Juma e outros personagens que passam por transformações nas novelas

Erick Rodrigues
Trocando de Canal
Published in
6 min readOct 4, 2022
Juma (Alanis Guillen) em “Pantanal” — Divulgação/TV Globo

Entre os momentos que mais mobilizaram a audiência de “Pantanal”, que termina na próxima sexta-feira (7), estão as cenas em que Maria (Juliana Paes) e Juma Marruá (Alanis Guillen) viram onças. A transformação em animal é literal na história, mas também há um sentido figurado na ação, que está ligado à maternidade e à necessidade de proteção da cria e de quem mais é importante para elas.

O realismo fantástico de “Pantanal” é um elemento importante para o desenvolvimento da história. A trama de Benedito Ruy Barbosa, adaptada nessa segunda versão por Bruno Luperi, valoriza a tradição oral do brasileiro, as lendas e os “causos” contados em volta das fogueiras.

Além das transformações de Maria e Juma, o público também se envolveu nos momentos em que o Velho do Rio (Osmar Prado) se encantava em sucuri, como dizem os personagens, para percorrer o bioma e, até mesmo, fazer justiça contra aqueles que ameaçam as matas, os animais e outros personagens da novela.

Quando amparado por um bom propósito, o realismo fantástico vira um ingrediente muito interessante da dramaturgia para envolver o público na história. Nas novelas, especialmente nas mais antigas, isso foi feito com maestria.

Além de Maria, Juma e do Velho do Rio, vamos relembrar outros personagens que também sofriam transformações em folhetins.

As transformações de Aristóbulo (Ary Fontoura e Gabriel Braga Nunes), nas duas versões de “Saramandaia”; e de Astromar (Rui Resende), em “Roque Santeiro” — Divulgação/Reprodução/TV Globo

Aristóbulo e Astromar (Saramandaia e Roque Santeiro)

Dias Gomes foi um dos autores que melhor usou o realismo fantástico nas novelas. Em “Saramandaia”, de 1976, ele criou o professor Aristóbulo Camargo (Ary Fontoura), que se transformava em lobisomem nas noites de quinta para sexta-feira. Em Bole-Bole, havia muita especulação sobre essa peculiaridade, mas ninguém tinha certeza do fato. A aura de mistério impressionava Risoleta (Dina Sfat), proprietária da casa de tolerância da cidade. No remake de 2013, adaptado por Ricardo Linhares, Aristóbulo foi interpretado pelo ator Gabriel Braga Nunes.

Gomes voltou a ter um lobisomem como personagem em “Roque Santeiro”. Astromar Junqueira (Rui Resende) era presidente do Centro Cívico de Asa Branca e tinha o reconhecimento da população pela capacidade de oratória. Era alvo dos mexericos da cidade por conta da aparência soturna, o que reforçava os boatos de que virava lobisomem. Ao som de “Mistérios da Meia-Noite”, música cantada por Zé Ramalho, o personagem despertava o encantamento de Ninon (Cláudia Raia), a dançarina da boate Sexus.

Emanoel (Selton Mello) virava anjo em “A Indomada” — Reprodução/TV Globo

Emanoel (A Indomada)

Lá pelas bandas de Greenville, município fictício de “A Indomada”, havia o caso de um jovem que se transformou em anjo. Emanoel (Selton Mello), filho de Teobaldo (José Mayer), um dos homens mais poderosos da cidade, era um garoto sensível e que sofria de algumas crises. O olhar inocente para as questões do mundo era uma das características do rapaz, que, em determinado momento, se apaixonava por Grampola (Karla Muga), uma das meninas do bordel de Zenilda (Renata Sorrah). No final da trama de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, depois de uma discussão na praça da cidade, Emanoel virou uma criatura celestial diante de todos e voou em direção aos céus.

Em “Vamp”, o vampiro Vlad (Ney Latorraca) se transformava em cão — Divulgação/TV Globo

Vlad (Vamp)

Quem pensa que Vlad (Ney Latorraca), o vampirão-mor de “Vamp”, se transformava em morcego, se enganou. O personagem da novela de Antônio Calmon virava um cão feroz, que era visto rondando e intimidando os personagens, inclusive os seguidores dele. O conde Vlad foi o responsável pelo pacto que transformou Natasha (Cláudia Ohana) em uma vampira e deu a ela sucesso na música. Para se livrar da maldição, Natasha tentava destruir Vlad e isso levou o conflito para Armação dos Anjos, a cidade fictícia da novela e onde estava escondido o único artefato que podia eliminar o vampiro.

