Utilizando APIs para conectar o ecossistema de saúde
Os programas de transformação precisam viabilizar novos modelos de negócios
API é a sigla utilizada para application programming interface e sua função é viabilizar de forma estruturada a integração entre sistemas. Este recurso, que há alguns anos era de domínio exclusivo de tecnologia, passou a ser uma alavanca relevante de novos modelos de negócio.
Essa importância crescente das APIs nas estratégias comerciais das empresas se deve ao fato de que muitos setores empresariais, inclusive a saúde, estão sendo transformados por novos entrantes ou por concorrentes que passaram a operar no modelo de plataforma.
Neste modelo de negócios de plataforma a geração de valor está associada a capacidade de conectar diferentes entes ao longo de uma cadeia para entregar produtos e serviços de forma completamente integrada, cobrando um valor por essa intermediação. Uma empresa que muda seu modelo de negócios para plataforma passa a orquestrar a relação entre os “produtores” e “consumidores” ao longo da cadeira de valor, conforme ilustrado nessa figura abaixo.
Há um livro clássico sobre o tema chamado Platform Revolution, dos autores Geoffrey G Parker, Marshall Van Alstyne, e Sangeet Paul Choudary, que aborda exatamente este modelo de negócios e a relevância das APIs para viabilizar a conexão dos parceiros de negócio com os recursos da plataforma.
Ainda que na saúde este seja um movimento recente, os exemplos mais maduros das plataformas podem ser vistos no varejo, que vem se digitalizando rapidamente e se conectando cada vez mais de forma indissociável com meios de pagamento, logística e serviços.
O caso global de maior sucesso no varejo é o da Amazon, que foi uma das pioneiras em converter a sua operação de e-commerce para o modelo de marketplace, conectando outros varejistas e operações logísticas para oferecer uma experiência “end-to-end” diferenciada para seus clientes, muito facilitada também pelo uso de APIs.
Já no Brasil, quem tem endereçado de forma brilhante os desafios de se estabelecer enquanto uma plataforma é o MagaLu, que vem crescendo a taxas de dois ou três dígitos a sua operação de marketplace nos últimos anos, além também de somar ao seu “ecossistema” uma série de startups que vem sendo adquiridas (apenas nos últimos dois meses, mais de quatro aquisições foram realizadas).
Mas e as aplicações possíveis do modelo de plataforma na área da saúde suplementar?
A saúde suplementar no Brasil é um setor que vem se profissionalizando bastante nos últimos anos, fruto de uma concorrência crescente em um mercado que não cresce em volume de pessoas com acesso aos planos de saúde. Este é um mercado de cerca de 47 milhões de beneficiários, número que permaneceu estável entre 2018 e 2019 de acordo com a ANS (Agência Nacional de Saúde).
Neste cenário competitivo os esforços vão no sentido de tornar os planos mais acessíveis e para isso a adoção de tecnologia e novos modelos de negócio são aceleradores importantes. O grande desafio do setor é fazer o sistema de saúde funcionar melhor para todos, tornando-o também mais acessível.
Uma das formas de encarar este problema de maneira sistêmica é procurar integrar os diferentes entes do setor de saúde para eliminar desperdícios e ajudar as pessoas a navegarem melhor pelo sistema de saúde, melhorando assim a experiência e até mesmo, em alguns casos, o desfecho clínico.
É justamente neste ponto — de integrar os diferentes agentes —que as APIs desempenham um papel relevante. Ao integrar os dados, dar fluidez na jornada dos pacientes e ao mesmo tempo sem comprometer a segurança dos dados dos beneficiários, as APIs podem materializar estes esforços.
Um exemplo promissor na saúde é o do Grupo Fleury, que anunciou na última semana a criação da plataforma “Saúde ID”, que oferece soluções integradas em saúde, conectando diferentes stakeholders ao longo da cadeia de valor de saúde.
Podemos esperar outros movimentos como este nos próximos meses, afinal o desafio do setor é enorme os benefícios de sua implementação de extrema relevância para a população.
Por fim, convido os meus colegas atuantes na área da saúde a se engajarem em iniciativas que se traduzam em uma maior integração e que por consequência contribuam para o sistema de saúde brasileiro.
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