A Reunião

Bata antes de entrar

Natan Andrade
tripa

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Entrei na sala de reuniões sem bater, pois estava atrasado. Balbuciei um "desculpa pelo atraso" e fui me sentar. Todos os olhares repousaram em mim, como se eu fosse um estranho qualquer. Entendi que tudo isso era um simples sinal de reprovação pelo atraso e já comecei a tirar o notebook da mochila. Sem olhar para o rosto das pessoas, continuei meu pequeno ritual para acompanhar a reunião de onde ela estava. O notebook abre, fecho algumas abas e abro outras.

"Tá chegando? Estamos te esperando para a reunião." A mensagem pipoca na minha tela. Porra, Carla, eu já estou na reunião! Então o embrulho no estômago e a pancada na cabeça. Lentamente desvio os olhos do computador e foco nas pessoas, que continuavam a me encarar com o terrível olhar de medusa. Carla não estava na sala. Eu não conhecia nenhuma das pessoas ali. Na tela da televisão, dados estatísticos sobre o faturamento do ano. A vergonha é faca no estômago e chiclete na cabeça. Errei de reunião.

Sentindo o rosto queimar mais que o inferno, balbuciei outro "desculpa, reunião errada" e comecei a guardar tudo sem jeito na mochila para me retirar desse campo minado desgraçado o mais rápido possível. No caminho, ainda dei um jeito de tropicar numa das cadeiras. Vergonha. A maior vergonha de toda a minha vida. Essas pessoas devem estar rindo disso, até hoje, aqueles filhos da puta, sentados em suas poltronas confortáveis. E enquanto me reviro na cama sem conseguir dormir, escuto uma voz. "Mas, Flávio, isso já tem cinco anos!". Era minha mente, tentando me confortar. Em vão.

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Natan Andrade
tripa
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Escrevo histórias de amor, de boteco e mais algumas coisas.