GoPro Hero 4 Session: a novidade inspirada na concorrente

O império contra-ataca

Como uma câmera da quase esquecida Polaroid redefiniu os rumos da gigante global GoPro

Daniel Ramalho
Trombone Media
Published in
5 min readJul 7, 2015

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“Seja um herói”. Com esse slogan a GoPro se consolidou como a câmera-desejo de 10 entre 10 pessoas que não querem ficar só sentadas no sofá assistindo, mas também tomar a iniciativa. Compacta, leve, à prova d’água, resolveu dezenas de questões numa mesma caixa. Tornou surfistas, ciclistas, skatistas, escaladores e corredores os produtores de suas próprias imagens. E que espetáculo de imagens!

Nada mais natural que anunciar uma nova versão de sua já lendária Hero. Depois da Hero 1, 2, 3 e 4, a empresa apresentou ao mundo mais um objeto de desejo, a GoPro Hero 4 Session (começa a ser vendida no dia 12). Toda preta tal como Darth Vader, tem metade do tamanho das GoPro Hero antigas. Na verdade, não é uma apenas uma “versão”, mas um modelo totalmente novo: 50% menor e 40% mais leve do que as anteriores. E ainda é capaz de ser colocada na água fora da caixa.

Tudo dentro do previsto se a câmera não fosse quase idêntica à “concorrente” Polaroid Cube (inclusive na capacidade de utilização fora da caixa mesmo embaixo d'água).

Quando ninguém esperava, em meados de 2014, a então obsoleta Polaroid (sinônimo de foto instantânea) apresentou uma caixinha colorida, à prova de choque e de água, capaz de filmar em alta definição e fotografar. Com um design atraente e o tamanho de um cubo de gelo! O conceituado PetaPixel considerou a pequena notável a principal alternativa a GoPro em anos. Instantaneamente, surgia um novo desejo: a Polaroid Cube.

Polaroid Cube: é inegável que a GoPro se inspirou no design dessa pequena

No anúncio do novo brinquedinho da GoPro, o fundador e presidente da empresa Nicholas Woodman afirmou que pretendia há tempos produzir uma câmera mais leve — os atletas pediam por um equipamento menor e mais discreto. Mas fica difícil negar que é muita semelhança para uma mera coincidência.

Fato é que a GoPro, empresa que surfava ondas perfeitas e havia criado um círculo virtuoso em torno do seu produto, teve que revirar as velas e correr atrás de uma alternativa para enfrentar a ameaça causada por um cubinho de gelo.

Num passado recente, inúmeras marcas tentaram copiar a GoPro sem ameaçar a sua hegemonia. Companhias chinesas lançam quase que diariamente uma nova action camera. Nessa corrida desenfreada, uma tendência é clara: as câmeras serão cada vez menores.

Suportes da Polaroid Cube: baratos, estilosos e práticos

A Polaroid Cube vem com a proposta de ser uma câmera de baixo custo (US$ 99) e, assim como a GoPro, oferecer uma série de suportes bacanas. A Hero 4 Session, levando em conta todo o apelo da marca, será vendida a salgados US$ 399.

O império GoPro terá condições de manter sua hegemonia no segmento? Acompanhemos as cenas dos próximos capítulos.

O império GoPro

A reboque da invenção da primeira action camera, a GoPro se tornou uma das maiores startups do planeta, avaliada em US$ 2,3 bilhões. Atletas de ponta do mundo inteiro passaram a usar o brinquedinho para registrar suas façanhas.

No Brasil, Luigi Cani se tornou um mito colocando algumas câmeras GoPro acopladas aos seus capacetes para saltar entre prédios nas metrópoles do mundo. As redes sociais foram inundadas e cresceram junto com a audiência dos seus vídeos.

Luigi Cani é um dos paraquedistas mais renomados do mundo. Pioneiro do voo com wingsuit. Sua Cani.tv, produtora de suas aventuras, é uma referência na área. Esse ano, planeja saltar da estratosfera em voo espacial comercial da SXC.

Vamos aos fatos. O pulo do gato da GoPro foi que, para além das possibilidades do aparelho, ela ainda te ajuda a fazer AQUELAS imagens. E isso se dá por meio dos suportes para a câmera. Colada no bico da prancha de surf, no capacete, na frente do carro. Além da criação de uma mega comunidade global radicalmente engajada, com estilo de vida voltado para dividir experiências e conhecimento, associada a outras marcas, como RedBull e Oakley.

Capacetes sem uma GoPro são espécies em extinção nos dia de hoje (Frederic Le Floch/DPPI via VIPCOMM)

E esse galera foi curtindo, compartilhando, trocando informações, usando, aprendendo e testando a GoPro. Onda capaz de gerar fenômenos que servem de base para vários estudos acadêmicos. Dos surfistas de fim de semana aos mais conhecidos atletas, uma comunidade que cresceu como um cometa.

Fora do convencional, plataformas como o YouTube foram se adaptando junto com esse fluxo de conteúdo para ajudar a construir esse império baseado no user-generated content. A GoPro virou um case sobre a criação de um círculo virtuoso entre a geração de conteúdo e o engajamento da audiência.

Tecnicamente, a GoPro Hero 4 Session veio atropelando: é capaz de produzir fotos de 8 megapixels contra 6 megapixels da Polaroid Cube. Faz videos de 1440p em 30 frames por segundo ou 1080p para 60fps contra os 1080p para 30fps da Cube.

Se você não entendeu nada disso e só quer uma camera pequena pra fazer fotos e videos na piscina, na praia ou no rolé de skate, isso se torna irrelevante. Até parece que alguém pensa em preço ou em recursos quando está comprando um sonho. Ou o passaporte para se tornar um herói.

E a GoPro, vendedora desse passaporte, ruge à moda Darth Vader: “Não me obrigue a destruí-lo”.

Qual câmera você ficou com vontade de comprar: GoPro Hero 4 Session ou Polaroid Cube?

Grande Angular é a sessão do Trombone dedicada a abordar o universo da fotografia. Nosso ponto de partida é o Rio de Janeiro, a cidade mais fotogênica do país, que também passou a ser a mais fotografada quando a tecnologia digital habilitou todos nós a tirar boas fotos. Publicamos textos sobre trabalhos marcantes, lançamentos, equipamentos, curiosidades, entrevistas e ensaios.

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Daniel Ramalho
Trombone Media

Fotojornalista e pesquisador em fotografia, coleções, imagens, narrativas, documentação e memória social