Floripa Slow Fashion

Como o consumo consciente vem conquistando Florianópolis

Portal Tu Dix?!
tudix
7 min readJul 5, 2019

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Por Guilherme Tomazoni Felipe

A avidez por produtos novos, consumir o que está na moda e daqui a seis meses tudo aquilo já ser brega é o que move o fast fashion. Com gigantescas campanhas publicitárias, as grandes marcas dizem o que é tendência e o que não é. Mesmo com um armário cheio de roupas muitas pessoas falam “não tenho nada para vestir”.

E, de fato, não tem nada para vestir. Aquilo que você comprou na última estação já está brega. Cores, cortes e modelos feitos para durarem pouco. As marcas, que planejavam duas coleções de roupa por ano, a primavera-verão e outono-inverno, renovam suas prateleiras, em média, a cada duas semanas. Aí você se vê na necessidade de renovar o guarda roupa. E esse ciclo não tem fim.

Não é a toa que a indústria da moda lucre tanto, de acordo com o Instituto Francês de Moda, o setor fatura 154 bilhões de euros por ano. E de acordo com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), a indústria têxtil fatura 140 bilhões de reais, se tornando a quinta maior indústria no cenário mundial. Porém, esse lucro tem o seu preço.

Fotos por Frédéric Soltan e Yasya Minochkina. Montagem por Guilherme Tomazoni Felipe

Entendendo o Fast Fashion

Por experiência própria, uma das partes mais empolgantes na hora de se costurar é a compra do tecido. Ao entrar na loja você já é recebido pelo cheiro característico, que acho maravilhoso. A escolha do tecido envolvem vários fatores, qual a peça que se quer confeccionar, se precisa de elasticidade, movimento, caimento mais justo ou largo, tudo se leva em consideração. Mas de uma coisa não se pode fugir: o preço.

Ao optar por tecidos de boa qualidade, com fibras naturais, encarece o produto, o metro custa, em média, 20 reais. Para se fazer uma camiseta comum se usa pouco mais de um metro de tecido, fora toda a mão de obra, equipamento, custos adicionais e lucro. É impensável que uma camiseta chegue ao consumidor por 20 reais.

Mas aí o capitalismo falou mais alto. Para uma camisa chegar ao consumidor final ela passou por alguns processos para deixar o produto mais barato: tecidos sintéticos e produção em países subdesenvolvidos com grande mão de obra disponível.

Gráfico mostra como funciona a mão de obra em Bangladesh

O principal alvo são os países asiáticos, onde os trabalhadores trabalham em situações precárias, por várias horas por dia. Em 2013, um prédio em Bangladesh desabou onde funcionavam várias oficinas têxteis, deixando quase 1000 mortos.

Os problemas não se restringem à exploração de mão de obra e tecidos sintéticos. O meio ambiente sofre com o uso de pesticidas em plantações de algodão que alimentam o setor têxtil. A indústria recorre ao poliéster para a produção de tecidos sintéticos. Esses tecidos demoram para se decompor, tem pouca durabilidade e dificilmente podem ser reutilizados, trazendo um grande impacto ao meio ambiente.

Como explica Cariane Weydmann Camargo, professora de moda da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), “Os consumidores precisam ser conscientes que vivemos num mundo com recursos finitos. Se não buscarmos alternativas menos impactantes, em breve teremos graves problemas ambientais. Além disso, precisamos ter consciência sobre o que e quem estão por trás dos nossos produtos.”

Gráfico mostra os danos ambientas que a indústria fashion traz

O slow fashion surge como um modo de consumo mais sustentável e consciente, indo de contramão aos grandes conglomerados de roupa. O método fast fashion de produção é globalizado, não leva em consideração aspectos locais, desvalorização de mão de obra, originalidade e qualidade das peças.

Ao adquirir peças slow, há todo um ganho positivo, o cliente que adquire uma peça exclusiva, quem produziu a peça vê seu trabalho sendo valorizado e lucrando com isso, a mão de obra local se vê valorizada, os impactos ambientais são reduzidos.

Cariane nos conta que “O primeiro passo é se informar, buscar saber a origem dos produtos: quem fez, quais processos, quais materiais. Também precisamos refletir sobre a real necessidade desse consumo. É importante priorizar o consumo local, feito em pequena escala, com matéria prima orgânica ou reciclada. Em resumo, consumir consciente dos impactos, positivos ou negativos, gerados.”

