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O mapa não é o território

Bruno Machado
Tríade Digital
Published in
3 min readApr 17, 2022

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O seu roadmap não deve ser uma prisão, assim como o seu conhecimento não é a única saída.

Há inúmeras citações acerca da ideia do matemático Alfred Korzybski (1931) de que "o mapa não é o território" e a minha proposta neste artigo é basicamente convidá-los a refletir o quanto essa afirmação é válida na gestão dos programas de transformação digital e nos inúmeros desafios que emergem durante o processo.

Considerando que a transformação digital é uma reação estratégica das empresas tradicionais às mudanças no comportamento de consumo ocorridas a partir do uso massivo das tecnologias digitais, a formulação de uma estratégia mais baseada no digital é uma parte fundamental neste processo.

Para Mintzberg (2005), em seu livro O Safári da Estratégia, a formulação da estratégia começa a partir de uma estratégia pretendida, refletindo as aspirações da organização, que se torna, por sua vez, deliberada, quando implementada, podendo ainda sofrer influência de ações emergentes, resultando na efetiva estratégia realizada, conforme figura abaixo.

Fonte: adaptado de Mintzberg, H., Ahlstrand, B., & Lampel, J. B. (2020, pX). Strategy safari. Pearson UK.

O hiato entre a estratégia pretendida e a realizada é análogo à diferença que existe entre o mapa e o território da transformação digital em cada organização.

O mapa representa tudo aquilo que pretendemos e tem como base o conhecimento dos membros do time em metodologias, experiências passadas dentro e fora da empresa, contexto mercadológico, recursos e os dados acumulados sobre os desafios da organização no que tange ao digital. Ele representa, no limite, o nosso roadmap digital.

O território, por sua vez, representa o dia a dia da empresa, com seus clientes, sua tecnologia obsoleta e em evolução, suas restrições orçamentárias, as pressões da concorrência, o turnover de funcionários e uma série de outros temas inerentes à operação e a gestão de uma empresa madura.

Por mais que um mapa seja útil, ele não é capaz de antever e tratar essas nuances particulares de cada empresa em cada momento de um mercado cada vez mais dinâmico. Infelizmente não há um "Waze" da transformação digital para sempre apontar o melhor caminho.

O mesmo vale para os profissionais que atuam nestes processos. Os mapas passados, acumulados ao longo da carreira e de inúmeros cursos e certificações, podem não representar muito em novos territórios. Ter a habilidade de entender isto rapidamente e ajustar a rota passa a ser uma competência vital e um exercício contínuo de humildade intelectual.

A partir dessa reflexão fica claro que o roadmap digital deve ser elaborado como uma referência, um primeiro exercício de alinhamento, planejamento e comunicação, mas não como um compromisso inegociável e imutável.

A linha é tênue, não é mesmo? Ter um mapa ajuda, mas se o território for bem diferente do mapa?

Nassim Taleb argumenta que "não dar um mapa a alguém é muito, muito melhor do que dar a ele um mapa errado." A ideia de Taleb é um mapa errado pode levar a resultados bem negativos, enquanto a ausência de um pode levar a respostas mais efetivas.

Dessa maneira, meus caros colegas, esteja sempre aberto para ouvir outras perspectivas, a rever suas certezas e, no limite, reaprender sobre temas que você imagina dominar.

As certezas trazidas pelos mapas que acumulamos ao longo dos anos são perigosíssimas quando estamos falando de um território que apresenta um dinamismo crescente, como é o caso da competição trazida pelo digital.

Para reforçar este trecho final, vou utilizar uma expressão do Steve Jobs que utilizo bastante em minhas reflexões: stay hungry stay foolish.

Boa jornada pelos territórios que estiver trilhando!

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Bruno Machado
Tríade Digital

Empreendedor Digital | Mentor na QUINTESSA — Apaixonado por tecnologia, negócios e inovação.