Murilo (Eduardo Moscovis) virava o gato León em “O Sétimo Guardião” — Divulgação/TV Globo

León/Murilo (O Sétimo Guardião)

Sete guardiões escondiam de todos em Serro Azul que havia uma fonte de água com propriedades curativas, assim evitavam que essa riqueza natural fosse explorada pelas pessoas erradas. Perto da morte de Egídio (Antonio Calloni), o guardião-mor, León, o gato dele, surgiu diante de Gabriel (Bruno Gagliasso) e o atraiu até a cidade para assumir o posto de líder dessa missão. O gato, que parecia ter poderes, era, na verdade, Murilo (Eduardo Moscovis), um ex-guardião da fonte que foi punido por escolhas feitas no passado. Na forma animal, o personagem também tinha contato com Luz (Marina Ruy Barbosa), uma jovem com uma sensibilidade incomum.

O vilão Cândido Alegria (Armando Bogus) virava estátua no fim de “Pedra Sobre Pedra” — Reprodução/TV Globo

Cândido Alegria (Pedra Sobre Pedra)

No final de “Pedra Sobre Pedra”, de Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn, o vilão Cândido Alegria (Armando Bogus) era flagrado tentando matar a filha e cúmplice Eliane (Carla Marins). Ambicioso e ameaçado de perder o poder que havia conquistado na cidade de Resplendor, ele ameaçava outros personagens com uma dinamite, mas o artefato explodiu na mão dele. Ao invés de ir pelos ares, Cândido Alegria se transformou em uma estátua de pedra.

Em “Saramandaia”, o amor de Tibério (Tarcísio Meira) e Candinha (Fernanda Montenegro) transformou o casal em árvore — Divulgação/Reprodução/TV Globo

Tibério e Candinha (Saramandaia)

As famílias Vilar e Rosado eram inimigas mortais em “Saramandaia”, de 2013, e o conflito afetava várias gerações dos clãs. Essa rixa separou Tibério (Tarcísio Meira) e Candinha (Fernanda Montenegro), apaixonados um pelo outro desde a juventude. Enquanto o chefe da família Vilar não se levantava da cadeira de balanço, a ponto de criar raízes no chão, a mãe de Zico Rosado (José Mayer) tinha alucinações com galinhas andando pela casa. No fim, o casal se reencontrou, com a ajuda dos netos, e, após um beijo apaixonado, o amor os transformou em uma árvore.

Por interferência divina, Elvira (Marieta Severo) virou estátua e, em seguida, pó em “Deus nos Acuda” — Reprodução/TV Globo

Elvira (Deus nos Acuda)

Secretária do empresário Otto Bismarck (Francisco Cuoco), Elvira (Marieta Severo) era uma mulher dissimulada e ávida por poder. Apaixonada pelo chefe, blindava-o da aproximação de outras pessoas e até alimentava alguns boatos sobre a índole dele. Desmascarada no final de “Deus nos Acuda”, de 1992, a vilã fugiu do país, mas, por intervenção divina, acabou transformada em uma estátua de leão, que, em seguida, explodiu e virou pó.

Linda Inês (Giulia Gam) foi transformada em estátua de ouro por Flamel (Edson Celulari) em “Fera Ferida” — Reprodução/TV Globo

Linda Inês (Fera Ferida)

O protagonista de “Fera Ferida”, de 1993, era o alquimista Raimundo Flamel (Edson Celulari), que voltava à Tubiacanga disposto a se vingar dos poderosos da cidade. Apaixonado por Linda Inês (Giulia Gam), a filha do prefeito Demóstenes (José Wilker), Flamel desenvolvia uma fórmula para transformar ossos em ouro, mas essa experiência trouxe consequência. Castigado, ele passou a transformar tudo o que tocava em ouro, inclusive a amada. A fórmula provocou, ainda, uma confusão na cidade fictícia, que ficou destruída após a população ser incitada contra o personagem.

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