Jornalismo Oculto, Oculto Jornalismo

Porque objetivo e subjetivo podem ser um só.

Marcelo Grisa
Tubo de Explosão
5 min readDec 12, 2018

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O Ocultismo em geral, em sua aplicação mágicka, não tem muita coisa objetiva. Situada diante de quaisquer entidades, divindades e/ou servidores que você queira nomear, ela é uma prática pessoal. Mesmo em ordens de magistas ou em desenvolvimentos religiosos, a experiência e o uso do sagrado para melhorar a vida dos indivíduos é bastante subjetiva.

O Jornalismo, por outro lado, preza pelo relato e explicação daquilo que é perceptível na realidade objetiva — ou no que for mais próximo disso. Há valores subjetivos, pois cada profissional tem sua visão de mundo. Entretanto, há regras éticas, linguísticas e materiais para a sua aplicação enquanto técnica de reprodução social dos fatos que, acredita-se, tenham interesse público.

O que duas disciplinas tão distantes uma da outra haveriam de ter em comum? Seria possível um Jornalismo Ocultista?

Vejam bem, não estou falando de fazer um site de notícias sobre ordens mágickas, ocultistas famosos e editoras mais ou menos dedicadas ao tema. Isso, de certa forma, existe por aí. De formas bastante fragmentadas, mas existe. Está nas redes sociais, e mais na forma de assessoria de imprensa das personalidades, grupos ou empresas publicadoras.

Tem horas que as coisas ficam… Estranhas, não?

Seria possível, portanto, usar a experiência do oculto como forma de praticar Jornalismo? Claro que há. Capirotagem pode ser usada para achar fontes, revelar aspectos não verificados da fala de alguém, ou quem sabe até fazer aquele detalhe que te falta para poder afirmar a prática de uma injustiça de forma categórica.

Mas esse é tão somente uma forma de fazer Jornalismo Ocultista. Uma que é provável que, apesar de funcionar, pode lhe colocar em situações difíceis no momento de explicar que a informação não foi tirada do orifício anal. Você não quer ter que explicar como funcionam sigilos e servidores para seu editor profano, acredite.

Jornalismo Ocultista também expressa, em sua escrita, a ordem de inferência e ingerência de uma disciplina na outra. Ou seja: produzir material jornalístico fazendo uso da mágicka como técnica complementar. Essa, meu caro, não é a única forma.

Resta óvbio que, assim como é possível subir e descer pelos caminhos da Árvore da Vida, é cabível — talvez até necessário — que se realizem experimentos mágickos guiados sob a égide do Jornalismo. Capirotagem jornalística, portanto.

No exemplo que quero mostrar, o foco seria o Tarot, mas pode ser usado para qualquer outro oráculo da sua preferência.

Primeiro: pense nas perguntas que irá fazer, ou que gostaria de fazer, para esse método oracular. Anote-as em uma folha ou no seu Diário Mágicko (você não tem um?). Perceba quantas palavras elas têm. O quão vagas ou específicas são. A quais assuntos se referem. Se preferir, estabeleça esses tópicos em separado.

Segundo: em uma página diferente, insira as seis perguntas básicas da forma do lead jornalístico. São elas o chamado 3Q+COP, pelas iniciais:

QUÊ
QUEM
QUANDO
COMO
ONDE
PORQUÊ

Terceiro: faça a comparação entre as perguntas e essas palavras. Quantas delas estão nas suas perguntas? Com que frequência? Quais perguntas não usam nenhuma delas? Anote, se preferir, para comparações com iterações futuras deste mesmo experimento.

Então, quarto: MUDE. SUAS. PERGUNTAS. Aquelas que não têm nenhuma das 3Q+COP, tente alterá-las para que tenham.

A questão aqui é simples. Trata-se de alterar a forma como se pergunta as coisas. Muitas perguntas tentam, no desespero dos questionadores, trazer sua resposta embutida. “Eu vou conseguir aquele emprego?” denota que você acha que vai ou não conseguir ele antes da consulta. “Tal coisa vai dar certo?” pode inferir que você não acredita de verdade nisso.

As palavras têm poder. As palavras nos entregam. Não responda suas próprias perguntas antes de abrir as cartas. Foque em formas mais objetivas e tão isentas de julgamento da sua própria situação quanto possível. “Como posso conseguir aquele emprego?” é uma pergunta melhor, assim como “O quê acontecerá em tal coisa?”. Perguntas livres das amarras de quem pergunta. Mistérios desdobrando-se em si mesmos.

O jornalista não é aquele que sabe trazer as respostas ao público, mas sim quem aprende a fazer as melhores perguntas. Há algo de científico nisso. Apesar de a Comunicação Social, ramo maior de estudos no qual o Jornalismo está inserido, ser considerado Ciência Social Aplicada, isso não torna menos possível o uso de dados empíricos nas análises interpretativas que gera em ambientes acadêmicos. Ao contrário do que alguns ignorantes por aí pensam, inclusive.

O ocultista e o jornalista têm outro grande ponto em comum. Ambos buscam enxergar a realidade em sua plenitude, apesar de o conceito de “plenitude” ser diferente para ambos. Há um véu de esquecimento neste plano não apenas com aquilo que é fisicamente invisível, mas para com o que é socialmente invisível. Histórias, pessoas e problemas que não podem ser vistos por aqueles sem o devido treinamento. Treine o seu olhar, sempre.

Pois bem. Acabo por aqui. Já estou neste texto há muitas linhas. Sintam-se em casa para pedirem mais (ou menos). Lá vou eu, de volta a minhas investigações.

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O livro tem 153 páginas e fala sobre o uso da metalinguagem no Homem-Animal, da DC Comics, quando escrito pelo renomado escritor escocês Grant Morrison, no final dos anos 80.

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Marcelo Grisa
Tubo de Explosão

Jornalista, quadrinheiro e feiticeiro. Edita o Tubo de Explosão, está no site Terra Zero e integra o podcast Por Trás da Máscara (PTdM).