As múltiplas expressões do hip hop: do rap ao skate

Júlia Klaus Bozzetto
Trilha Hip Hop
Published in
4 min readMay 24, 2017

Rapper esteiense relata sobre vida artística, projetos e analisa a cena gaúcha

No Rio Grande do Sul, a cidade de Esteio é a localidade onde o hip hop está bastante enraizado. Foi esse ambiente que forjou o rapper Cleiton Silveira, 30 anos, mais conhecido como Pródigo Katabeats. Nascido na cidade, ele está inserido na cena hip hop desde 2004, e revela ser um apreciador do movimento que inspira suas produções artísticas. Boa parte das suas canções são voltadas ao universo do skate.

A junção rap e hip hop se difundiu pelas periferias e centros urbanos até chegar aos skatistas, que adotaram o ritmo. A vertente preferida de Katabeats é o rap poético aliado ao skate.

Ele relata que começou a carreira cantando em dupla com o amigo Didão. Juntos tinham o grupo Pregadores, porém com o passar dos anos e a inclusão de novos artistas, formaram o Grupo Alianças. Tal formação contava com diversos MCs de Esteio.

Entre 2010 e 2011, Pródigo lança o EP (Extended Play), intitulado Pregadores Disco Solo, ou seja, um CD com menos músicas. A partir daí vários convites para tocar fora do Estado começaram a surgir. “Neste período muitas oportunidades emergiram. Fui convidado a participar do Hutúz, considerado o maior festival nacional de hip hop do Brasil. Este foi o pontapé inicial da minha carreira solo”, conta.

Pródigo posa para clique. Foto: Arthur Rosa

Desde então, o rapper não parou mais, são 13 anos de vida artística, onde parcerias novas se prospectam, sem deixar de lado os trabalhos solo. Os últimos projetos possuem ligação com o skate. As músicas de trabalhos são do disco “Parte do Ciclo Remix”, do grupo Rafuagi.

Mas o artista está com outros projetos em andamento. Um trabalho intitulado Metropolicranios, junto com o MC de batalha, Kromado, além do seu disco individual, ainda em construção. Mas o seu maior projeto que reúne a arte, os negócios e a cultura rapper em um único conceito é a loja Pin, inaugurada há um ano em Porto Alegre.

A Pin é uma criação conjunta entre o músico e Rodrigo de Oliveira, o Reverse, seu sócio na loja. A ideia é fruto de um desejo compartilhado pelos amigos. Ter uma marca de artigos de cabeça, como: toucas, bonés e outros acessórios. Porém, a ideia foi adaptada e virou loja, ganhando espaço físico há um ano, através de uma parceria com a Vó Zuzu Atelier, coordenada por Carine Marques. O atelier conceito já funcionava há 15 anos na capital, atuando na restauração de móveis, bem como em atividades voltadas à arte.

Assim, a ideia da Pin foi transformada de marca para loja, onde o foco é trabalhar com marcas independentes de skate, de suspensão, entre outras. Os produtos são naturais. O slogan da loja é “Salve sua Pin”, trazendo a mensagem de que o consumo de produtos naturais é mais saudável.

E o mais importante, a loja possibilita a extensão dos projetos artísticos do rapper, no âmbito do hip hop. “Quase todos os finais de semana ocorre alguma atividade na Pin, como grafite, lançamento de vídeo clipe de Mc ou entrevistas. Estamos sempre bolando atividades culturais”, salienta Pródigo.

A Pin localiza-se na Rua Cristóvão Colombo, nº 342, próximo ao Shopping Total, em Porto Alegre. Foto: Arquivo Pessoal

Sem jamais esquecer seus ideais, Pródigo Katabeats revela que é fã das quatro vertentes do hip hop, DJ, MC, B-boys e B-girls e o Grafite, mas se identifica com o rap poético. Suas composições falam sobre seu dia a dia e a visão presente e futura do mundo. “No hip hop, me apaixonei pela parte das rimas, mas pretendo iniciar na produção musical também”, observa.

O artista analisa que suas letras possuem conteúdos para a vida e não simplesmente momentâneas, que a seu ver não agregam em nada e só atrasam o processo de avanço da sociedade. Como membro e disseminador da cultura hip hop, Pródigo avalia que há certo desprestígio pelo movimento, a depender do ponto de vista. “No âmbito político, a cultura ainda sofre maus tratos. Já na visão pública e com a visibilidade na mídia, fomentada pelas redes sociais, está sendo bem tratada”.

Quando questionado sobre a presença do hip hop em solo gaúcho, o músico explica que os militantes da cena, na sua maioria, estão engajados em movimentos acelerados, produzindo festas e eventos. Tais ações são responsáveis por elevar o padrão hip hop para outro nível. As pessoas que não gostavam, estão migrando do papel de críticos para admiradores.

O rapper reflete sobre a cena atual do hip hop. Foto: Arthur Rosa

A Casa da Cultura Hip Hop, em construção na cidade de Esteio, é uma das bases fortes do movimento. O rapper acompanhou de perto o início dessa jornada. Foi membro da Associação da Cultura Hip Hop de Esteio (ACHE) por alguns anos, mas após se mudar para a cidade de Viamão, focou em outros projetos. “Acompanho pelas redes sociais as atividades da galera e acredito que a Casa vai ser muito bem sucedida. Os artistas locais e vizinhos mereciam um espaço. A cena hip hop é muito forte na cidade, e eu estou muito feliz com esta conquista”.

Além do Hutúz Festival Nacional de Hip Hop do Rio de Janeiro, Pródigo Katabeats já se apresentou por diversas localidades do Estado, como serra, litoral e vale dos sinos. Para ele, a cultura hip hop representa uma forma de expressão, onde coisas e pessoas podem ser modificadas de uma maneira natural, por meio dos conteúdos escritos nas músicas.

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Júlia Klaus Bozzetto
Trilha Hip Hop

Estudante de Jornalismo da Unisinos, Colunista do Jornal Matéria de Capa, Assessora de Comunicação da Câmara Municipal de Capão da Canoa, entre outros.