Como a pesquisa pode colaborar na criação de produtos e serviços?

Laura Andrade
Trinca137
Published in
3 min readJul 22, 2020

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Construindo um caminho colaborativo para a pesquisa dentro e junto dos projetos

A pesquisa qualitativa de mercado é a minha rotina há mais de 10 anos. Analisar movimentos e tendências, entrevistar consumidores, moderar grupos, observar rotinas e hábitos de consumo e compra, conhecer novidades e inovações dos mais diversos segmentos. Os métodos utilizados neste trabalho, apesar de muitas vezes terem nomes diferentes e modernos, seguem padrões tradicionais por questões de eficiência, validade e de acordo com os objetivos propostos. Apesar desse modelo ser estabelecido, tenho questionado a forma como é feita a pesquisa desde a fase de coleta de informações até a entrega.

De forma geral, a pesquisa representa uma parte separada em um projeto mais amplo. Para o lançamento de um novo produto, por exemplo, a pesquisa tradicionalmente acontece em uma etapa prévia, onde vão ser coletados dados e tendências, ou no final do desenvolvimento, para testá-lo antes de ser lançado no mercado. Nesse formato, ela se localiza em uma fase separada, ficando apartada de todo o resto do processo de concepção.

Meu incômodo com esse modelo é principalmente pela questão do processo ser geralmente unilateral. O pesquisador é parte ativa que coleta dados, faz entrevistas e apresenta uma entrega com seu ponto de vista do que foi encontrado. Em contrapartida, a empresa que contrata a pesquisa recebe o resultado de forma passiva, consumindo um grande volume de dados que pode ser usado na criação do produto ou serviço. Pensando nessa dinâmica, tenho me perguntado: como a pesquisa (e o papel do pesquisador) pode ser um processo mais ativo e colaborativo?

É a partir desse questionamento que surge a proposta de PESQUISA PROJETUAL: um exercício de quebra da lógica estanque e limitada da atuação da pesquisa de mercado que, através da perspectiva do Design Estratégico, pode se tornar mais dinâmica e conectada com o processo de projeto na sua integralidade. Nesse modelo, a pesquisa acontece simultaneamente a outros momentos, envolvendo de forma mais ativa e central os outros atores do processo: a empresa contratante, a equipe do projeto, os consumidores e clientes da marca, a comunidade, o mercado e a sociedade.

A pesquisa projetual também traz a possibilidade da criação de um modelo de trabalho onde há espaço para projetação, ação, inovação e disrupção na forma de operar. Além de melhorias no processo enquanto ele acontece, adicionando valor à entrega conectada e distribuída ao longo do projeto — não limitada a um momento ou etapa. A ideia de atomic research é um exemplo de proposta de melhoria para esse processo, compartilhando das mesmas dores.

Hoje, meu papel na Trinca é inserir a pesquisa dentro dos projetos, estar junto e despertar nos times pequenos momentos de descoberta dentro de rotinas já estabelecidas. Desenvolver uma cultura e mentalidade de pesquisa distribuída em que todos possam ver e trazer insights do usuário, por exemplo, tornando nosso trabalho ainda mais human centred.

E assim vamos experimentando e construindo uma pesquisa projetual que é fundamentalmente multidisciplinar — com abordagens da pesquisa de mercado, UX research e design estratégico — e que possa se emaranhar aos projetos de uma forma tão natural e distribuída, que fique difícil dissociar pesquisa de projeto. Que dê espaço para o questionamento durante todo o processo. Até que se transforme em um mindset.

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