A Única Coisa a ser Dita

Não, não dá mais. Espero estar errado.

Marcelo Grisa
Tubo de Explosão
2 min readOct 3, 2018

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Eu tenho um peso muito grande na alma. Esse fardo se agiganta quando estou nas ruas e percebo que não tenho muito em quem confiar. Esse caixão que carrego como se fosse apenas para meu futuro uso, mas é da cidade inteira. Como uma conta que é de cinco pessoas, mas pagarei sozinho.

Pagarei com gosto pelo que faço e pelo que sou. Pelo que professo, pelo que acredito. Não posso aceitar que mesmo com todos os avisos, os desavisados não só caminhem para o abismo, mas nos arrastem todos juntos. Cansei de tentar ser a voz da razão em um mundo composto exclusivamente de seres surdos.

Quero ajudar todos aqueles que assim precisarem. Sem distinção. Sem saber se eles podem ou querem me ajudar de volta, seja com pães ou beijos. Sem medo de ser entregue na fogueira das bruxas apenas por ser quem eu sou. Sem precisar refrear minha vontade de ajudar por medo de quem ajudo.

Tenho previsto o que vai acontecer há muito tempo. Estou cansado. Digo há anos que o lobo está vendo, mas todo o vilarejo me ignora. Pelo contrário: caçoaram de mim, os meus colegas. Chamaram-me de alarmista, louco, conspiratório, pessimista. Minha mente passou do limite da exaustão várias vezes. Sobrevivi porque minha esperança é de exista algo depois do que virá.

Eu bem que tentei avisar. Os discípulos dos cavaleiros do último apocalipse virão, e não há muito o que fazer para impedi-los. Não importa qual seja o rei, mas sim aqueles que lhe defendem o trono. Estes mesmos representantes haverão de empalá-lo em praça pública, expor seus restos mortais e marchar rumo à destruição do grande reino. De dentro para fora, como certa vez já aconteceu.

Cuidem uns dos outros. Façam o seu melhor. É o que nos resta.

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Marcelo Grisa
Tubo de Explosão

Jornalista, quadrinheiro e feiticeiro. Edita o Tubo de Explosão, está no site Terra Zero e integra o podcast Por Trás da Máscara (PTdM).