismo para a tecnologia em si. De todo modo, há um consenso: as pessoas representam o elemento central de qualquer transformação.
Neste sentido, para compreender e obter os resultados esperados da transformação digital é importante estudar gestão de mudanças, especialmente as abordagens que derivam da psicoterapia e psiquiatria, com destaque para as professoras Virginia Satir e Elisabeth Kübler-Ross e seus respectivos modelos de ciclo de mudança e luto.
Além dos modelos citados acima, concebidos para avaliar situações pessoais e familiares, há uma série de outros para aplicação nas organizações e que vem sendo objeto de muitos estudos, publicações e pauta constante nas agendas de desenvolvimento organizacional, reengenharia, liderança e transformação.
Há uma vasta literatura sobre o tema, desde de roteiros com passos para a mudança (John P. Kotter), certificações profissionais (ACM Master), modelos (ADKAR), passando por livros como "Quem mexeu no meu queijo" até pesquisas acadêmicas mais profundas e sólidas.
Considerando a relevância e o conhecimento disponível acerca do tema, se torna obrigatório para os profissionais envolvidos na transformação digital a busca por capacitação em gestão de mudanças, afinal o papel desempenhado, no limite, é de um agente de mudanças.
Enquanto um agente de mudanças o profissional precisa ter em seu repertório o entendimento dos estágios do "luto e aceitação" à medida que processos são transformados e a tecnologia assume tarefas cuja a execução assegurava poder a certos indivíduos que agora se veem sem a mesma influência.
Ao ignorar o efeito das mudanças nos indivíduos envolvidos no processo a transformação não será feita com as pessoas, mas através delas. A consequência é uma resistência maior e um resultado aquém do possível, em boa parte das vezes.
Eu já referenciei em outros artigos o livro "The Technology Fallacy" que trata justamente desse aspecto: assegurar mudanças na cultura organizacional para ser mais ágil, tolerante aos riscos e experimental. Para o livro, os autores fizeram uma pesquisa com mais de 16.000 lideranças e dentre os achados está um ponto super relevante: as empresas precisam compreender o seu "DNA Digital" e parar de "fazer o digital" e começar a "ser digital".
Ao se dedicar ao aspecto mais humano da transformação os agentes de mudança não estarão apenas entregando um novo produto ou serviço suportado por tecnologia, mas habilitando a empresa com uma cultura capaz de reproduzir inúmeras vezes bons resultados.
O objetivo final deve ser esse: realizar a transformação digital com entregas (fazer o digital), mas acima de tudo assegurar que você está ativamente contribuindo para que a empresa se torne digital (ser digital). Para ter sucesso nesta dimensão, apenas com um profundo conhecimento em gestão de mudanças e uma empatia muito forte pelos colegas e parceiros.
Se você nunca havia se interessado pelo aspecto mais humano da transformação, este é um bom momento para começar. E sobre as situações que vivemos nas empresas e as adversidades que encontramos, deixo uma frase da Professora Virginia Satir: “A vida não é o que deveria ser. É o que é. A maneira como você lida com isso é o que faz a diferença.”