A arte de grafitar
Um dos 4 elementos do Hip Hop, o grafite, é uma forma de expressão muito utilizada para refletir a realidade das ruas
O grafite é uma arte pouco compreendida e altamente criticada. Os olhos despreparados não entendem que o grafiteiro expressa em seus desenhos toda a realidade das ruas. Representando esse elemento do Hip Hop, conversamos o Mateus Greff ( Xamã), 32 anos, grafiteiro leopoldense.
De menino à grafiteiro
Xamã conheceu o grafite quando criança no bairro Cohab Feitoria, em São Leopoldo. Ele conta que a cultura Hip Hop estava presente na cidade desde o início dos anos 90 através do Rap, das danças Break (B’Boys) e de filmes que mostravam o grafite. “O grafite já era assunto entre meus amigos e eu, mas a falta de material dificultou o começo imediato”, relata.
A primeira vez que viu a arte de perto ele tinha 10 anos. “Um colega de escola me convidou para conhecer um beco onde o tio dele estava fazendo grafites. O tio era o Valter Oracildo Cardoso, ativista da cultura Hip Hop e referência na região até os dias de hoje. Logo após comecei a riscar as paredes também, carvão, giz, tijolo de construção, tudo virava ferramenta”, relembra.
A paixão por grafitar foi evoluindo, o artista se baseava em quadrinhos, capas de disco e desenhos animados para desenhar. O material utilizado para pintar eram tintas temperas e tintas que encontrava nas ruas, mas somente com 15 anos ele começou a utilizar outros materiais. “Comecei a experimentar sprays, mas como o preço era alto e a qualidade ruim na época, optei por tintas convencionais. Aí então começou meus primeiros graffitis na Cohab Feitoria no início dos anos 2000”, explica.
Inspiração e estilo do trabalho
Com o passar dos anos Xamã experimentou vários estilos diferentes no grafite como: letras, 3d, wild, realismo e bombs. Hoje em dia seu trabalho é feito Free Style. “Pretendo continuar praticando todos os estilos, basta ter a oportunidade e inspiração”, conta.
Ligado à natureza e aos problemas sociais o grafiteiro conta que sua inspiração vem da vida, da natureza e do autoconhecimento. “A minha inspiração vem de encontrar meu lugar na terra, de quem sou e o que sou. Quero me comunicar e geralmente as épocas de maior inspiração são as fases que quero expressar algo que sinto e também por algum descontentamento”, esclarece.
Sobre a aceitação do seu trabalho, ele conta que teve fases em que as pessoas reagiram tanto negativamente como positivamente. “Ultimamente reagem bem, pois tento fazer algo limpo e com autorização. É possível falar o que pensamos de forma polida, limpa e agradável, mesmo que o assunto seja pesado”, explica.
Cena Hip Hop São Leopoldo
Segundo Xamã existem vertentes diferentes da cultura, quase que opostas na forma de como encaram o movimento. “Uns veem como porta de mercado, outros estilo de vida. Isso cria uma riqueza cultural ao mesmo tempo que dificulta a organização, por ser uma cidade pequena”, pondera. Para ele é muito importante à união de todos os grupos para que a produção cultural leopoldense não acabe.