Batalha do Mercado: Evento que deu início aos duelos de MC’s na região metropolitana

Yasmim Lopes
Trilha Hip Hop
Published in
5 min readJun 15, 2017
Créditos: Divulgação

O freestyle é uma batalha de improviso que nasceu junto com o movimento Hip Hop. Quando o sound system (dois toca-discos interligados, com dois amplificadores e um microfone) se popularizou na periferia de Nova York, em meados dos anos 60, alguns músicos pegavam os seus equipamentos e iam para rua animar os diferentes quarteirões do Bronx. Os DJ’s que nessa época tinham a função de MC’s pegavam o microfone e defendiam o seu som. A disputa era pra ver quem atraía mais curiosos. Assim surgiu a batalha de Mc’s.

A Batalha do Mercado

Na Região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, as batalhas de MC’s tiveram início em 2011, com o surgimento da Batalha do Mercado.

Batalha do Mercado Créditos: Casa Fora do Eixo Porto Alegre

A ideia de agregar a cultura Hip Hop à cultura gaúcha surgiu a partir do interesse de Aretha Ramos, idealizadora e uma das organizadoras do Batalha do Mercado. Ela admirava e acompanhava eventos relacionados ao freestyle pela internet, tais como Batalha do Santa Cruz, da Leste, do Beco e Rap Móvel. Ela então pôde conhecer o organizador Augusto Oliveira, da Batalha da Leste, em São Paulo. Nessa ocasião, ambos tiveram interesse em organizar uma edição especial do evento de São Paulo em Porto Alegre, que foi realizado na Redenção, em 2011.

A organização da Batalha do Mercado inicialmente foi formada durante a edição especial da Batalha da Leste em Porto Alegre. Aretha Ramos, juntamente com os integrantes do antigo grupo SN Lombra, descobriram que tinham em comum o desejo de criar uma Batalha de MC’s na Cidade com o propósito de fortalecer o Rap Gaúcho.

A primeira edição da Batalha do Mercado, ocorreu no dia 30/12/2011, onde na época, a batalha ocorria nas últimas sextas-feiras do mês, às 22 horas.

Porque o nome “Batalha do Mercado”?

Este nome criado pelo grupo SN Lombra, foi devido a localização de um dos maiores pontos turísticos do centro histórico, sendo ele o Mercado Público, que é também um ponto de fácil acesso para o público de qualquer parte de Porto Alegre, e também da Grande Porto Alegre, onde a grande maioria das pessoas pegariam apenas uma condução para o centro da cidade. A localidade do evento fica bem próxima ao Mercado Público, no Largo Glênio Peres.

Atualmente, a Batalha do Mercado ocorre todo o último sábado do mês. O objetivo é fazer um evento contínuo e totalmente gratuito para que os MC’s, que possuem poucas oportunidades, possam demonstrar e desenvolver o seu talento através do freestyle (a rima improvisada) batalhando um contra o outro verbalmente.

As inscrições são gratuitas e ocorrem, a partir da edição de junho/2017, das 20h30 até às 20h50, com início da 1ª etapa às 21h. Todos os MC’s podem se inscrever, mas antes do início da Batalha ocorre um sorteio, onde apenas 8 ou 16 são selecionados.

Os MC’s possuem 40 segundos à capela para “atacar” e “responder” através da improvisação. Ao final de cada round, o público escolhe, fazendo barulho, quem teve melhor desempenho. A batalha possui dois rounds, e só há um terceiro em caso de empate. O vencedor final leva prêmios, onde o foco principal é disponibilizar uma gravação gratuita, beat e livros, dentre outras parcerias que são fechadas ao longo do mês.

“Nosso maior objetivo é ver a evolução de cada MC, que se dedica e vê na Batalha do Mercado um local de oportunidade para obter aprendizado. Assim como também, a cada mês, premiar o vencedor da melhor maneira possível, para motivar esta dedicação e, por fim, levar ao público simpatizante um bom evento”, destaca a organizadora da Batalha.

Aretha está à frente da organização da Batalha. Junto com ela, desde o início de 2017, foram escolhidos apresentadores, que tiveram destaque nas edições passadas do evento, para acompanhá-la e dar suporte na apresentação. Estes apresentadores são MC’s com histórico significativo de vitórias na Batalha do Mercado. São eles: Madyer Fraga, Yago Zandrio, Bruno Piloni (Malcom) e Marlon Luccas

A cena das Batalhas da região protagonizada por uma mulher

Créditos: Arquivo pessoal

Além de idealizadora e organizadora, Aretha Ramos é um liderança do movimento Hip Hop, principalmente do cenário do Rap. Com 23 anos, ela cursa o 5° semestre de Administração. Segundo a organizadora, suas influências iniciais não eram o rap. O gosto da família era a Black Music, o que acabou direcionando Aretha para mesmo gosto musical.

“Minha paixão pela Cultura Hip Hop acabou acontecendo mais pelo gênero musical do que pela cultura em si”, explica . Com a ajuda da internet, ela se aproximou da Cultura a partir do seu interesse pelo rap nacional e internacional, descobriu quando, onde e como surgiu o rap, tanto no Brasil quanto em outros países. “No início, eu tinha apenas o gosto musical, mas fui conhecendo a Cultura, as Batalhas de São Paulo, que é o centro da Cultura no Brasil, e, quando me dei conta, acabei inserida no meio”, conta.

A Batalha do Mercado abriu portas para Aretha, que acabou descobrindo-se como promotora de eventos, um dos motivos que a levou a cursar Administração. “A Batalha do Mercado me trouxe visibilidade”, diz. A idealizadora de duelo de Mc’s conta que conheceu projetos sociais em comunidades e que foi convidada a organizar duelos dentro de outros eventos. A partir desse envolvimento em outras batalhas e eventos de rua foi que passou a conhecer mais claramente a Cultura.

Os eventos proporcionaram uma melhor visão sobre o que é o Hip Hop. “Além das batalhas de MC’s, ali eu via muito mais. Os eventos abrangiam grafiti, DJ’s, batalhas de b-boys”, revela.

Sobre sua inserção no cenário do Rap, Aretha conta que as mulheres são menos vistas por conta da quantidade, “estamos em menor número”, diz. “A visão que se tem, como nas outras vertentes, é de que o homem é mais forte, mais resistente, o que não é verdade. Nós temos tanta resistência quanto”, continua.

Aretha relata que nunca sentiu o machismo de uma forma forte e tão evidente. “Aconteceu que, durante eventos onde eu era responsável, sempre queriam colocar alguém comigo. Não acreditavam que eu era capaz de organizar sozinha”, conta. “O machismo que sinto é entrelinhas”, completa. Segundo ela, esse assunto é bastante abordado hoje em dia, então acaba sendo mais difícil acontecer esse tipo de situação de forma mais nítida.

Por outro lado, Aretha conta que foi bem acolhida por grande parte das pessoas e que mulheres de todas as vertentes tem se unido para que a inserção feminina seja mais forte. Seguindo na inserção feminina, ela vê sua posição, sendo liderança, como uma maneira de incentivar outras mulheres a também tomarem a linha de frente e iniciarem seus próprios projetos. “Eu busco persistir e resistir ao máximo para dar forças a outras mulheres que querem entrar, mas não conseguem enxergar que tem espaços pra elas sim”, ressalta.

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