A consolidação da extrema-direita na Europa.

O que o resultado obtido pela Alternativa para a Alemanha (AfD) nas eleições gerais do país dizem para a Europa.

Thiago Süssekind
Tribuna da Pluralidade
4 min readSep 26, 2017

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Protesto da extrema-direita contrário à política de acolher refugiados em Cologne, no ano de 2016. (Foto: Reuters).

Neste domingo (24), as eleições gerais na Alemanha conferiram à Angela Merkel e ao seu partido, os democratas-cristãos da CDU, a primeira colocação e um quarto mandato consecutivo para a atual chanceler do país. No entanto, com o pior resultado da legenda desde 1949, e fazendo com que a extrema-direita nacionalista, encarnada na AfD, a Alternativa para a Alemanha, ficassem na terceira colocação e com 94 assentos no Parlamento.

A vitória do partido, cujos líderes são famosos por declarações polêmicas como “a Alemanha deveria ter orgulho dos seus soldados na Segunda Guerra Mundial” e sobre o Memorial do Holocausto em Berlim ser uma “vergonha” – além de por terem tentado fazer um evento em Munique onde Hitler fez seu primeiro discurso político – marca o retorno da extrema-direita alemã ao Legislativo desde, segundo alguns, que o nazismo perdeu o maior conflito armado da História, em 1945; ou desde 1961, de acordo com outros.

Assim, o desempenho da AfD foi visto como vitorioso. Mas na França, a derrota de Marine Le Pen contra Macron por larga margem no segundo turno da eleição presidencial francesa foi vista como uma derrota para a extrema-direita. Na Holanda, o segundo lugar do Partido para a Liberdade, de Geert Wilders, também. A mesma coisa aconteceu em um outro país que fala alemão, com a segunda posição do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) após uma eleição polêmica em que os austríacos tiveram que votar duas vezes.

A verdade, no entanto, é que todos esses resultados não são mais do que evidências de uma mudança no cenário político europeu: a consolidação das visões de extrema-direita como força política de relevância nesses países, e não como moda, uma fase.

Na França, o voto nos extremos claramente vem mais dos subúrbios e do interior provinciano. (Imagem: EL PAÍS, com dados do NY times e do Ministério do Interior francês).

Na França isso é visto com muita facilidade, tendo a extrema-direita nacionalista da Frente Nacional já feito o seu discurso reverberar pela voz de milhares. Marine Le Pen fez com que a sua ideologia esteja, hoje, como uma das principais forças políticas francesas. E, diferentemente dos apoiadores de Donald Trump, há, dentre os apoiadores da FN, muitos jovens.

Esses seguidores de Le Pen, em geral, vivem em zonas periféricas, no interior do País e mais distantes das grandes cidades. O que não deixa de ser uma ironia, uma vez que essas áreas são as menos afetadas pela imigração, tema sobre o qual a euro-cética e sua legenda consideram prioritário se mostrarem contra. Bem como pelos ataques terroristas, por exemplo, que inflamam o discurso islamofóbico dos partidários da FN.

Na Alemanha, acontece algo similar: a AfD é muito mais popular na região onde se localizava, no passado, a Alemanha Oriental, menos afetada pela imigração e pela chegada de refugiados. Além disso, o partido tem mais apoiadores jovens do que mais velhos – este último grupo tende a votar ou na CDU ou nos social-democratas do SPD. E isso, evidentemente, é preocupante.

Resultados de domingo pela AfD. Desempenhos melhores no Leste. (Imagens: CNN).

Já Geert Wilders, cujo partido (PVV) se tornou o terceiro maior do Parlamento neerlandês já em 2010 e cresceu nas últimas eleições, se tornando o segundo com mais assentos, vê o seu apoio por faixa etária ser similar ao dos demais partidos. Seus defensores, entretanto, podem ser categorizados como pessoas de menor renda e escolaridade que a média. Algo confirmado em outros países, como a França. Mas não tanto, fora da Europa, nos EUA, por exemplo, país no qual graduados da universidade votaram mais em Trump do que em Hillary Clinton, mesmo que por pequena margem. A legenda extremista também é a favorita de uma região ao sul dos Países Baixos, chamada de Limburgo. É a segunda maior província da nação, diferenciando o seu apoio do francês à FN.

Resultados na Áustria em 2016. Na província em que Graz se localiza, vitória da FPÖ, mostrando a força do interior.

Na Áustria, o cenário é parecido ao francês. A cosmopolita Viena é um oásis progressista, com os seus sinais de trânsito – que tive a oportunidade de ver por mim mesmo em julho deste ano – mostrando diferentes formas de casais, sejam eles héteros ou homossexuais, juntos de mãos dadas. Isso fez com que o adversário do FPÖ na eleição presidencial de 2016, Van der Bellen, ganhasse 61% dos votos lá, assim como 62% em Graz (segunda maior cidade) e 56% em Salzburgo, a terceira. Entretanto, no interior, a situação muda completamente. E com até um significativo apoio jovem.

Dessa forma, é preciso que na Europa se tenha a percepção de que os resultados obtidos pela extrema-direita, desde nos Países Baixos até na Áustria, tendem a se manter ou a crescerem. E é preciso agir, através do diálogo, para combater isso antes que se torne um problema mais significativo caso um desses partidos cheguem ao Poder Executivo, como começa a se fazer na Alemanha. E não a ignorar e taxar a extrema-direita como derrotada, como foi feito na França

Esse texto foi o primeiro de uma série de artigos de tamanho reduzido que pretendo escrever, com o intuito de obter mais leituras.

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Thiago Süssekind
Tribuna da Pluralidade

Líder Estadual do Acredito-RJ (2020-2022) | Advogado | Direito-UERJ | Contato: tsussekind@hotmail.com | Twitter: @ThiagoSussekind