“Todas as Flores” resgata e mistura elementos da obra de João Emanuel Carneiro

Erick Rodrigues
Trocando de Canal
Published in
7 min readNov 14, 2022
Divulgação/TV Globo

Depois de dois sucessos no horário das sete e de fazer história às nove, o autor João Emanuel Carneiro escreve, agora, o primeiro folhetim para o streaming. “Todas as Flores”, disponível no Globoplay, não rejeita as características do melodrama tradicional, mas busca uma aproximação com o formato das séries.

Ao invés de 180 capítulos, mais ou menos a duração de uma novela na TV aberta, “Todas as Flores” terá 85 no total. Haverá, ainda, uma divisão por temporadas: a primeira termina em dezembro e a segunda estreia apenas no ano que vem. Mirando no hábito de quem curte uma maratona ou simplesmente não gosta de ficar preso a uma grade de programação, a plataforma disponibiliza cinco capítulos semanalmente, às quartas-feiras.

A protagonista de “Todas as Flores” é Maíra (Sophie Charlotte), uma jovem perfumista que descobre, no dia da morte do pai, Rivaldo (Chico Diaz), que a mãe está viva. Zoé (Regina Casé) procura a filha para justificar a ausência e diz querer recuperar o tempo perdido. Só que, na verdade, ela tem outro interesse. Zoé quer que Maíra faça uma doação de medula para Vanessa (Letícia Colin), a irmã que a garota desconhecia ter e que enfrenta uma leucemia.

Maíra, que tem deficiência visual, é alvo do capacitismo da irmã e de Zoé, que sempre fazem comentários discriminatórios em relação a ela. Mesmo após a doação da medula, Vanessa não fica nem um pouco grata e mal consegue disfarçar que não tolera a presença da jovem. O ódio só aumenta quando Maíra se apaixona por Rafael (Humberto Carrão), o noivo da irmã.

Mesmo não gostando de Rafael, Vanessa quer manter a relação para se beneficiar da fortuna do noivo, que é um dos herdeiros da “Rhodes & Co.”, uma loja de artigos de luxo. O casamentos dos dois também faz parte dos planos de Zoé, que arquitetou essa aproximação com Humberto (Fábio Assunção), pai de Rafael. Humberto é um dos poucos que conhece o passado da mãe de Maíra e as atividades ilegais com as quais ela está envolvida.

Além de ser a primeira novela para o streaming de Carneiro, “Todas as Flores” também resgata e mistura elementos que o autor já usou em folhetins anteriores. Vamos ver alguns deles:

De “Da Cor do Pecado” a “Todas as Flores”, as vilãs loiras de João Emanuel Carneiro — Divulgação/TV Globo

Loira má

As novelas de Carneiro sempre trazem vilãs de cabelos loiros e “Todas as Flores” não foge à regra. Quem inaugurou a categoria de loiras más do autor foi Bárbara (Giovanna Antonelli), em “Da Cor do Pecado”.

Depois vieram Leona (Carolina Dieckmann), de “Cobras e Lagartos”; Flora (Patrícia Pillar), de “A Favorita”; Carminha (Adriana Esteves), de “Avenida Brasil”; Atena (Giovanna Antonelli), de “A Regra do Jogo”; e a dupla Laureta (Adriana Esteves) e Karola (Deborah Secco), de “Segundo Sol”. Agora, no streaming, é Zoé quem ostenta uma cabeleira loira.

A loja “Rhodes & Co.”, de “Todas as Flores”; e, menor, a “Luxus”, de “Cobras e Lagartos” — Divulgação/Reprodução/TV Globo

Loja de luxo

Em “Todas as Flores”, parte da ação da trama se passa dentro da “Rhodes & Co.”, a loja de artigos de luxo comandada pela família de Guiomar (Ana Beatriz Nogueira) há um século. Não é, no entanto, a primeira vez que o autor cria conflitos em volta de um empreendimento como esse.

Na novela “Cobras e Lagartos”, a “Luxus”, loja do empresário Omar Pasquim (Francisco Cuoco), atendia a uma clientela exclusiva e com muito dinheiro para gastar. O negócio também era alvo da cobiça de muitos personagens, que queriam o comando da empresa.

Mocinhas e perfumistas: Bel (Mariana Ximenes) e Maíra (Sophie Charlotte) — Divulgação/TV Globo

Perfumista

Maíra, a protagonista de “Todas as Flores”, é uma perfumista que aprendeu os segredos do ofício com o pai. O talento para misturar essências faz a personagem ser contratada pela “Rhodes & Co.” para desenvolver perfumes para a marca.

Assim como ela, em “Cobras e Lagartos”, a mocinha Bel (Mariana Ximenes) também trabalhava como perfumista. O talento de Bel, no entanto, era desenvolvido de forma mais artesanal. Maíra, por outro lado, está cercada dos mais modernos equipamentos para produzir as combinações de aromas.