Não há uma utopia — ainda. As peças slow são mais caras, mas isso tem uma razão, os cortes atemporais poderão fazer com que essa peça tenha uma vida útil bem maior que outras peças, a qualidade dos materiais é maior, a mão de obra não é explorada nesse tipo de produção. Porém, uma alternativa é conhecer brechós, assim, reduzindo o consumo de roupas novas, valorizando aquelas que estão em bom estado e rendem mais alguns anos de uso.

Vale lembrar da originalidade da peça Slow. Quando compramos em fast fashion, adquirimos os mesmos produtos que o outro lado do mundo, mas no modo de produção slow temos uma peça que leva todos os aspectos culturais e matéria-prima de uma região.

“Todo produto tem uma história, precisamos consumir boas histórias, e apoiar marcas e projetos que realmente acreditamos e queremos que prospere”

Desapegue Floripa

O Desapegue é um projeto que tem sua matriz em Vitória — ES, a loja de Florianópolis é a loja piloto dessa ideia. As peças surgem por meio do Clube Desapegue, onde pessoas afiliadas trazem as peças para a loja, o pessoal faz uma curadoria cuidadosa para que as peças tenham, de fato, cara de nova, no fim a cliente fica com 50% e a gente com 50%.

Por meio da loja colaborativa tem como foco produtos de marcas locais, que produzem em pequena escala. Esses produtos seguem a mesma linha do brechó de roupas, a reutilização, seja por meio de copos, talheres, produtos de beleza e higiene. Há toda uma preocupação da cadeia, para que a pessoa entre no projeto e entenda que é consumo consciente como um todo.

Elas destacam como principal desafio do consumo consciente é o que em nosso país é feita uma correlação entre consumo e poder financeiro. Aqui fazem todo um trabalho para mostrar que roupas de brechó são legais e estilosas, e que não demonstra falta de dinheiro.

Onde: R. Lauro Linhares, 1281 — loja 2 — Trindade.

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A_GALLERIA

O trio de designers Aline Vieira, Elaine Silveira e Ana Terra Vignes decidiram abrir sua loja no coração de Florianópolis. A loja conta com produtos de cada uma delas, Aline Vieria produz biquínis e lingeries, Elaine roupas e Ana acessórios. A produção pequena e em pouca escala vai de encontro ao slow fashion, trazendo essa opção para quem quer comprar aqui em Florianópolis. Ampliando ainda mais o cenário de produtores na capital catarinense, a loja ainda traz exposições de arte frequentes, trazendo um espaço lindo e aconchegante.

Onde: Rua Tiradentes, 153, Centro.

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Varal Camisetas

Há 15 anos em Florianópolis, Varal já conquistou seu espaço em quem quer consumir conscientemente. Mais uma lojinha no centro de Floripa que encanta quem visita por seu estilo Rock’n’roll. O carro chefe, camisas super estilosas, mas também tem xícaras, acessórios e brechós. O consumo slow fashion vem crescendo em Florianópolis, ainda mais para quem vem acompanhando esse crescimento há uma década e meia.

Onde: Parthenon Center II — R. Ten. Silveira, 111

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PARA SABER MAIS

Instagram

O perfil da Modefica traz informações diárias da importância do consumo consciente, indo muito além da moda. Com vídeos e infográficos bem produzidos, vale a pena segui-los.

Ainda no Instagram, temos a Feirinha de Quem Faz. Essa feira reúne vários artistas que produzem sua arte de forma slow. Procuram reunir pessoal da capital manezinha e arredores, sempre de olho em trabalhos incríveis. Ela acontece de vez em quando, por isso é bom ficar de olho nas redes sociais para não perder nenhum evento.

Documentário

The True Cost — Neste documentário impactante, temos noção de como a indústria da moda age, quais são seus malefícios e a importância de se consumir conscientemente.

Aplicativo

O aplicativo Moda Livre traz de forma simples as classificações das principais marcas de varejo de roupa no Brasil. A classificação se baseia por meio de denúncias feitas ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) do uso de mão de obra escrava, tendo acesso a cada denúncia relativo a cada marca.

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