Síria: O que esperar agora?

As consequências para a guerra em território sírio após o ataque ordenado por Donald Trump

Fernando López
Tribuna da Pluralidade
3 min readApr 11, 2017

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Com certeza muitos já estão cansados de ouvir sobre a Síria e o que acontece por lá, visto que uma guerra civil se estende por sete anos, esta que já matou meio milhão de pessoas e devastou um país. Esvaziada, a Síria se tornou um campo de batalha entre muitos combatentes e, abandonados, aqueles que não conseguiram fugir.

Montagem produzida pelo Estadão; Síria em 2011 e em 2015 do espaço.

Recentemente, parecia que tudo estava chegando a um fim. O Estado Islâmico sofrendo seguidas derrotas e o governo sírio encaminhando a vitória sobre os rebeldes, que vinham se reduzindo e perdendo força com o abandono pelo ocidente.

Ainda com a eleição de Trump, imaginava-se uma política mais flexível quanto às disputas americanas com Putin - que apoia o Regime de Bashar al-Assad. Todavia, o presidente americano decidiu tomar uma decisão ortodoxa quanto à crise na Síria - se opondo à Rússia - intervindo diretamente no conflito pela primeira vez desde seu início. O presidente autorizou o bombardeamento de uma base aérea síria, sem consulta do congresso, e isto é um ato de guerra. Reascendeu-se, então, o conflito na região. O pretexto da intervenção foi o suposto ataque com armas químicas à população civil, veiculado em muitos lugares como de autoria de Bashar al-Assad.

Estranha a opção do líder americano em intervir, pois além de sua proximidade com Putin, seus argumentos são fracos e partem de hipocrisias. Trump sempre mostrou que pouco vai contribuir para o tratado de não proliferação nuclear, com discursos de que os EUA estarão sempre à frente dos demais,contudo, afirmou que esse ataque às tropas do governo sírio tem o objetivo de impedir a disseminação de armas químicas, como se fossem piores que aquelas. Além disso, para quem sempre atacou a mídia de seu país por espalhar notícias falsas, confiar nelas em titular os ataques químicos à Bashar al-Assad sem provas concretas soa equivocado.

Portanto, fica claro que a atitude do republicano é uma tentativa de elevar sua aprovação nesse princípio de mandato, este que estava nos piores inícios da história americana, com o governo sofrendo derrotas atrás de derrotas, seja na corte, no congresso ou nas ruas.

Agora, além de frear o combate ao Estado Islâmico por parte do governo sírio, que agora tem uma preocupação a mais, reavalia a guerra, tornando as forças governamentais mais equilibradas com as tropas rebeldes. Estende-se, assim, a guerra civil por mais tempo, acarretando mais mortes, mais destruição e mais deslocados. Porém, não há necessidade de se alarmar para uma possível eclosão do conflito a níveis mundiais. A situação ainda se encontra muito favorável ao Bashar al-Assad e é improvável uma atuação mais intensa dos EUA, visto que o único envolvimento recente é fruto de uma tentativa de Trump se salvar e o mesmo não tem interesse em piorar mais suas relações com a Rússia.

É bom deixar evidente que, visto a situação de calamidade na Síria, não há um partido “certo” ou “justo”. Nos conflitos, os meios nunca serão justos, já que a morte de outros é intríseca à guerra e esta sempre será injusta. Ademais, os rebeldes que lutam na Síria não são necessariamente pessoas em busca de justiça, democracia, mas diversos grupos com diversos interesses particulares se aproveitando do conflito. Se me ousasse a apontar um grupo com fim nobre, seriam os Curdos, que vivem há tempos num território demarcado e nunca viram um Estado que os representasse, além de serem discriminados nos países que alo tiveram ou têm controle.

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