Amantes e cúmplices em “Avenida Brasil” e “Todas as Flores” — Divulgação/TV Globo

Mais que amantes, cúmplices

Zoé e Humberto são conhecidos de longa data e isso não demora a ficar claro em “Todas as Flores”. Os dois são parceiros desde a juventude e aplicam uma série de golpes juntos. O pai de Rafael sabe todos os podres da vilã e, casado com Guiomar, faz de tudo para casar o filho com Vanessa, tentando garantir, assim, que a família de Zoé tenha o controle da “Rhodes & Co.” um dia.

A dupla esconde essa ligação que vem do passado, assim como Carminha e Max (Marcelo Novaes), os vilões de “Avenida Brasil”. A personagem de Adriana Esteves infiltrava o amante na família do marido, casando-o com a cunhada, e sempre recorria ao cúmplice na hora de arquitetar maldades.

Nilo (José de Abreu) e Galo (Jackson Antunes): os exploradores de crianças — Divulgação/TV Globo

Explorador de crianças

No lixão de “Avenida Brasil”, Nilo (José de Abreu) explorava o trabalho das crianças que eram abandonadas e acabavam indo parar lá. Agora, em “Todas Flores”, quem exerce essa função é Galo (Jackson Antunes), parceiro de Zoé em uma fundação de fachada.

Além de enviar jovens para a “obra social” da vilã, o personagem mantém algumas crianças vivendo com ele e as coloca para pedir dinheiro ou vender balas em semáforos.

“A Regra do Jogo” e “Todas as Flores” têm fundações de fachada usadas para crimes — Divulgação/TV Globo

Fundação falsa

Por falar no esquema que envolve Galo e Zoé, em “Todas as Flores”, a fundação “Cinco Horizontes”, mantida pela vilã, nada mais é do que uma forma de obter lucro com o tráfico humano. Para manter as aparências, a organização sustenta uma imagem de obra social voltada para estudo e capacitação de jovens.

Essa trama faz lembrar “A Regra do Jogo”, cujo protagonista, Romero Rômulo (Alexandre Nero), mantinha a Fundação Raiar. Sob pretexto de ressocializar ex-detentos, o projeto, na verdade, era usado para recrutar membros para uma facção criminosa.

Nina (Débora Falabella) e Diego (Nicolas Prattes): jornadas de vingança — Divulgação/TV Globo

Vingança

Carneiro, como ninguém, sabe que uma boa história de vingança é um prato cheio para as novelas. “Avenida Brasil”, um dos maiores sucessos de todos os tempos do gênero, mostrava Nina (Débora Falabella) agindo para se vingar da madrasta, Carminha, que aplicou um golpe no pai dela e, ainda, foi responsável por abandonar a garota no lixão.

Em “Todas as Flores”, essa jornada de vingança faz parte da trama de Diego (Nicolas Prattes), que é convencido a assumir um crime que não cometeu e, já na cadeia, descobre que foi passado para trás pelo promotor Luis Felipe Martinez (Cássio Gabus Mendes).

Os herdeiros de “Da Cor do Pecado”, “Cobras e Lagartos” e “Todas as Flores” — Divulgação/TV Globo

Herdeiros

Os herdeiros de fortunas estão no centro dos conflitos de algumas novelas do autor. Em “Da Cor do Pecado”, colocar as mãos no dinheiro de Paco (Reynaldo Gianecchini) era o objetivo de Bárbara, a noiva do herdeiro de Afonso Lambertini (Lima Duarte), que vê os planos ameaçados quando o rapaz se apaixona por Preta (Taís Araújo).

Daniel Miranda (Daniel de Oliveira), o Duda, era o herdeiro do empresário Omar Pasquim em “Cobras e Lagartos”, porém, a posse dos bens do milionário é dada a outro Daniel Miranda (Lázaro Ramos), o Foguinho. Outros personagens descobrem o erro em relação à herança e tentam se apoderar da “Luxus”, a loja da novela.

Já em “Todas as Flores”, é a futura herança de Rafael que desperta a cobiça de Vanessa. Mesmo curada de uma leucemia, após a doação de medula feita pela irmã, a filha de Zoé finge estar doente para fazer com que o noivo não termine o relacionamento para ficar com Maíra. O controle da “Rhodes & Co.” também é um dos desejos da mãe da personagem.

“A Favorita” e “Todas as Flores”: quem está dizendo a verdade? — Divulgação/TV Globo

Versões de uma história

“A Favorita” inovou ao não revelar ao público, logo de cara, a verdade sobre o assassinato de Marcelo Fontini (Flávio Tolezani). Tudo o que o público e os personagens sabiam eram as versões contadas por Donatela (Cláudia Raia) e Flora, que acabou condenada pelo crime e passou 18 anos presa. Em “Todas as Flores”, Carneiro volta a usar esse recurso, agora para confundir Maíra sobre o passado de Zoé.

Enquanto a vilã jura ser vítima de injustiças, Judite (Mariana Nunes) afirma conhecer todos os detalhes dos crimes e mentiras contadas pela mãe da protagonista. Mesma sabendo desde o início do caráter de Zoé, agora, o público também desconhece alguns pormenores dessa história.

--

--