Analista de Dados: a (nova) profissão mais sexy do século XXI
Como o Brasil verá um boom de analista de dados nos próximos anos.
Em quatro de cinco capitais analisadas, a profissão de analista de dados aparece como uma das profissões mais em alta, segundo o Linkedin. Corroborando esse levantamento, os dados do State of Data desse ano mostram que é uma profissão que continua pagando bem, principalmente para profissionais mais seniores.
A verdade é que, enquanto muitas empresas olham para IA como seu novo brinquedinho, outras menos maduras para criar e amadurecer tais produtos podem se beneficiar usando dados em um momento mais inicial da jornada: no apoio a tomada de decisão.
Some isso ao fato de muitas organizações terem tido um choque de realidade nos últimos anos ao contratar cientistas de dados. Meu otimismo me inclina a pensar que tais empresas perceberam que a entrega de valor de um cientista se torna muito lenta quando você não tem uma estratégia e governança de dados bem definida e (mais importante) comprada pelos executivos. A ausência destes criam reflexos como a falta de papéis cruciais para bons produtos e culturas analíticas, como engenheiros de dados. O fato de termos mais vagas de analistas de dados do que engenheiro e cientistas me faz acreditar que elas perceberam que é possível entregar muito valor no início da jornada do dado.
Nem IA consegue salvar uma empresa com processos disfuncionais
Existem pouquíssimas empresas que podem se dar o luxo de dizer que estão prontas para receber inteligência artificial como parte do core do seu negócio. Isso porque estas fizeram um trabalho hercúleo ao longo dos anos para chegar a esse momento com uma boa base. Estou falando de trabalhos menos sexies, mas importantes para a organização: qualidade de dados, governança, dados como uma plataforma, além de uma forte cultura de geração e consumo de dados.
Em contrapartida, a maioria dos negócios hoje no Brasil estão (1) tentando cruzar o abismo ou (2) precisando de dados mais para descrever/explicar o seu negócio do que prevê-lo em si. No primeiro cenário, tais empresas estão, literalmente, focando na sobrevivência. E, embora o conceito de MVP de Eric Ries possa se beneficiar muito de dados para mensurar um produto a fim de evoluí-lo, há pouco espaço para times de dados mostrarem todo seu potencial para negócio.
Já o segundo caso é um pouco mais propício para a chegada de um profissional como analistas de dados. Já vi empresas não terem times de dados oficialmente estruturados, mas terem analistas de dados como pares de gerentes de produtos. Não vou entrar nos detalhes dos cuidados que é preciso ter ao se juntar a uma empresa nesse nível (acompanhamento de carreira, maturidade de dados, foco em problemas complexos e não apenas em demandas ad-hoc, etc.), mas pensar em times de data analysts de forma descentralizada em times de desenvolvimento é uma forma de atuação que entrega valor para as organizações.
O melhor amigo do negócio
Antes de migrar para ciência de dados em si, trabalhei muito tempo em uma posição de analista de BI. Era a pessoa que construía fluxos, xingava bancos Oracle uma vez por dia e montava dashboards para executivos. O meu trabalho era muito mais executor do que planejador, e me sentia distante do negócio. Quando migrei para a área, minha primeira posição foi de analista de dados, participando muito mais da cadeia de decisão do que sendo um fazedor de query de estimação.
Estar perto do negócio te gera não apenas um sentimento de pertencimento e ownership, mas também de impacto que seu trabalho gera.
O analista de dados é um dos papéis mais importante da área de dados, pois ele é um dos que está mais próximo da ponta do negócio: a tomada de decisão. Seja uma validação de hipótese ou uma query SQL, a verdade é que o analista de dados é muitas das vezes o braço direito do tomador de decisão, a ponto de cada vez mais eles estarem inseridos dentro da unidades de negócio do que em times de dados em si.
É claro que toda esse poder e relevância pode ser a Espada de Dâmocles do analista de dados. Um gestor ou tomador de decisão pouco maduro em dados pode ver o profissional como seu criador de queries humano. Estar em um ambiente assim pode fazer o analista de dados entrar em um ciclo vicioso de apagar incêndios do dia a dia (“Faz um dashboard pra mim rapidinho?”) e o afasta de se aprofundar no negócio e abordar um problema de diferentes ângulos.
Estamos em 2024, já passou da hora de achar que só cientista de dados olham para o futuro, e que analistas de dados só olham pro passado.
Sim, no fim do dia você irá fazer dashboards e queries, mas é um trabalho seu (principalmente seu) e do seu gestor possibilitar que outras aplicações da expertise do analista de dados sejam possíveis, como validação de hipótese, avaliação de experimentos, profundidade no contexto do negócio, e até desenvolver um senso de modelagem preditiva. Estamos em 2024, já passou da hora de achar que só cientista de dados olham para o futuro, e que analistas de dados só olham pro passado.
Mercado no Brasil não será amigável (e cheio de trambiques)
Tenha certeza de algo: eu não fui o único a perceber que a posição de analista de dados será importante no futuro. Você já deve estar vendo isso sendo refletido nas suas redes sociais, com muitos cursos e formações sendo criados na área.
Vivemos um momento de pouco fluxo de dinheiro indo para as organizações, com empresas crescendo menos e investindo (muito) menos dinheiro em toda sua estrutura, incluindo times de dados. Isso significa que, mesmo com mais vagas, a régua para seleção estará mais alta e, consequentemente, mais difícil para profissionais que estão querendo entrar na carreira. Há muita oferta, mas também muita demanda. Dado isso, muitos tentarão vender fórmulas milagrosas e sonhos irreais em prazos curtos, e você precisará, mais do que nunca, estar atento a isso.
Projetos open-source para analistas de dados
Não quero terminar esse post com uma mensagem desanimadora. A verdade é que a posição de analista de dados nunca esteve tão relevante dentro das empresas, e embora a barra esteja alta para novos entrantes, existem formas de você se destacar na indústria.
Já falei em posts passados sobre a importância de participar de projetos open-source, e o impacto disso na busca por emprego, e estou fazendo minha parte em trazer algo assim para você. Recentemente, o Data Hackers lançou o site do State of Data Brazil, com os principais resultados do maior mapeamento do mercado de dados do Brasil. Uma novidade interessante é que pretendemos transformar esse site em um projeto open-source muito em breve, permitindo a você aplicar suas próprias análises, gráficos e storytelling, e sendo reconhecido por esse trabalho.
Ainda posso dar poucos detalhes sobre como pretendemos fazer, mas a melhor forma de saber quando ele estiver no ar e se beneficiar logo no início desse projeto é se inscrever na comunidade do Data Hackers. Queremos que esse projeto traga não apenas conteúdo de qualidade para as pessoas, mas também propiciar novas formas de construir seu portfólio com projetos únicos e que vão realmente te destacar. Fique ligado!
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