A arte de grafitar

Paula Câmara Ferreira
Trilha Hip Hop
Published in
3 min readJun 19, 2017

Um dos 4 elementos do Hip Hop, o grafite, é uma forma de expressão muito utilizada para refletir a realidade das ruas

O grafite é uma arte pouco compreendida e altamente criticada. Os olhos despreparados não entendem que o grafiteiro expressa em seus desenhos toda a realidade das ruas. Representando esse elemento do Hip Hop, conversamos o Mateus Greff ( Xamã), 32 anos, grafiteiro leopoldense.

Xamã participa do movimento Hip Hop como grafiteiro desde a adolescência. (Foto: Arquivo Pessoal)

De menino à grafiteiro

Xamã conheceu o grafite quando criança no bairro Cohab Feitoria, em São Leopoldo. Ele conta que a cultura Hip Hop estava presente na cidade desde o início dos anos 90 através do Rap, das danças Break (B’Boys) e de filmes que mostravam o grafite. “O grafite já era assunto entre meus amigos e eu, mas a falta de material dificultou o começo imediato”, relata.

A primeira vez que viu a arte de perto ele tinha 10 anos. “Um colega de escola me convidou para conhecer um beco onde o tio dele estava fazendo grafites. O tio era o Valter Oracildo Cardoso, ativista da cultura Hip Hop e referência na região até os dias de hoje. Logo após comecei a riscar as paredes também, carvão, giz, tijolo de construção, tudo virava ferramenta”, relembra.

A paixão por grafitar foi evoluindo, o artista se baseava em quadrinhos, capas de disco e desenhos animados para desenhar. O material utilizado para pintar eram tintas temperas e tintas que encontrava nas ruas, mas somente com 15 anos ele começou a utilizar outros materiais. “Comecei a experimentar sprays, mas como o preço era alto e a qualidade ruim na época, optei por tintas convencionais. Aí então começou meus primeiros graffitis na Cohab Feitoria no início dos anos 2000”, explica.

Xamã posa junto com um de seus trabalhos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Inspiração e estilo do trabalho

Com o passar dos anos Xamã experimentou vários estilos diferentes no grafite como: letras, 3d, wild, realismo e bombs. Hoje em dia seu trabalho é feito Free Style. “Pretendo continuar praticando todos os estilos, basta ter a oportunidade e inspiração”, conta.

Rascunho de um dos projetos de Xamã. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ligado à natureza e aos problemas sociais o grafiteiro conta que sua inspiração vem da vida, da natureza e do autoconhecimento. “A minha inspiração vem de encontrar meu lugar na terra, de quem sou e o que sou. Quero me comunicar e geralmente as épocas de maior inspiração são as fases que quero expressar algo que sinto e também por algum descontentamento”, esclarece.

Um dos trabalhos do grafiteiro leopoldense . (Foto: Arquivo Pessoal)

Sobre a aceitação do seu trabalho, ele conta que teve fases em que as pessoas reagiram tanto negativamente como positivamente. “Ultimamente reagem bem, pois tento fazer algo limpo e com autorização. É possível falar o que pensamos de forma polida, limpa e agradável, mesmo que o assunto seja pesado”, explica.

Cena Hip Hop São Leopoldo

Segundo Xamã existem vertentes diferentes da cultura, quase que opostas na forma de como encaram o movimento. “Uns veem como porta de mercado, outros estilo de vida. Isso cria uma riqueza cultural ao mesmo tempo que dificulta a organização, por ser uma cidade pequena”, pondera. Para ele é muito importante à união de todos os grupos para que a produção cultural leopoldense não acabe.

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Paula Câmara Ferreira
Trilha Hip Hop

Estudante de Jornalismo. 25 anos. Apaixonada por: animais, livros, música e séries.