Eu vivi isso.

masmariaelisa
tripa
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1 min readJan 25, 2018

Não contei pra ninguém. Vivi cada centímetro da dor, cada decibel do “não”. Mas por quanto tempo ainda ficaria sozinha se não vivesse? Arranjei uma desculpa pra cada episódio. Era o jeito dele. Era eu que não estava acostumada. Era porque tinha que ser. E foi.

Ficar calada não doía (nos outros). Não atraía os olhares de pena, nem as palavras de culpa. Doía em mim, porque eu fazia o trabalho deles. Eu era a funcionária do mês, por todos os meses que essa catástrofe durou. Me odiava em frente ao espelho ou sobre a cama, como se as partes do meu corpo fossem descartáveis de todas as formas. E eram.

Me livrei por outros motivos que não eram aquele, porque insisti em acreditar que nada daquilo havia acontecido. Aleguei que nossos caminhos estavam se desencontrando, que as nossas histórias não se completavam. A partir dali, era cada um por si, e eu, por mim, já estava partida há muito tempo.

Eu vivi as minhas negações, e vivi também cada momento em que elas foram negadas. Me vi rachada, usada, largada e ferida, procurando razões que não estavam entre as minhas pernas, que não se escondiam nem no meu rosto e nem nas minhas palavras. Eu vivi também essa incessante busca pela culpa impossível de se encontrar.

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