A atualidade do pensamento de Marx

Tarik Dias
Tribuna da Pluralidade
3 min readMay 5, 2018

A capacidade do pensamento marxista na transformação da sociedade

Completando 200 anos desde o nascimento de Marx, não comemoramos hoje apenas o aniversário do mais importante filósofo do século XIX, e sim a possibilidade de reviver o pensamento daquele que é, sem dúvidas, o autor mais importante para a constituição da esquerda moderna.

Embora poucos são aqueles que não reconhecem o legado importante de Marx na constituição do mundo moderno, menos ainda são as pessoas que conseguem transcender ao reformismo das teorias contemporâneas e trazer à tona a vitalidade do pensamento marxista.

Assim, é com base nesse dilema que a celebração do bicentenário de Marx se faz tão importante. Nessa data, não se trata apenas de rememorar conceitos tão importantes como “acumulação primitiva”, “mais-valia”, “bonapartismo”, ou noções como “ideologia”. Tão pouco se trata de dizer que Marx foi um homem importante para a sua época, embora seu pensamento não seja valido para os dias de hoje, como pretendem alguns reformistas.

No bicentenário de Marx, tem-se a intenção de lembrar a potencialidade do pensamento marxista e desmistificar essa corrente tão contaminada por más interpretações, sendo algumas delas frutos da ignorância, e outras da simples má-fé. Só através dessa operação que a esquerda pode conseguir disputar esse momento único do capitalismo mundial.

Embora possamos observar na atualidade o surgimento de uma extrema-direita, isso não deve ser motivo de desânimo para os setores progressistas. Pelo contrário, tal fato só mostra que estamos diante de um momento de ruptura, que só pode ser enfrentado caso estejamos munidos de uma teoria sobre os caminhos da transformação.

Diante disso, podemos conceber, na essência do pensamento marxista, a centralidade da teoria revolucionária para enfrentar os desafios que se seguem no cotidiano. Portanto, aqueles que se dizem marxistas mas se escondem atrás de um “marxismo acadêmico”, não entenderam nada do próprio pensamento de Marx. Afinal, como já dizia nosso velho camarada:

“ Os filósofos tem apenas interpretado o mundo de maneira diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”.

Em suma, no pensamento marxista não se trata de decorar uma série de conceitos e reproduzi-los, mas sim de conseguir produzir uma dialética entre a teoria e a prática revolucionária.

Dessa maneira, é função primordial a todos os marxistas, em seus respectivos lugares, a análise metódica e profunda da realidade. Como vimos anteriormente, se queremos nos distinguir dos “marxistas acadêmicos” para a implementação de uma teoria revolucionária, só podemos fazer o mesmo se não tomarmos o método de Marx como um modelo a priori, ou seja, como um sistema teórico pré-estabelecido.

Se nos lembrarmos do passado do marxismo, veremos que o mesmo é recheado de exemplos de más interpretações sobre o mesmo, sendo o exemplo mais marcante as teses que concernem os processos revolucionários na periferia, consagrados na Terceira Internacional. Contaminados de dogmatismo, ao afirmar um etapismo (feudalismo, capitalismo e socialismo), os partidos comunistas — na tentativa de permanecerem fiéis ao marxismo — não viram que estavam esquecendo o fundamento do próprio pensamento, a análise das contradições do capitalismo nos seus momentos historicamente determinados.

Como consequência, os mesmos partidos — no delírio de que viviam resquícios do passado feudal — se uniram à burguesia, possibilitando as condições para que a mesma impedisse a transformação histórica que se manifestava como necessária na época. No caso brasileiro, isso se tornou óbvio através do golpe de 64, como bem analisou Caio Prado Jr:

“A ideia de que a evolução histórica da Humanidade se realiza através de etapas invariáveis e predeterminadas e inteiramente estranhas a Marx, Engels e demais clássicos do marxismo

Por fim, devemos afirmar que o pensamento de Marx se faz atual não por um acaso histórico, e sim pois é da própria lógica da natureza do pensamento marxista a sua atualização. Afinal, diferentemente da ciência burguesa que se pretende ser a-histórica e reificante das relações sociais, o marxismo foi e continua sendo a teoria do proletariado, e apenas com ela o mesmo pode se libertar de suas correntes.

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