A abelha e o segredo da escrita

Como escrever bem.

Matheus Galvão
Pela Metade
3 min readOct 16, 2018

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Um dia desses comecei a ler um livro sobre como escrever bem. Ele parecia muito bom e eu fiquei empolgado. Comecei a ler e quando percebi já estava na página 10. Aí uma abelha entrou no quarto. Eu tenho pavor de abelhas.

Quando era pequeno uma delas entrou no meu nariz e eu fui parar no hospital. Fiquei três dias lá e precisei de uma microcirurgia. Na mesma hora em que a vi entrando pela janela e ouvi o zumbido eu me joguei no chão.

Ouvi o estalo do livro e vi uma página se dobrando. Fiquei irritado. Não gosto quando um livro fica amassado. Saí me arrastando até a porta do quarto. Corri para a cozinha. Não sei o porquê mas me lembrei que abelhas não gostam de fumaça. Acho que ouvi alguém falar isso em algum programa de tevê. Um desses documentários idiotas.

Acendi um pedaço de papel e andei pela casa espalhando fumaça. Ela — a abelha — estava na quina da televisão. Ao sentir que eu me aproximava com toda aquela fumaça ela voou. Acontece que ela voou em minha direção e eu, desesperado, me joguei no chão e derrubei o papel queimando em cima do sofá.

Não tinha percebido, mas havia um vidro de acetona sobre ele. E aí foi um estrago. Em um segundo uma labareda se formou. O fogo se alastrou e assustou até os gatos. Eu acreditei que ainda era possível controlar.

Corri pra cozinha e enchi uma panela de pressão com água. Senti que estava muito pesada e que não conseguiria usá-la. Então peguei uma garrafa de Coca-cola, abri e joguei sobre o sofá. Nada de apagar. E ainda fiquei puto pelo desperdício. Enchi novamente e joguei a água.

O fogo deu uma diminuída mas nada que o extinguisse. Ouvi a vizinha desesperada gritando fogo, fogo, lá fora. Lembrei que tinha deixado o livro no chão do quarto e por um segundo quis pegá-lo. Mas já era tarde.

O fogo era incontrolável. Ele chegava ao teto. Alguém invadiu o apartamento e me puxou. Foi só aí que notei que a fumaça estava intensa. Não sei como consegui permanecer tanto tempo lá dentro.

O Almir, o porteiro, ficava me perguntando se eu estava bem, se tinha mais alguém. Eu não respondia nada. As gatas já estavam fora. Pensei em pedir para ele pegar o livro, mas seria a maior besteira.

Juro que vi a abelha sair pela porta. Descemos a escada correndo. Vi um dos vizinhos subindo com um extintor. Talvez ele conseguisse pegar o livro, pensei comigo. Mas era tarde. O meu apartamento ficou completamente destruído. Graças a Deus, o prédio não teve estragos. Tudo saiu bem.

Voltando ao livro. Nada disso foi verdade. Só quis colocar em prática a lição de ouro dele. Eu que tirei: escreva uma palavra atrás da outra. Esqueça os adjetivos e advérbios. Eles são desnecessários. Simplesmente escreva. E depois reescreva.

Eu não vou reescrever porque faltam 5 minutos para a meia-noite e eu preciso publicar.

Mas a lição é essa: escreva! Uma palavra atrás da outra. Uma frase depois da outra.

Se você chegou até aqui, é porque a dica funciona.

Boa noite!

O livro é “On writing” do William Zinsser.

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