Que liberdade é essa?

Reflexão sobre um diferente tipo de liberdade

Sandra Laudelino
Trocando ideias
4 min readMay 28, 2019

--

“Por que eu deveria poupar dinheiro?”

Uma amiga me perguntou isso há algum tempo e eu não respondi de imediato. Comecei a juntar o conteúdo que eu havia aprendido sobre finanças, pra tentar provocar nela uma reflexão tão forte quanto foi em mim. Não sei se consegui impactá-la tanto assim, mas compartilho aqui, de forma bem resumida, a resposta que elaborei (e um pouco do que me fez mudar minha perspectiva de vida desde que saí da casa dos meus pais e fui encarar a vida real):

Por que você deveria poupar? Por que você deveria tirar parte do dinheiro que levou dias pra receber (dias pegando trânsito, passando 8 horas ou mais numa sala fechada, em frente ao computador…) pra poupar? Afinal, não é só um número a menos em seu salário; é uma manicure que você deixa de ir, um Uber que você deixa de pegar, uma blusa a menos que você terá no guarda-roupa… Ao final de um ano, a impressão que se tem é que foram doze meses se privando de pequenas alegrias, para ter algum valor que não faz o sacrifício parecer ter valido a pena.

É aqui que entra uma questão importante: Estabilidade não existe! Muito menos estabilidade financeira. Nada nos garante que em doze meses tudo estará exatamente como hoje. Quem já teve grandes surpresas na vida (positivas ou negativas) sabe bem do que eu tô falando.

Imprevistos acontecem e sempre vão acontecer. O quão preparados estamos para eles é o que irá determinar se sairemos ilesos dessa turbulência ou se entraremos em um ciclo de endividamento sem fim.

Por isso, o primeiro passo para uma vida mais equilibrada financeiramente é uma reserva de emergência. Esse “pequeno” valor poupado, ao final de um ano, será suficiente para te amparar se houver algum imprevisto. Essa reserva te deixará tranquilo caso surja uma emergência de saúde, você não receba tanta comissão esse mês, ou pior: a empresa atrase seu salário.

Diante desse imprevisto, não haverá desespero. Você conseguirá gerir o problema até a situação voltar ao normal. Os problemas nascem pequenos e dão sinais ainda pequenos. Não ignore esses sinais.

Entenda que não é apenas cortar gastos e fazer poupança, como se fosse uma troca entre o presente e o futuro, num eterno sacrifício. É mais do que isso! É garantir que você possa viver bem a vida — seja presente, seja futura.

Mudança de Consciência

Vivo pra gastar ou gasto pra viver?

Vivemos tentando preencher um vazio que não entendemos bem o que é. E pior: o preenchemos com coisas. Mas logo que o barato da compra passa, o vazio volta e precisamos de novas coisas para preenchê-lo. Pronto! O ciclo tá formado.

Status é outro bicho perigoso. Gastamos o que não temos, pra comprar coisas que todo mundo tem. Só porque todo mundo tem! Felicidade tem a ver com qualidade de vida e isso não é igual pra todo mundo.

O que você gosta de fazer? O que te torna uma pessoa melhor?

Imagine que passou o dia com os amigos ou foi num show massa no fim de semana. Como chegará na segunda-feira pra trabalhar? Provavelmente cheia de energia, contando o quanto riu e se divertiu nos últimos dias e seu desempenho no trabalho será diferente nessa semana. Seu estado de espírito reflete em tudo o que você faz. E o mesmo acontece se tiver passado o fim de semana preocupada, escolhendo qual conta pagar. Você até consegue empurrar a situação e sobreviver, mas sobrevivência não é vida.

Anote o quanto ganha e observe seus gastos quase que com obsessão. Gaste com as coisas certas e não perca o controle de suas contas.

Saber gastar é um dos elementos mais importantes do processo. Utilize parte do seu dinheiro para coisas que lhe tragam grandes recompensas. Não caia na armadilha de assumir um padrão de vida que você não consegue pagar! Os juros num endividamento são gigantescos e, com certeza, esse valor seria melhor aproveitado em muitas outras coisas (e se cair nessa armadilha, deixará de tê-las pra pagar juros). Mas se já entrou nessa, não se desespere! Faremos outro post sobre isso.

Veja que não tem problema em consumir. O problema está em consumir em excesso coisas que nem são tão importantes assim pra você — e que acabam tirando espaço daquelas que realmente são.

Li em um dos livros do Gustavo Cerbasi algo mais ou menos assim: “Busque viver bem o presente e poupar para garantir no futuro o mesmo padrão de vida que você tem hoje”. Sem troca entre presente e futuro, mas cuidando para que imprevistos não coloquem tudo a perder.

Sabe a liberdade que falei lá no título? Então, trata-se de liberdade de escolhas, que somente uma vida financeira equilibrada pode oferecer.

Vale a pena? Tenho certeza que vale.

--

--

Sandra Laudelino
Trocando ideias

Uma socialista em luta por uma sociedade verdadeiramente emancipadora.