Nina Hagen, Rod “Stuart” e seu dono pescador

Portal Tu Dix?!
tudix
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5 min readMay 10, 2019

Um dia na vida de dois roqueiros praianos. De quatro patas.

Rod “Stuart” e Nina Hagen. Crédito: Reprodução

Por Gabrielle Schardosin, Mariana Passuello, Saori Almeida e Sofia Dietmann

U m dia nublado e sem vento. Essas são as características de um bom dia para pescar na Prainha. Logo de manhã, pelas sete horas, os pescadores tiram seus barcos e redes de dentro dos ranchos e vão até a ilha das Vinhas — logo ali — no esforço prazeroso de conseguirem alguns bons peixes e camarões.

Por esse mesmo horário, deitados na areia e aproveitando a calmaria, os cães Rod “Stuart” e Nina Hagen observam Murilo Bezerra do Nascimento pintar, em tinta azul, o nome que escolheu para o rancho que os três chamam de lar: o “Rancho do Pôr do Sol”. Murilo é o companheiro humano dos dois cães.

Nina descansa enquanto Murilo guarda a escada. Ele havia organizado o rancho no dia anterior para nos receber. | Foto: Saori Almeida

“É que bem ali tem um pôr-do-sol lindo, já viram?”, Murilo diz para Mariana e eu. Duas repórteres com câmeras ao pescoço. Em outra visita anterior, havíamos prometido voltar naquele dia para almoçar. A ideia era fazer peixe frito e camarões.

Rod é o mais ativo, brincalhão e sorridente. Tem pelagem caramelo, “parecido com um Dingo australiano”, segundo Murilo. Aproxima-se rápido com seu sorriso canino mostrando todos os dentes. Enquanto isso, Nina vem num passo preguiçoso, despreocupado, espreguiçando-se e deitando novamente na areia. Ou apenas tentando deitar: Rod decide brincar e não descansa até fazer com que a irmã de criação corra atrás dele.

Quantos anos o Rod têm?

O Rod? três anos e oito meses ele tem.

Ah, então ele ainda é um filhote.

Sim…. A Nina que é mais velhinha. Tá comigo há dois anos já.

Você tem ideia de quantos anos a Nina deve ter?

Ah, uns nove anos já…

Supõe-se que Nina Hagen tenha nove anos, já que chegou ao rancho de Murilo depois de bem vivida. Abandonada no deck da Prainha como tantos outros cachorros, ela custou a conquistar o coração do pescador. “Foi uma semana ou mais que ela ficou insistindo, insistindo [para entrar no rancho]… Aí, numa noite chuvosa, madrugada, ela apelou. Ah, não tive dúvida, né? [Disse] ‘Entra de uma vez!’. Hoje, eu não quero que ela saia mais.” conta Murilo, rindo da lembrança.

Nina Hagen. | Foto: Saori Almeida

Contudo, Nina não foi a primeira a chegar. Rod “Stuart”, o cachorro com nome de roqueiro, chegou um ano antes para tirar a solidão de Murilo. “Uma guria que eu conheço a mãe dela chegou pra mim ‘Vem ver que coisa linda!’. Aí vamo lá na casa da vó dela… cheguei lá, aí vi o Rod, desse ‘tamainho’ assim, um bichinho de pelúcia”.

Mesmo com receio de não ter condições de cuidar de um animal, devido ao local onde mora, Murilo cedeu ao apelo de Sofia, a menina, de ficar com o filhote. Ela queria manter contato com o cachorro. “Eu não me arrependo não. Até agradeço a ela por ter me dado ele, porque ele me tirou a solidão que eu tava.”

Batizar o filhote não foi um problema. Daiana, mãe de Sofia, já tinha escolhido um nome: Rod Stewart, em homenagem ao cantor e compositor britânico de voz rouca que fez fama no final dos anos 60. Por acaso, o cantor favorito dela.

Bah, Murilo, se tu quiser mudar o nome, ele tem nome já…

Ah é. Qual é?

Rod “Stuart”.

Oh, tá lindo!

Rod “Stuart” espera ansioso o passeio de caiaque. | Foto: Saori Almeida

Nina, que quase foi Tina Turner, recebeu seu nome a fim de formar a dupla de roqueiros inseparáveis. “Foi bom pra ele [Rod], que ajudou ele a se desenvolver, né? Até aprender a se defender, porque não sabia de nada […] Ela é 'jiu-jitsu', ela botava ele no chão. Hoje em dia ele já sai dela…”.

A cadelinha roqueira e calma também tem outros gostos musicais. Murilo conta, enquanto Nina vai até a casa vizinha cumprimentar outro amigo canino, que ela costumava acompanhar o “pessoal do morro logo ali” quando tinha baile funk. “Roqueira funkeira ela”, diz.

No meio da manhã, Murilo nos convida a andar de caiaque. Àquela hora, a água estava praticamente parada. O pequeno barco tem lugar para apenas uma pessoa, mas Rod já se prepara, todo animado. Ele pula na proa (parte da frente da embarcação) para ir junto. “Sai daí, Rod! Sai!”. Mas o cão ignora a ordem, olhando para a frente e esperando pelo passeio.

Dentro da água, Rod mantém sua posição, espiando para os lados de forma calma, sem pressa, como se soubesse o que esperar do momento. Sempre sorrindo com sua língua jogada para o lado, mexendo um pouco as patas uma vez ou outra, Rod claramente aproveita o passeio, observando a vista e parecendo pensativo.

Enquanto isso, na areia grossa e fofa, Nina espera com as patas bem secas e o focinho no alto. “Ela não gosta de água. Ele vai, nada, mas ela não gosta”, Murilo explica. A cadelinha contempla com naturalidade a volta do caiaque para terra firme. Rod pula para fora da embarcação, satisfeito com o passeio.

Almoçamos peixe frito e camarão. Depois da recusa de um café, Murilo se recosta na geladeira marrom e pega o violão para um momento de música. Nina está em sua cama — uma bacia verde — quase pegando no sono. Rod entra no rancho e se deita, observando Murilo. É impossível não sentir o clima do momento: íntimo e em família.

Para conhecer mais a rotina de Nina, Rod e Murilo, não deixe de conferir a vídeo-reportagem “Aderiva — A vida serena da praia perdida” aqui no TuDix?!.

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