Entrevista Trilha Hip Hop com Will Zifí (Milianos)

Henrique Bergmann
Trilha Hip Hop
Published in
5 min readMay 23, 2017
Will Zifí- foto/arquivo pessoal

Criado em rodas de freestyles na Zona Leste de Porto Alegre por três amigos dos tempos de escola, o “Milianos” já é considerado um dos mais importantes grupos de Rap da cena underground do Rio Grande do Sul. O grupo foi fundado por Will Zifí (Willian Flores Nunes), Pedro Alem e Jeff Jeff (Jefferson Walter) que pela paixão pelo rap e a vontade de transmitir as suas mensagens e ideias através de rimas decidiram iniciar o grupo.

O “Milianos” trabalha de forma independente desde seu inicio em 2010, tendo três EPs lançados (Degraus -2012, NoTurno -2013 e Cilada -2016), disponibilizados no Soundcloud e no Spotify. Também trabalhou com nomes importantes do cenário gaúcho do rap, como Gean Brasil e Da Guedes.

Trilha Hip Hop entrevistou Will Zifí que contou sobre a criação do grupo, as referências deles no hip hop, da parceria realizada com o Da Guedes, além de relatar as dificuldades e vantagens de fazer rap no Rio Grande do Sul de maneira independente.

Trilha hip hop: Como vocês se conheceram e quando entraram no rap?

“Conheço o Jeff e o Pedro antes de criarmos o Millianos, somos amigos de escola, de “rolês” aos 15 anos. A partir disso eu e o Pedro fomos os precursores do grupo e começamos a viver o rap em 2010 com o lançamento do nosso primeiro disco “degraus”, já com a participação do Jeff.”

THH: Quais as principais influências e referências do Milianos no rap?

“Eu tenho como referência no Underground, Kamau, Quinto Andar, Gabriel o Pensador, Eminem, que foi um dos primeiros contatos com o hip hop e vários outros. Acho que as rimas, batidas e as mensagens são um conjunto e tem de estar sempre no mesmo nível. No rap as rimas e as batidas precisam ser “pesadas” e as mensagens relevantes.”

THH: A gente também entrevistou o Gean Brasil (Matéria completa aqui) que produziu algumas músicas do Milianos. como vocês se conheceram e como foi o trabalho com o Gean?

O Gean Brasil foi meu colega no ensino médio, mas ele não tinha produzido ninguém aqui no Brasil (antes do Millianos). Ele produzia alguns rappers na Carolina do Norte, participava de algumas mixtapes, lançou alguns discos e singles. Mas nos identificamos desde que conhecemos e já planejávamos essa parceria. E foi uma união muito boa entre o Millianos e o Gean, ele somando ao nosso trabalho e a gente somando ao dele.” (Confira aqui uma das parcerias com Gean Brasil.)

Da esquerda para a direita: Pedro Alem, Jeff Jeff, Will Zifí e Gean Brasil (agachado)- Foto/Bruno Gazanna

THH: Na página do facebook diz que vocês são independentes. Como é o trabalho pra gravar música, clipe e tudo mais? Dificulta sendo independentes ou pra vocês é até melhor assim?

Nós produzimos os três primeiros discos no nosso estúdio e a gente tem gostado cada vez mais de sermos independentes, mas sabemos a importância e a ajuda de uma gravadora, um patrocínio ou um apoio poderiam dar na logística do rap. Mas temos a vantagem que sendo independentes podemos trabalhar do jeito e no contexto que quisermos.”

THH: Até sobre isso, como é produção dos vídeos de vocês? Vocês que filmam, tem as ideias para os clipes?

A produção dos vídeos também são independentes. Nós trabalhamos com o Lucas Miranda, Hálex Marinho e o Renan Konrath, alguns dos melhores videomakers do Rio Grande do Sul. Todos os clipes foram roteirizados pelo Millianos e gravados pelos três, numa parceria muito produtiva, tanto que hoje em dia eles estão filmando para os melhores rappers brasileiros no Rio de Janeiro e São Paulo. E acho que o Millianos teve importância nessa integração deles, representando Rio Grande do Sul, com Rio e São Paulo.”

THH: Na página de vocês no facebook tem opção para download das músicas (aqui). Vocês também colocam bastantes clipes no youtube. A distribuição da música do grupo através da internet tem muita importância, não é mesmo?

Atualmente não tem como viver sem a internet. Todo mundo está com o celular na mão, se comunicando com alguém. E na música não é diferente, ela precisa estar se comunicando, conversando com quem a escuta. E hoje em dia é a principal plataforma de distribuição de música. Mas eu ainda acredito que vender CD na rua, apresentar seu trabalho diretamente para as pessoas é muito importante, pois assim conseguimos atingir um público totalmente diferente do qual encontramos na internet. Por isso o CD físico continua tendo relevância na distribuição do nosso conteúdo.”

THH: Como você está vendo a cena de rap de Porto Alegre e aqui do Sul? Se quem faz rap no RS tem visibilidade e oportunidades ou é difícil fazer rap por aqui?

“A cena está bem bonita, mas ainda tem muito a crescer e coisas a serem vistas e valorizadas. A mídia e as rádios dão pouco valor e visibilidade ao cenário musical no sul. Elas dão pouco apoio a esses tipos de música. Valorizam somente as músicas com mais apelo popular ou artistas que conseguem investir para tocar seu som nas rádios. Se os meios de comunicação e as rádios dessem mais oportunidades e visibilidade para os músicos e rappers do estado, o Rio Grande teria uma cena fantástica, que conseguiria facilmente se expandir por todo o Brasil.”

THH: Como foi o trabalho em parceria com o Da Guedes na música Partenon? Certamente foi uma influência no começo do grupo.

Da Guedes é família. Eles são uma grande uma grande influência, com uma história de 20 anos no rap gaúcho. Eles popularizaram e simbolizaram o Partenon como o bairro do rap de Porto Alegre e a gente tem tentado manter isso. Foi um prazer f**a trabalhar com eles, que apesar dos anos passarem continuaram com a humildade e o amor pela “quebrada” e foi isso que deu enorme valor a música lançada pelos grupos.”

Foto/Gota Filmes

Para saber mais sobre o trabalho do Milianos acesse a página do grupo no facebook e o seu canal no youtube ou curta o som deles no Soundcloud e Spotify.

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