Superman na Direção do Amanhã

Bendis amadurece o Superman como ele já precisava há décadas

Marcelo Grisa
Tubo de Explosão
4 min readFeb 13, 2020

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Desde maio de 2018 o roteirista Brian Michael Bendis traça uma campanha de expansão do personagem em várias edições. Com mudanças que vão das mais criticadas até outras bastante positivas, a mitologia do personagem vem recebendo adições interessantes nos quase dois anos de publicações escritas pelo escritor.

Dentre os lançamentos deste dia 12 de fevereiro, está Superman: Heroes #1. Na one-shot, que terá prosseguimento em outra com o subtítulo Villains, o Universo DC reage a uma mudança grande no comportamento do kryptoniano em relação à Terra: a revelação de sua identidade secreta. De Jimmy Olsen até a Liga da Justiça, passando pelo povo comum de Metrópolis, todos agora sabem que Clark Kent e o Superman são a mesma pessoa.

E isso muda tudo.

Clark Kent e Peter Parker, o Homem-Aranha da Marvel, sempre tiveram em comum a proteção de suas identidades secretas ao custo de práticas profissionais anti-éticas. Parker tira fotos de si mesmo, enquanto Kent faz matérias e até coloca (colocava) suas próprias falas nas reportagens sobre suas aventuras.

Entretanto, eu sempre consegui entender o lado do Aranha. Ele não consegue viajar tão rápido para proteger entes queridos, e tem a opinião pública contra si. Além do mais, ele nem assina matérias, ele só faz fotos e não tem formação profissional que o tornasse consciente da ética necessária. O Azulão, por outro lado, é alguém que preza pelas coisas feitas com cuidado, do jeito certo, e sendo franco, sincero e verdadeiro. Mais do que isso: é um jornalista completo, trabalhando há muitos anos no maior jornal da maior metrópole dos EUA em seu universo.

Superman chamou uma coletiva de imprensa para a revelação em frente ao Planeta Diário.

O Superman não tem motivos para continuar mentindo para todo mundo há décadas. É uma evolução natural que o segredo acabe. Editorialmente essas coisas demoram mesmo, e o Superman passou por reestruturações recentes. O movimento atual pode ser tão grande quanto as mudanças dos anos 80 para o Batman, com a aposentadoria de Dick Grayson como Robin, o surgimento dele como Asa Noturna, e a aparição de Jason Todd, o que revelou diferentes facetas do Homem-Morcego na relação com seus filhos adotivos.

Não foi sempre tão bom assim…

Depois da passagem de Dan Jurgens e Peter Tomasi em Action Comics e Superman, respectivamente, Brian Michael Bendis assumiu as duas revistas. A mexida foi uma jogada ousada da DC Comics, que contratou o profissional a peso de ouro de sua maior concorrente, a Marvel. Até então, e desde o começo da iniciativa DC Universe: Rebirth, Jurgens e Tomasi vinham reestruturando o personagem — descobriu-se que havia sido separado em dois, além da nova dinâmica com o filho Jon e a convivência entre cronologias diferentes.

Quando tudo foi entregue para Bendis, portanto, o Superman estava encaminhado. Como o roteirista vinha de uma má fase na Marvel, com cada vez mais revistas e roteiros cada vez piores, muitos fãs do Azulão ficaram desconfiados… E com razão, num primeiro momento.

Com artistas renomados, mas um vilão completamente genérico, a minissérie semanal Man of Steel foi um começo ruim. Pior que isso: Jon viajara com o avô Jor-El para o espaço e a cueca tinha voltado a estar por cima da calça, quando o design da fase Jurgens/Tomasi havia sido elogiado por ser um mix elegante entre décadas passadas e Os Novos 52.

Além disso, apesar da Máfia Invisível ser um ótimo antagonista em Action Comics, a volta de Rogol Zaar não melhora muito as primeiras edições de Superman. Apenas quando acontece o agridoce retorno de Jon Kent as coisas melhoram um pouco. Mas só um pouco: agora ele tem 17 anos, por conta de uma distorção temporal que o mandou para a Terra-3 de Ultraman.

A série melhora com a introdução da criação dos Planetas Unidos, o que faz com que a Legião dos Super-Heróis apareça em 2019 para convocar o seu criador para passar um tempo com eles. Mas não é com Kal-El que eles tem essa conversa… Mas sim Jon. No fim das contas, o garoto não fica muito tempo na revista, e dá a nítida impressão de que Bendis não sabe bem o que fazer com ele ali, junto do pai. Pelo menos deu importância ao novo Superboy — o outro, o Conner Kent dos anos 90 e 2000, voltou em sua Justiça Jovem.

O Veredito

Superman e Action Comics não são as melhores revistas do mundo sob a tutela de Bendis. Entretanto, os arcos mais recentes demonstram que o roteirista está entendendo o que fazer com a franquia nos quadrinhos. A fase atual promove desenvolvimentos muito saudáveis e condizentes com o personagem octagenário. Leiam sem medo!

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Marcelo Grisa
Tubo de Explosão

Jornalista, quadrinheiro e feiticeiro. Edita o Tubo de Explosão, está no site Terra Zero e integra o podcast Por Trás da Máscara (PTdM).