“Os Anéis de Poder” faz temporada de apresentação e ainda precisa encantar

Erick Rodrigues
Trocando de Canal
Published in
4 min readOct 21, 2022
Divulgação/Amazon Prime Video

Desenvolver um prequel, pré-sequência ou prelúdio, como queiram chamar, de “O Senhor dos Anéis” é uma tarefa e tanto. Isso porque, além das expectativas que isso cria, essa produção precisa considerar os detalhes e desdobramentos desse universo que já foram mostrados na obra literária de J. R. R. Tolkien, na trilogia de Peter Jackson e, até mesmo, em “O Hobbit”.

Com tanto material em mãos, os criadores de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder”, série do Amazon Prime Video, decidiram fazer da primeira temporada uma espécie de apresentação e não contextualizar todo o universo já explorado no piloto ou apenas em um episódio prolongado. Essa foi uma opção acertada, ainda que haja críticas sobre o ritmo da narrativa.

“Os Anéis de Poder” se passa muito tempo antes de Frodo (Elijah Wood) ser incumbido da missão de impedir a escala de poder de Sauron. Mesmo com algumas questões divergentes, os povos vivem uma era de paz na Terra-Média. Muitos, no entanto, estão alheios ao fato de que o mal está se organizando para ressurgir e subjugar todas as criaturas que vivem ali.

Galadriel (Morfydd Clark), uma elfa cujos talentos para o combate são reconhecidos, insiste que Sauron e um exército de orcs estão em movimento para trazer tempos sombrios à Terra-Média. Movida por um sentimento de vingança, ela têm os alertas subestimados e resolve, então, embarcar em uma jornada para enfrentar o inimigo. Nesse caminho, ela encontra Halbrand (Charlie Vickers), que ela acredita estar predestinado a ser um rei para os homens das Terras do Sul; e vai parar em Númenor, um reino que cortou relações com os elfos no passado.

Enquanto Galadriel faz todo esse percurso, o elfo Arondir (Ismael Cruz Córdova) e um grupo de resistência já enfrentam as primeiras investidas dos orcs contra as Terras do Sul. Bem distante dali, a rotina pacífica de Nori (Markella Kavenagh) e dos Pés-Peludos é tumultuada pela chegada d´O Estranho (Daniel Weyman), que, literalmente, caiu do céu e parece desorientado.

A série mostra, ainda, as tentativas de Elrond (Robert Aramayo) de convencer o rei dos anões, Durin III (Peter Mullan), a extrair e compartilhar um minério que pode salvar a existência dos elfos. No entanto, nem mesmo a amizade com o filho do monarca, o príncipe Durin IV (Owain Arthur), facilita nesse convencimento.

Divulgação/Amazon Prime Video

Como já adiantado, foi acertada a decisão dos criadores de seguir uma tradição desse universo e fazer da primeira temporada uma jornada de apresentação, de exposição de um mundo em construção. Nas obras anteriores, o público já viu a dinâmica da relação entre os elfos e os anões, assim como entendeu a ameaça representada por Sauron, mas era preciso construir esse contexto, colocar as peças nas posições certas no tabuleiro.

“Os Anéis de Poder” procura estabelecer esse cenário sem abreviações ou açodamento, mesmo com o desafio de cobrir muitos detalhes. Isso, no entanto, gerou críticas de que a série é lenta, mas essa percepção é influenciada por dois aspectos. O primeiro é que a audiência é cada vez mais imediatista e ansiosa, características que não valorizam esse ritmo de construção narrativa.

O segundo aspecto corresponde a uma má distribuição dos acontecimentos da história nos roteiros. Alguns episódios arrastam demais resoluções de conflitos e, quando chega, no final, há acontecimentos demais que seriam melhor explorados se tivessem mais tempo de tela. A dúvida sobre a identidade de Sauron e do Estranho não precisava ser tão corrida, assim como a forja dos anéis.

Mesmo resgatando um universo e tipos já conhecidos, “Os Anéis de Poder” ficou devendo em encantamento nessa primeira temporada. A produção é caprichada, de encher os olhos e que merece ser vista na maior tela possível, mas há uma dificuldade de conectar os conflitos dos personagens ao espectador. Existe um distanciamento e, em alguns momentos, até uma indiferença que acaba enfraquecendo os acontecimentos. É uma questão a ser superada.

Após essa temporada de apresentação e organização de contexto, “Os Anéis de Poder” pode, enfim, explorar o potencial que carrega para envolver o espectador. Manter o ritmo que remete a uma jornada e aparar as arestas no roteiro e na construção dos personagens devem melhorar a experiência. A conferir.

O SENHOR DOS ANÉIS: OS ANÉIS DE PODER (primeira temporada)

ONDE: Amazon Prime Video

COTAÇÃO: ★★★ (boa)

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